11 março 2013

4. You Make Me Love You - Capítulo 2


Apontando culpados



Belieber's POV

  
Depois da cena incrivelmente humilhante que eu fora obrigada a assistir, não prolonguei o café da manhã. Na verdade, senti vontade de fugir da cozinha no exato momento em que os dois pararam de se beijar e, então, Manuela notou que não estavam sozinhos e com um sorrisinho sem graça, nos cumprimentou com um “bom dia” – como se todas as circunstâncias estivessem completamente normais. Ainda assim, eu me mantive ali, apenas com o único intuito de não preocupar Chaz, com uma saída dramática.

   Assim, terminei o meu pequeno pedaço de bolo, ouvi alguns elogios sobre a mesa bem arrumada, aguentei longos minutos de realidade manipulada e, na primeira oportunidade, me retirei. Felizmente, Chaz prometeu que daria conta da louça, alegando que eu já tivera trabalho demais em preparar tudo, mas nós sabíamos que se tratava bem mais do que apenas isso. Com a pressa de sair dali, não percebi o quanto parecia falta de educação o fato de eu sair da cozinha, exatamente no momento em que Pattie chegava. Porém, no silêncio do “meu” quarto, foi mais fácil chegar a essa conclusão, só que tarde demais.

   O cômodo que temporariamente me pertencia era o mesmo no qual eu havia ficado na primeira vez em que estivera naquela casa, mas isso não tornava nada melhor. Pelo contrário, embora agora eu passasse mais tempo ali do que qualquer outro lugar, ultimamente, eu me sentia muito mais sozinha e magoada, quando estava entre as quatros paredes seguras daquele quarto. Não havia uma explicação plausível, apenas liberdade e silêncio suficiente para que a dor se expandisse em meu corpo.

   Aquele dia não estava sendo diferente. Eu me tranquei no quarto mais uma vez e apenas peguei todos os meus cadernos – diário e também aqueles em que eu escrevia músicas ou texto aleatórios – e deixei que as páginas tivessem um longo encontro com o grafite de um lápis qualquer. Mas, ao contrário do que eu esperava, ler o que eu mesmo escrevia não me deixava muito mais animada ou mesmo aliviada.

   Me frustrava saber que eu estava escrevendo músicas tão verdadeiras para serem dadas a outros cantores. Aliás, isso poderia soar facilmente como egoísmo, mas não era. Era apenas insatisfação por saber que meus sentimentos – que eu nem queria sentir – seriam cedidos a outras pessoas. Mas, ainda assim, era o melhor jeito. Eu nunca me permitiria lançar um álbum repleto de tanta depressão. Seria menos doloroso cometer suicídio do que contaminar meus fãs com emoções tão desprezíveis.

   Pensar em trabalho era bom, me distraia, mesmo que eu soubesse que ainda estava longe de voltar a isso. Porque – embora nós estivéssemos no começo de um novo ano – eu não estava em condições de entrar em um estúdio e começar a gravar para, meses depois, ter que fingir sorrisos e expressões de felicidade ao filmar novos clipes ou mesmo começar uma nova turnê. Apesar disso, eu sempre reservava alguns minutos do meu dia para pensar nas coisas que eu faria “quando voltasse a trabalhar”. Era apenas mais um amontoado de ideias ilusórias no meio de tantas outras.

   Por falar em ideias ilusórias, a maior delas nunca me abandonava, apesar de não ser bem um pensamento, mas um desejo. Um desejo desenfreado de poder abrir os olhos na manhã seguinte e perceber que tudo estivera apenas dentro da minha cabeça, criativa o suficiente para criar um sonho (leia-se: pesadelo) tão longo e real, dentro de apenas algumas oito – talvez, dez – horas de sono. Mas, dia após dia, eu vinha esperando essa manhã mágica e ela nunca acontecia.

   Soltei o caderno que segurava por um minuto, quando percebi que o final daquele pequeno verso em que eu estava acabaria por me levar as lágrimas e, sinceramente, depois de tantos meses chorando, eu já não aguentava mais. Assim, logo que minhas mãos ficaram vazias, peguei o meu celular em meu bolso. Eu não sabia para que iria usá-lo, mas não queria ter que sair do quarto, assim como não podia me permitir ficar sem fazer nada. Porque ficar sem qualquer distração simplória significava pensar e pensar significava sofrer. Aliás, ultimamente, até a minha respiração tem parecido dolorida, então já não fazia mais tanta diferença.

   Passei por todos os meus contatos salvos em meu celular, com a certeza de que eu não iria ligar ou mandar mensagem para nenhum. Apenas fazia parte de mais um ritual de tristeza. Eu procurava a lista de todos os meus amigos e chegava à conclusão de que nenhum deles me entenderia como eu queria. Nem aquele “Lucas” no meio de tantos outros nomes com “L” sabia como era, embora seu esforço fosse tocante.

   Apesar disso, precisei ser bastante forte para resistir à vontade de ligar para o meu melhor amigo. Mas não o fiz. Algo em mim – uma parte que se importava mais com as outras pessoas – sabia que não era o certo a fazer. Lucas deveria estar, em uma hora como essas, no Brasil, com sua família, curtindo uma praia, talvez. Seria um incrível egoísmo perturbá-lo com os meus problemas, após ele já ter feito tanto esforço por mim no passado. Eu me recusava a ser mesquinha a esse ponto.

   Sem mais opções, fui atrás das únicas pessoas no mundo que poderiam me distrair e fazer melhorar, sem sequer saberem o que estava se passando. Entrei no meu twitter e fiquei pensando em algo que eu pudesse tweetar para deixar, pelo menos, o dia de outra pessoa melhor. Não consegui encontrar nenhuma ideia decente que não soasse como uma frase já pronta e idiota. Assim, busquei por algo que pudesse fazer o meu dia melhor, nas menções:

   “Saudades de ver você. Promete que não vai nos deixar, que estará sempre aqui? Nós só queremos ver você sorrir!”

   Hesitei ao ler esse tweet. Eu não tinha consciência de que o meu estado emocional estivesse tão óbvio assim. É claro que eu sabia que havia especulações sobre o término do meu relacionamento com Justin, afinal, o simples fato de eu não estar usando mais um estúpido anel há algumas semanas tinha formado uma revolução que questionava como andava o nosso namoro (que namoro?). Provavelmente, o fato de eu não ter sido vista muito em público, ultimamente, tornava mais forte esse “rumor” e a sensação de que eu estava passando por um mau momento. Isso era óbvio para qualquer pessoa que ficasse no mesmo lugar que eu, mas sinceramente eu não tinha noção de que estava tão claro assim para qualquer um.

   “Prometo. Você não sabia? Eu e vocês, para sempre. O seu sorriso faz o meu! #amor”

   Respondi à menina com um username engraçado e fofo, usando as maiores verdades que eu poderia dizer. Era claro que eu nunca deixaria ninguém. Aliás, o meu medo era que eles me deixassem pela minha falta de atividade. Ninguém sabia, mas meus fãs eram a última coisa que eu ainda não tinha perdido. E pensar nisso fazia com que um meio sorriso nascesse no canto de meus lábios. Apenas aquele pouquinho de amor fazia com que as feridas em meu coração ardessem suavemente e, por algum motivo, eu considerava isso uma boa coisa.

   Passei por alguns tweets que não consegui ler direito, até que um específico em um português nostálgico me chamou atenção, no meio daquelas tantas outras expressões que fugiam da minha língua oficial. As palavras me fizeram suspirar de saudade e, talvez, só um pouquinho de arrependimento de não ter viajado para casa um pouco, enquanto ainda era possível.

   “Ei, princesa, se esqueceu do seu verdadeiro país, foi? O Brasil todo sente sua falta! Volta para gente!”

   Me assustei quando percebi que estava rindo daquilo, mesmo que levemente. Aquele pequeno conjunto de frases me fazia pensar que minha mãe tinha criado um FC para mim e, agora, me mandava mensagem para que eu voltasse para casa, como ela quisera durante muito, muito tempo. Mas eu sabia que não era tão simples assim. Os meus fãs no Brasil deveriam se sentir os mais injustiçados, já que eu, uma brasileira, deixava para viver a quilômetros e quilômetros deles.

   “Não se preocupe. Em breve, minha mãe me arrasta para casa e, durante esse período, poderíamos fazer alguma coisa, antes de uma turnê oficial, não? :)”

   Suspirei, imaginando se minha doce mãe realmente veria esse tweet e me ligaria, exigindo que eu cumprisse minha promessa nesse exato momento e voltasse para casa, agora. Bom, para ser sincera, era o que eu gostaria de fazer. Passar um longo período no Brasil, apenas com a minha família e antigos amigos – no meu mundo encantado, os papparazzis permitiriam isso – era algo que eu adoraria desfrutar.

   Porém, minha preocupação se recusava a deixar Justin, depois de tudo o que tinha acontecido. Mais do que isso, o meu orgulho também me impedia de deixar tudo para trás. Eu não poderia ir embora, permitindo que o meu namorado... Bem, meu ex-namorado ficasse com a minha melhor amiga. Eu não ia entregá-lo assim em uma bandeja com um cartãozinho para que ela aproveitasse sua companhia.

   Continuei a passar por alguns tweets, os quais retweetei. Eu já estava me sentindo um pouco mais leve, quando ao atualizar minhas menções, achei um daqueles clichês, que deveriam ser usuais e engraçados, devido a sua simplicidade forçada. Um garoto – pelo menos, era isso que o user dava a entender – havia me feito a seguinte gentileza:

   “Oi. Como está você?”

   Suspirei, encarando aquela pequena mensagem. Como algo poderia ser tão simples e tão complicado, ao mesmo tempo? E, por que isso era tão complicado? Não deveria ser como qualquer outra mentira usual? Por que eu não poderia dizer simples um “Bem e você?” e fazer alguém feliz com uma resposta?

   Simples. Porque, durante todo esse tempo, eu desenvolvi algum distúrbio estranho que fazia com que eu não conseguisse mentir – nem socialmente – para os meus fãs. Em outras palavras, entre responder um “estou bem, obrigada” e dar um mortal para trás, sem me quebrar toda, era mais fácil que eu executasse a última opção, mesmo morrendo de medo. Eu não sabia o motivo dessa aversão toda a um simples desvio da verdade, mas não importava exatamente a causa. O importante é que eu não conseguiria fazer aquilo sem achar que depois eu mereceria ir para a cadeira elétrica.

   Incapaz de respondê-lo com sinceridade, voltei para a timeline. Eu sabia que não responder era errado, mas eu me sentiria infinitamente pior se fosse sincera demais e deixasse milhares de pessoas preocupadas por coisas que não eram tão importantes assim. Além disso, a minha tristeza era minha e tão somente minha. Eu não precisava de mais várias pessoas para sofrer comigo, já que isso só me faria me sentir ainda pior.

   Continuei a visualizar a timeline, lendo alguns tweets aleatórios. Na verdade, a maioria deles não se diferenciava muito do que eu achava nas menções, já que aparentemente entre mil tweets, novecentos e noventa me mencionavam. Era estranho pensar no quanto eu poderia fazer com que a atenção se dirigisse completamente a mim, só por estar ali, respondendo e retweetando algumas pessoas.

   Sem me preocupar, fiquei acompanhando os poucos tweets que não tinham o meu username incluído em alguma parte da mensagem. Seguramente, posso dizer que eu não deveria ter feito isso. Foi em mais uma simples atualização que aquela pequena frase, sendo dita por um belieber, apareceu diante dos meus olhos, provocando uma revolta dolorida em meu coração já machucado...

   “É tão bom ouvir que o Justin já recuperou completamente a memória e está bem...”   
          
   Era mesmo bom ouvir – ou ler – aquilo?

   Aquela simples e curta frase pareceu uma estaca em meu peito. Se eu fosse uma pessoa madura e com alguma integridade emocional, poderia simplesmente pensar que era apenas uma fã feliz e sem consciência da realidade que nós passávamos. Porém, eu não era assim e talvez o que eu julgava ser realidade fosse apenas uma cortina de devaneios no qual eu me afundava para evitar ver a verdade.

   Mas a realidade era simples e clara: Justin já havia se recuperado quase que completamente. Não havia mais nenhum curativo externo que fizesse acreditar que ele estivera em uma situação tão horrível há alguns meses. Suas recordações voltaram lentamente ao longo desse tempo incrivelmente longo, para mim. Porém, como toda regra tem uma exceção, tinha apenas uma coisa que Justin não conseguia se lembrar de jeito nenhum: eu. De todas as suas memórias que antes estiveram perdidas, eu era a única coisa que ainda permanecia esquecida, como se eu não estivesse presente em nenhum momento de seu passado.

   Soltei o celular sobre a mesa de cabeceira, sem nem me preocupar em desfazer o login no meu twitter. Me endireitei na cama, buscando uma posição mais confortável e, com isso eu quero dizer, uma posição onde as lágrimas pudessem ser impedidas pelo travesseiro, antes que eu me achasse patética demais por estar chorando mais uma vez, mesmo após já ter prometido parar, repetidamente.

   Tentando não me importar com uma bobagem como aquela, deixei que meu choro se prolongasse até que secasse sozinho. Porém, isso não aconteceu tão cedo, já que eu estava deixando que toda a dor do começo, de todos os dias no hospital voltasse com a mesma intensidade. Sem fazer qualquer autocrítica, permiti que as mesmas dúvidas e questões que estiveram me assombrando por tanto, tanto tempo voltassem. Por que todas as pessoas eram lembradas aos poucos, pelo garoto que eu mais amava, e eu não? Por que, não importava quantas fotos nossas lhe fossem mostradas, eu ainda era como um enorme borrão branco em sua cabeça? Por quanto tempo mais essa depressão horrível permaneceria comigo?

   Aos poucos, minhas lágrimas começaram a embaçar minha visão. Eu estava prestes a limpar, quando a dor persistente começou a passar devagar. Em outras palavras, eu estava começando a ser puxada pelo sono. Afinal, dormir era a única ação que fazia com que o incômodo insuportável em meu coração cessasse, pelo menos por algumas poucas horas. Assim, ultimamente, eu estava odiando ter que dormir, porque era como dizer para mim mesma que eu não era forte o suficiente para aguentar tudo aqui, sem precisar fugir para o meu mundinho encantado de sonhos – que desde aquele acidente, tinha perdido a maior parte do encanto.

   Porém, diferente das outras vezes – que eu não sonhara ou, então, tivera algum pesadelo relacionado ao Justin –, a imagem que se formou em minha cabeça não pareceu nem de longe uma fuga para os meus problemas reais. Pelo contrário, era algo parecido como uma lembrança. Aparentemente, o meu subconsciente estava tentando fazer com que eu me lembrasse das respostas para todas as minhas perguntas. Como se eu precisasse disso...

   As imagens daquele último dia no hospital não haviam, nem poderiam ser esquecidas. Na verdade, eu me lembrava delas perfeitamente. O modo como Manuela – que havia chegado há muito pouco tempo – ainda poderia ser considerada minha melhor amiga. A felicidade de saber que Justin sairia do hospital, finalmente. O desespero comum em descobrir por qual motivo meu namorado não se recordava de nenhum detalhe meu. Na época, é claro, ele ainda não havia recuperado muitas lembranças, mas pelo menos reconhecia alguns detalhes, alguns fatos em relação a alguém. Exceto a mim...

    Continuei, a passos apressados, até a sala que a recepcionista me indicara depois de um pedido paciente do doutor Alves. A única coisa que eu conseguia ouvir naquele corredor era o eco do meu sapato batendo sobre o piso, seguido do mesmo som, provocado pelos passos de Manuela, que seguia logo atrás de mim. Ela não entendia o motivo da minha pressa ou da adrenalina que era vista facilmente nos meus olhos, mas eu sabia, o que era mais do que suficiente para eu insistir no caminho.

    Enquanto eu avançava com mais pressa a cada minuto, me perguntava se o meu coração estava batendo tão forte que era possível escutá-lo ao longe ou se era apenas impressão minha. Internamente, torcia para que fosse a segunda opção, afinal, eu não precisava de mais algum mal estar para que todo mundo voltasse sua atenção para mim, quando, na verdade, fisicamente eu estava ótima. Fisicamente.

   Ao afinal me aproximar da tal sala, hesitei. Percebi que eu não sabia o que fazer a me ver diante daquela porta que indicava ser exatamente o departamento de psicologia que eu procurava. A real verdade era que eu não tinha um bom motivo para estar ali, a não ser – é claro – pelo pânico constante que me assombrava. Isso levava à possibilidade de que se eu ousasse tocar aquela maçaneta, implorando por ajuda, o profissional lá dentro teria a impressão de que estava com um baixo nível de sanidade mental.

   Ignorando todas as especulações malucas em minha cabeça, bati na porta delicadamente uma vez. O meu ato havia sido apenas por educação, pois apesar da confusão interna, eu ainda estava consciente da presença de Manuela ao meu lado, observando em silêncio meu comportamento. Porém, um minuto depois, abri a porta devagar, sem qualquer vontade de permanecer paciente.

   A sala parecia com qualquer outro consultório comum, exceto pela ausência de macas e aparelhagens perturbadoras. Era um ambiente claro e arejado, com estantes e arquivos nas laterais. Havia uma porta fechada na parede direita, que com certeza levava para um local mais particular. Além desses detalhes, havia uma mesa no centro, amontoada de papéis e iluminada por uma luminária e, um pequeno sofá encostado na parede a poucos passos da saída.

   Porém, a minha atenção foi atraída pelo homem de aparente idade avançada debruçado sobre a mesa, com os olhos presos em um livro com o mesmo tamanho de um dicionário. Pela caneta em suas mãos, dava para deduzir que ele estava fazendo anotações quando teve sua atenção roubada por duas adolescentes entrando em seu consultório, sem qualquer aviso ou mesmo permissão.

   “Com licença?”, começou Manuela com um típico olhar de reprovação redirecionado a mim.
   “Eu sinto muito pela invasão...”, continuei com uma bela mentira, já que eu não me arrependia nem um pouco. “Nós não queríamos atrapalhar o senhor. Desculpe!”
   “Está tudo bem!”, tranquilizou o estranho, enquanto se levantava e ia até uma das estantes. “Mas eu não estou em horário de atendimento e não recebi nenhuma ficha nova. Então... Devo supor que se trata de alguma emergência, não?”
   “Sim!”, respondi depressa. E depois pensei um pouco melhor no que estava dizendo. “Quero dizer... Não. Nós não somos pacientes, nem nada. Na verdade, eu só gostaria de tirar algumas dúvidas...”
   “Oh!”, ele suspirou como se minhas palavras mudassem tudo, como se a magia tivesse se perdido. “Olha, meninas...”
   “Nós precisamos de ajuda!”, esclareci, por fim, tentando me fazer entender. “Por favor...”

   Houve um silêncio aterrorizante, enquanto o doutor Browning – como indicava o nome gravado no bolso de seu jaleco – nos fitava com um leve ar de curiosidade. Eu sabia que o lado mais profissional dele estava tentado a pedir que nos retirássemos e retornássemos mais tarde, mas algo em minha expressão fez com que ele esquecesse essa possibilidade e nos desse mais atenção. Acho que a meu desespero estava estampado no meu rosto, assim como a minha capacidade de chorar muito facilmente.

   “Então, em que posso ajudá-la?”, perguntou, abaixando os óculos ao olhar em nossa direção.
   “Bom, eu preciso de uma orientação...”, comecei, sem jeito. “Digamos que hipoteticamente uma pessoa desenvolva uma amnésia retrógada, após um acidente. Essa pessoa está se recuperando e começando a se lembrar de certos detalhes sobre as companhias a sua volta e sobre certos acontecimentos, mas há uma exceção...”
   “Você é a senhorita que está ficando por aqui por conta do... Hã... Justin Bieber?”, indagou o psicólogo com uma leve dificuldade para lembrar o nome alheio. “O Alves me avisou que talvez você me procurasse futuramente, mas já estava achando que não viria mais.”

   “Hã... Se estivermos atrapalhando, podemos voltar mais tarde!”, se intrometeu Manuela, completamente equivocada.
  
   Eu não sabia se algum deles tinha noção de que eu não moveria o pé dali, antes de ter resposta para as minhas perguntas. Eu não iria sair daquele hospital junto a Justin, sem que minhas dúvidas e questões fossem extintas antes disso. E se aquele doutorzinho quisesse me expulsar de seu consultório, bom, era melhor que ele preparasse uma camisa de força, porque seria o único jeito de eu sair dali.

   “Vocês não estão me atrapalhando. Eu só achei que as coisas tinham começado a se resolver...”, suspirou o senhor.
   “É, mas não estão...”, interrompi, sem sequer perceber que era uma falta de educação. “Prazer, eu sou a (Seu nome) e... Bom, eu estava me referindo sim ao Justin. Acho que a situação não é tão hipotética quanto eu queria!”
   “Então, aonde você quer chegar?”, preocupou-se o doutor. “Que problema estamos tratando exatamente?”
   “Bom, como eu estava dizendo, há uma exceção a essas lembranças que estão retornando aos poucos. Eu só queria saber se... Eu não sei. Ele pode nunca se lembrar dessas mesmas coisas?”, disparei.
  
   O senhor Browning pareceu analisar cada palavra que eu havia dito. Embora eu achasse que ele já tinha a resposta na ponta da língua, deixei que minha ansiedade se prolongasse durante a pausa bastante longa feita pelo psicólogo. O que mais ele estava esperando? Que eu começasse a rolar no chão, me debatendo de expectativa?

   “Seguramente, eu posso afirmar que algumas recordações voltam antes de outras”, começou ele, com a voz mansa. “Mas, acredito que uma vez que algumas memórias comecem a ser recobradas, as outras virão em breve. Talvez com um pouco mais de esforço de conhecidos e amigos...”

   Esforço? Que tipo de esforço que eu já não tenha considerado? O que eu devo fazer quando o garoto que eu amo não permite nem que eu me aproxime dele? Quer que eu o pegue pelos ombros, sacudindo e berrando “lembre-se de mim, seu traste”? Sinceramente, acho que essa foi a única coisa que eu ainda não fiz!

   “Mas... E em outros casos? Alguma exceção em relação a esse quadro?”, insisti, ansiosa por saber quais eram as minhas chances de ter meu namorado de volta.
   “Bom... Já aconteceu, mas, como você disse, são casos diferentes! Nada realmente relevante!”, assegurou ele, certo de que eu iria aceitar uma resposta pobre dessas.
   “E o que aconteceu?”
   “Hã... O paciente em questão não se lembrou de uma pessoa em especial, sua acompanhante na hora do acidente”, ele retinha sua atenção em papéis em sua mesa, incapaz de olhar diretamente para mim. “Bom, em certos casos, quando há um acidente muito traumático, o subconsciente da pessoa cria um tipo de barreira. Assim, o individuo pode não se recordar de pessoas que estiveram com ele no momento em questão ou pessoas que direta ou indiretamente sejam as causadoras de tal situação...Mas, até nesses casos, há maneira de reverter a situação! Sempre há soluções!”
   “É, mas, então isso significa que no nosso caso, não há esse risco, não é?”, perguntou Manuela, logo atrás de mim. “Justin estava completamente sozinho na hora do acidente e...”
   “Não...”, miei, começando a sentir a mesma falta de ar habitual.
   “Não? Ele tinha companhia?”, a voz de Manu foi um sussurro quase inaudível.

   Comecei a ignorar todo o ambiente a minha volta, enquanto as palavras do senhor de idade começava a fazer sentido em minha cabeça. Eu nunca havia percebido isso, porque para mim não havia qualquer ligação entre uma coisa e outra, mas, agora, tudo parecia completamente óbvio. Era horrível, doloroso e estupidamente torturante, mas acima de qualquer adjetivo ruim, era verdade.

   Uma lágrima repentina começou a descer por minha bochecha, ao mesmo tempo em que eu respirava fundo, me esforçando para controlar a vontade de desabar ali, na frente de um estranho. Manu tocou o meu ombro suavemente, tentando me fazer voltar à realidade possivelmente. Mas o que eu mais queria fervorosamente era sair dela, sair do mundo real que parecia querer destruir todo pequeno pedaço de ouro que eu já tocara na vida, como se eu nunca merecesse uma dessas coisas.

   “Acho que entendi!”, falei por fim. “Muito obrigada, doutor Browning! Você foi muito gentil, de verdade...”
   “Eu estou aqui para ajudar!”, ele sorriu como possível avô preocupado. “Espero que as coisas melhorem, senhorita...”

   Assenti, com um sorriso falso no rosto, antes de pedir licença e me preparar para sair da sala. Quase sem perceber, puxei Manuela para fora, junto a mim. Na verdade, eu só fizera isso por puro costume, já que a última coisa que eu queria no momento era ter companhia. Pelo contrário, queria ficar sozinha como estivera nas primeiras semanas, após Justin ter acordado. Sozinha com a minha dor. Sozinha com os meus pensamentos. Sozinha com as minhas verdades.

   “(Seu nome), está tudo bem?”, indagou Manu, voltando a se aproximar de mim, no corredor.
   “Não...”, admiti, sem querer. “Você escutou o que ele disse? Percebeu o sentido que tudo faz agora? Justin se lembra de um sorriso de alguém, de uma conversa passada, de um toque que ele já tenha sentido, mas nada sobre mim. Absolutamente nada, porque... O acidente aconteceu por minha culpa!”
   “O quê? (Seu nome), você não sabe o que está dizendo. Você só está nervosa, ok?”
   “Não. Eu sei, sim. Acho que pela primeira vez em semanas, eu sei exatamente o que estou dizendo e o que está acontecendo...”, continuei meu raciocínio lógico. “Você que se recusa a ver, Manuela. Já parou para pensar que se não fosse por minha causa, Justin teria ficado em Los Angeles? Que se não fosse por mim, ele não teria um motivo para voltar para casa e não teria saído na mesma noite em que aquele bêbado maluco e descontrolado? Você consegue entender isso?”
   “(Seu nome), essa é a coisa mais absurda que...”, a voz dela foi diminuindo à medida que eu parava de prestar atenção.

   Afinal, não importava mais o que minha amiga teria dizer. Não importava gentilezas ou palavras fofas e otimistas. Nada adiantaria, porque agora eu sabia a verdade. Uma verdade que doía, mas ainda assim era a única. A cada batida do meu coração, eu tinha mais e mais certeza do que eu tinha ouvido naquele consultório e das minhas próprias conclusões. Se ele não estivesse dirigindo naquela noite, ninguém estaria tendo que passar por essa situação. Em outras palavras, se não fosse por minha causa, Justin estaria perfeitamente bem.

   Provavelmente, o pânico voltou a se restaurar em mim, fechando por completo as minhas vias respiratórias, me impedindo de respirar com facilidade. Minha cabeça latejava em um ritmo constante, enquanto a dor permanente em cada célula do meu corpo voltava a se restaurar. As sensações e desconfortos começaram a ficar nítidos demais para que fossem só sonhos ou lembranças...

   - (Seu nome)! – uma voz feminina doce perto de mim chamava meu nome.

   Clareei minha mente com dificuldade, enquanto ia abrindo os olhos para o que realmente acontecia a minha volta no momento. Diante de mim, Pattie tocava meu ombro com delicadeza, conservando um doce meio sorriso nos lábios. Me esforcei para sorrir de volta, apenas para não deixar que a minha lembrança perturbadora transparecesse em minha expressão, mas aparentemente já era muito tarde para me preocupar com isso.

   - (Seu nome), você está chorando? – a preocupação dela ficou tangível em seu tom de voz.

   Eu não tinha percebido ainda que meus olhos estavam molhados de lágrimas que tentaram escapar enquanto eu dormia. Como se eu já não me metesse em situações humilhantes, ainda tinha o meu organismo para me ajudar a parecer patética até mesmo quando estava inconsciente. Rapidamente, sequei o rosto com as costas das mãos e joguei toda a tristeza do sonho real para dentro de mim, em um espaço bem fundo e esquecido.   

   - Não. – menti – Eu estou só lacrimejando. Acho que alguém por aqui está com mais sono do que pensava...
   - Ah, desculpe te acordar, querida! – Pattie pareceu sem graça – É que, bom, nós vamos sair para jantar em uma pizzaria e, como você nem almoçou, eu pensei que era minha obrigação acordá-la, para vir conosco. Só para você saber, não aceito não como resposta...
   - Bom, acho que meu estômago concorda com sua argumentação, então, você venceu! – ri, sem humor nenhum – Eu vou me arrumar e encontro vocês lá embaixo.

   Pattie assentiu, satisfeita, antes de se afastar devagar. Eu gostava bastante do jeito amável e preocupado dela, mas foi bastante reconfortante quando voltei a ficar sozinha no quarto novamente. Era bastante agradável não ter que ficar fingindo uma naturalidade e felicidade que, com certeza, não me pertenciam.

   Assim que me levantei para começar a me arrumar, pensei um pouco no tipo de programa que tinha aceitado. Era óbvio que eu adoraria uma pizza, afinal, fazia horas que eu não comia, mas ainda assim seria ótimo poder dizer um não e depois me virar com qualquer coisa congelada, enquanto eles se empanturravam de massa. Antes, eu não costumava recusar esse tipo de programa, mas atualmente eu poderia pensar em milhares de coisas melhores do que ficar na companhia do novo casal do momento.
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Capítulo 2, para vocês, amores!

   Então, eu sei, eu sei que fiquei enrolando para postar, mas se vocês soubesse como está complicado agora. Os capítulos estão muito maiores e eu não posso ficar o dia inteiro escrevendo, não é? Enfim, me desculpem e sejam mais paciente com a Juh aqui, por favor.
   Outra coisa, percebi que vocês são ansiosas, não? Eu disse que vou explicar tudo, não vou? Então, relaxem, respirem fundo e controlem a ansiedade... Nada vai passar despercebido por mim e vocês entenderam tudo em breve! :)
   Então, é só isso. E o capítulo de hoje é dedicado para a Allana. Espero que tenha gostado, linda!

   Por hoje, é só! Vou tentar adiantar as coisas para postar mais rápido, mas tentem ser pacientes, ok? Eu amo vocês! Boa noite! 

7 comentários:

  1. kra , estou brava c vc dona julianna , mais raiva da dona manuela magalhães , enfim AJNJKNBHJASDBAH continua

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  2. AAAAAAAAAAAAAAAAAA KRA, EU NÃO ACREDITO QUE ELE NÃO LEMBRA DELA! O AMOR DELES ERA TÃO PERFEITO, PQP! continua logo antes que eu morra de curiosidade

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  3. continua *u* e poxa, quando o Justin vai se lembrar dela? ;c

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  4. CAAAAAAAAAARAAAAACAAAAAAAARAAAAAAAAAA ESSSSSSA MANUELA É UMA FALSA CARA!Se aproveitou pq 'meu' homem ñ se lembrava de mim,e deu o bote,essa cobra!!
    Coitada de 'mim',ver seu ex com a pessoa que se dizia sua 'amiga'...pq ela ñ vai embora?ficar sofrendo vendo eles juntos,deve ser horrível!


    Pera aê essa Allana que vc dedicou o cap' foi eu? Acho sim,afinal eu fui a única a Allana a comentar,kkkk'
    Só pra confirmar eu amei o cap' - como sempre -

    COOOOOOONTINUUUUUUUUUUUUUA PLEEEEEEEEEEAAAAAAAAAAASEEEEEEEEE!!

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  5. Carol (@JustinBaldwin)11 de março de 2013 às 21:23

    Ahhhhhhh volteiiiiii!!!!11 :D Mds, doutora Drama se superando ein?(no bom sentido, claro) vc sabe que eu adoro seus textos, mas n sei se meu coração pode dizer o mesmo sabe? :o
    Mas o q posso fazer ein? Esperar pacientemente os proximos capitulos, e só! kkkkk
    Já tava com sdd Juli de dizer q o cap tá L-I-N-D-O.final
    Bjkas da sua neném aqui
    Carol

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  6. Relaxa Juh..vc está lidando com a pessoa mais paciente do mundo u.u só q não haha..
    bom..estou vendo q vc está esclarecendo e que foi um biiiig capitulo(obrigada rs)
    aaa.. ainda n consigo entender pq minha melhor amiga(?)>> q não é mais minha melhor amiga hauah.. meuu..ela se aproveitou, ela..ela..aa Manu é uma..aaaa eu quero gritar hauahu..
    aai Juh..o capitulo ta otimo, vc sabe ne?
    e eu vou ficar aqui...sozinha... no friiio, esperando o proximo haha.. vê se n demora ta? rs
    beeeijo minha linda ^^

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  7. CONTINUA LOGO! Ô MEU PAI VIU U.U

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