Duas em uma
Belieber’s POV
Eu estava subindo as escadas até o
segundo andar, seguindo Manuela
e me perguntando o motivo pelo qual eu respondera “sim” àquela pergunta idiota.
Qual era o meu problema, afinal? Por que, sabendo que aquela garota estava me
decepcionando como ninguém nos últimos tempos, eu aceitara conversar com ela,
ciente dos riscos que corria de acabar estragando toda a minha felicidade? Por
que mesmo depois de tudo eu não conseguia dizer não a ela?
Enquanto chegava aos últimos degraus
e me aproximava da porta do quarto da morena, não consegui deixar de pensar no
meu pequeno pedaço de bolo de chocolate abandonado na cozinha. De fato, eu nem
sentia mais fome, mas aceitaria qualquer desculpa para conseguir ganhar tempo. Infelizmente
eu não era corajosa o suficiente para usar isso ao meu favor e encobrir minha
curiosidade.
Entrei no seu quarto, me sentindo
meio contrariada por mim mesma, e escutei a porta se fechando logo atrás de
mim. Eu teria sentado na cama e esperado até que Manuela se manifestasse e
dissesse o motivo para toda aquela cena, mas não me sentia a vontade para
aquilo. Aliás, esse não era o comportamento que eu teria com um estranho e era
isso que Manu havia se tornado nos últimos meses.
– Você não pode ir embora! – Manuela
disparou, finalmente se afastando da porta.
Ótimo! Ela estava completamente
bêbada!
Sinceramente eu não conseguia
entender a lógica mágica das pessoas ao meu redor. Elas conseguiam ficar
semanas e semanas sem me dirigir uma palavra sequer, mas quando eu finalmente
tomava uma decisão que representasse um progresso na minha vida, todo mundo
decidia argumentar e me impedir de executá-la. Será que isso só não fazia sentido
e parecia maléfico para mim?
Aliás, o que isso poderia significar?
Era uma espécie de organização para me deixar perpetuamente deprimida? Algo
como “Ei, (Seu nome), você ainda não chorou e sofreu o suficiente. Volte para o
seu quarto e fique lá se lamentando e pensando no quanto a sua vida é um lixo e
não ouse voltar aqui até acabar”?
Parecia mesquinho. E psicótico.
– Você estava ouvindo a minha
conversa com a Pattie? – desconversei, sem qualquer vontade de prosseguir
naquilo.
– Foi um acidente, mas isso não vem
ao caso, agora. – continuou, completamente indiferente ao meu tangível desconforto. – O que você precisa saber é que tudo o que
falou lá em baixo é absurdo demais. Você não pode ir embora assim!
– Na verdade, eu posso... – respondi,
naturalmente – Eu tenho um avião!
– Não é sobre isso que eu estou
falando, (Seu nome)! – ela pareceu impaciente ao falar – Eu estou falando sobre
não ser a atitude certa a tomar...
– Ah, não! – arfei, sem consegui me
controlar depois de ouvir essa – Você realmente quer discutir o que é certo e o
que errado comigo? Você? Agora?
– (Seu nome), você pode me escutar,
por favor. Eu estou falando sério! – pediu, esforçando-se na falsa expressão de
dó – Você não pode simplesmente sair voando por aí e esquecer tudo o que você
tem aqui...
– O quê? – não consegui conter minha
perplexidade – Tudo o que eu tenho aqui? E será que você pode me dizer o que
raios eu tenho nessa droga de lugar? Eu não tenho absolutamente nada aqui. Nada
me impede de pegar um avião para qualquer lugar e sumir. Eu não sou você e não
tenho um motivo pelo qual devo ficar. E é exatamente por isso que não estou te
pedindo para ir comigo, porque você ainda tem coisas e pessoas que te prendem
aqui!
Na verdade, não era bem só por isso
que eu não queria companhia.
– Será que você não enxerga, (Seu
nome)? Você por acaso está ouvindo suas próprias palavras? – disparou com a voz
tomada por certo ultraje – Será que você não consegue entender? Se você não tem
nada aqui, o que eu poderia ter? Você deveria seriamente repensar seus
conceitos...
Eu estava começando a ficar
ligeiramente assustada, porque, apesar de todo o tempo de cinismo e mentiras
por trás de cada atitude partida de Manuela, aquele episódio não parecia se
encaixar nos outros. Afinal, a cobra nunca enchera os olhos de lágrimas e medo
e deixara os lábios freneticamente trêmulos para despejar seu sarcasmo sobre
mim. Não como estava fazendo agora.
– Você pode ser mais direta, Manuela?
Desmontei.
Eu não ainda não tinha ideia de como era dolorido dizer o nome dela em
voz alta e esse foi o momento em que finalmente notei tal incômodo. Mesmo sem a
certeza de que aquilo era motivado apenas pela suposta emoção do momento ou se
esse desconforto sempre estivera comigo – apesar de todas as minhas alfinetadas
silenciosas à sua pessoa – desde que aquela muralha se estabelecera entre a
gente, eu não podia negar que me incomodava me sentir dessa maneira, com
tamanha aversão.
– Você não pode ir embora! Isso é
tudo o que eu estou dizendo. – Manuela respirou fundo, segurando o ar por um
longo instante.
– Nesse caso... Me desculpe te
decepcionar – eu não tinha certeza de estar arrependida –, mas eu vou mesmo
embora. E não há nada que você possa fazer quanto isso!
– Você não vai! – ela bateu o pé,
mimada – (Seu nome), eu não estou te pedindo para não ir, eu estou exigindo.
Como eu disse... Você não pode simplesmente virar as costas para tudo isso aqui
e sair andando. Você não pode abandonar tudo o que você é e que ainda está
aqui. Você não... Você não pode jogar fora tudo o que aconteceu, de uma hora
para outra. Pelo menos, não depois de tudo o que eu fiz por você.
Tudo bem, essa me
pegou um pouco desprevenida. Precisei pensar sobre aquelas palavras duas vezes
para me certificar de que realmente tinha ouvido aquilo e ainda assim pareceu
muito fora do contexto. Aliás, durante todos esses meses não havia uma palha
que aquela garota se dispusesse a mover por mim, então... A que ela estaria se
referindo? Será que Manuela considerava amável da sua parte permitir que uma
ninguém como eu respirasse o mesmo ar que ela?
– E você pode me dizer que atos
louváveis são esses? Que ações de amor e compaixão são essas que a senhorita
fez por mim? – indaguei, deixando-me levar pela gotinha de raiva que havia se
infiltrado em meu sangue.
– (Seu nome)... – seu sussurro saiu
como uma fina linha de voz que eu quase não escutei, enquanto ela parecia
entrar em conflito – Saia daqui, agora! Por favor!
Antes que eu pudesse me opor com um
sonoro “não”, meu coração pareceu mudar de estado, se tornando completamente
líquido e escorrendo como ácido para o meu corpo. Diante de mim, a cobra havia
se transformado em camundongo assustado e tentava controlar com uma força
absurda os soluços do início de seu pranto, parecendo quase estar a pedir
piedade da minha parte.
Embora ainda não tivesse decidido se
iria confrontar suas mentiras por fim ou simplesmente acalmar seu desespero,
dei um passo adiante e não fui tão bem recebida como esperava. Como uma criança
em pânico, Manuela recuou de imediato, agachando-se e pondo-se embaixo da sua
cama. A única coisa que poderia denunciar sua presença no cômodo eram os
soluços de seu choro desesperado, que agora eram bem mais audíveis e pareciam
piores do que se ela tivesse acabado de ver um palhaço zumbi – Manuela tinha
trauma e pavor de palhaços com aparência maléfica, ou seja, quase todos.
Pacientemente, me agachei ao lado da
cama, levantando o lençol marrom de seda que caia graciosamente até o chão. No
escuro, encarando a base do colchão, estava Manuela completamente atordoada,
ainda tentando conter um choro que estava decidido em cair pelo seu rosto. Por
incrível que pareça, apesar de tudo isso, eu ainda escolhi permanecer firme.
Não podia fraquejar mais, depois de tanto tempo agindo como uma covarde. Eu não
podia mais me dar ao luxo de bancar a tonta.
– Eu não vou sair, Manuela. Pelo
menos, não até você me dizer do que está falando exatamente! – afirmei,
tentando convencer a mim mesma de que era durona o suficiente para isso – O que
você acha que quer dizer ao falar sobre todas essas coisas maravilhosas que
você supostamente fez por mim?
– Me deixa em paz, (Seu nome). –
Manuela bufou, ainda hostil.
– Por que eu deveria? Por que é
difícil para você admitir que a única coisa que você fez desde que chegou aqui
foi transformar a minha vida em uma grande merda? Ou você ainda prefere manter
esse seu papel ridículo de boa samaritana, enquanto continua pisando mais e mais
em mim com a maior cara de santa sonsa do mundo? É sobre isso que você está
falando, Manuela? Ou vamos continuar com o nosso teatrinho eterno, fingindo que
você não sabe que me arrancou uma das coisas mais importantes para mim? Nós
vamos realmente fingir que está bem o fato de você ter me apunhalado pelas
costas quando eu mais precisava de você? É isso?
Eu havia pegado pesado e sabia disso.
Sabia, mas não me importava.
Até agora.
Eu não conseguia ver muito na
escuridão que se mantinha embaixo da cama, mas logo após essas palavras,
Manuela se moveu e seu rosto ficou parcialmente iluminado por um feixe de luz
do quarto, intencionalmente. Enquanto seus olhos perfeitamente castanhos me
fitavam, uma pequena e solitária lágrima desceu pelo canto de sua bochecha
sempre rosada. Um estalo e meu coração estava se quebrando mais uma vez – como
se ainda pudesse ser possível.
– Você não entende mesmo, não é? Como
pode isso? Eu fiquei com medo de você achar tudo óbvio demais e me desmascarar
logo na primeira semana e, no entanto, aqui estamos nós. – eu podia sentir o
peso de todas as lágrimas de Manuela apenas em sua voz – Supostamente eu
deveria ficar orgulhosa de mim, mas eu ainda não aceito que você realmente
acreditou nisso... Quero dizer, nós somos melhores amigas, (Seu nome), como eu
poderia fazer isso com você? Mas eu fiz e o que você fez para reagir? Nada, nem
uma tapa na cara, nem um palavreado feio, nem raiva explícita, nada. Eu não te
reconheço mais! Você deveria me torturar, porque eu roubei seu namorado, me
aproveitando da situação dele. Mas, mesmo assim, você agia como se nada
estivesse acontecendo. Por quê?
Minha cabeça girava a vários
quilômetros por hora, tentando fazer com que tudo o que eu estava ouvindo
fizesse sentindo, mas não havia nada muito complicado, além da breve
confirmação de que Manuela estivera fazendo tudo aquilo de propósito com a
mesma cara de pau que utilizava para me contar toda aquela história, jogando-a
na minha cara. Ainda assim, com todas as suas confissões óbvias, a morena
chorava como se estivesse prestes a ir para a cadeira elétrica, pagar pelos
seus feitos.
Ironicamente essa situação apaziguou
minha raiva por completo, dando lugar a toda a tristeza das últimas semanas,
que voltou com força total. Aquelas afirmações, acusações e perguntas eram
demais para mim. Meu coração não era capaz de lidar com tudo aquilo ao mesmo
tempo e ainda manter a enorme camisa de força que havia envolvido em volta de
si mesmo. Eu não tinha mais mentiras as quais me segurar, dessa vez.
– Porque eu estava sozinha, Manuela!
– berrei – Não no sentido literal da palavra, mas meus pensamentos estavam
sozinhos com as lembranças que antes eram minhas com outro alguém. Eu já tinha
perdido o Justin, todo mundo que estivesse minimamente ciente da situação podia
ver isso. E então eu perdi você também. O que adiantaria eu me revoltar? O que
adiantaria eu te chamar de “piranha” e depois partir para quebrar a sua cara? A
única coisa que eu conseguiria seria machucar a mim mesma. Então, sim, eu
estava com raiva, mas... Mas vocês sorriam na companhia um do outro. Isso me
matava por dentro, a um ponto de não me permitir fazer nada a respeito!
– Você tem noção de como foi difícil
para mim? Eu simplesmente tinha que acordar todos os dias, passar uma maquiagem
idiota no rosto, sorrir e sair para beijar o seu garoto. Eu tinha tanta certeza
de que você sabia que Justin é, e sempre foi, apenas o meu bebê, minha grande
inspiração e nada mais do que isso. Mas eu estava errada, o que me possibilitou
continuar com tudo isso, o máximo possível, porque eu sabia o que estava
fazendo. – os soluços de Manuela começaram a ficar mais espaçados, o que
significava que o choro estava cessando, por fim – Sim, eu sabia que eu estava
enganando o Justin e a todos, enquanto o beijava, ficava de sorrisinhos por aí
e te olhava com cada vez mais desprezo. Mas eu sabia também que ao fazer isso
estava te mantendo aqui!
– Eu não...
– Eu vi, (Seu nome). Não tente mentir
para mim, tudo bem? Eu vi o pavor em seus olhos, quando recebeu aquela estranha
notícia do psicólogo do hospital e vi também esse pavor crescendo a cada
segundo que se passava e Justin não vinha até você. Eu tinha que fazer alguma
coisa! – a morena me interrompeu com naturalidade, como se não pudesse mais
conter todas essas verdades – Eu pensei, em um primeiro momento, em contatar
alguém, talvez Selena, mas eu não confiava em ninguém que pudesse lidar com
você dessa forma e a última opção que sobrara fora eu mesma, então eu fiz isso.
Me aproximei de Justin, permitindo que ele se afundasse em cada boa memória que
tinha de mim, mas ao mesmo tempo, secretamente, buscando fazer com que ele não
se apegasse muito a péssima pessoa que eu sou. Eu fiz isso, porque eu te
conheço, (Seu nome), talvez até melhor do que você mesma. E eu sei... Eu sei
que a única coisa que pode competir com o seu medo é o seu orgulho. Se você
estava apavorada o suficiente para voltar para casa correndo, eu tinha que
fazer algo para você se sentir na obrigação de ficar aqui e lutar por algo que
ainda é seu e alguém ousou roubar!
Eu ainda não havia conseguido
calcular direito se aquelas palavras faziam ou não sentido, mas eu estava
começando a amolecer, principalmente ao ouvir Manuela dizer claramente “ainda é
seu”, se referindo a Justin. Infelizmente essa dormência emocional estava sendo
causada por uma tristeza chata que me batia sempre que eu lembrara que essa
hipótese era tão falsa quanto possível para o próprio Justin.
– Manuela, eu nunca ouvi algo tão
absurdo em toda a minha vida! – discordei, tentando manter firme minhas
decisões e toda a frieza que eu demorara tanto para construir sem tanto sucesso
– Toda essa história sobre eu ser uma garotinha indefesa poderia fazer sentido
há algum tempo, mas não agora. Eu não tenho mais sete anos, Manuela. Eu não vou
necessariamente fugir sempre que algo difícil aparecer na minha vida...
De repente, o lençol que eu
continuava levantando mexeu-se rapidamente e Manuela colocou metade do seu
corpo para fora da cama, com um movimento totalmente calculado que a colocava
na posição ideal para me encarar. Em um minuto, eu estava olhando para uma
pequena parte do seu rosto em meio à escuridão, e no outro, seus olhos me
fitavam intensamente, bem de frente para mim, me incitando a admitir todas as
verdades que eu guardava a sete chaves.
– Ah, é mesmo? – perguntou, com um
traço bem distinto de cinismo – Se você tem tanta certeza assim, olha nos meus
olhos e diz que você não pensou em ir embora inúmeras vezes, antes de me ver
ficando com o seu namorado? Você só precisa dizer isso...
Mordi a língua, frustrada. Era
verdade, eu ainda era uma garotinha de sete anos. Eu não conseguiria dizer
aquilo, pelo menos não para ela, que tinha culpa no fato de eu ainda estar por
ali. Mesmo que eu tivesse pensando em ir embora após flagrá-los juntos, havia
sempre uma pontada forte em um lado do meu coração que me lembrava que a minha
suposta melhor amiga estava com o meu – meu! – namorado e, então, eu me
convencia de ficar mais um pouco para pegá-lo de volta. Isso não teria
acontecido caso não tivesse assistido aquela traumatizante cena dos dois juntos
no sofá da sala há longas semanas atrás.
Meu silêncio parecer servir como
resposta para Manuela.
– Entende agora? Nós duas sabemos que
é verdade! – a morena quebrou a quietude com toda a vivacidade da sua
indignação – Mesmo que eu te aconselhasse a ficar, te amarrasse em uma cadeira,
você iria embora e ninguém poderia te repreender por isso, porque é uma
situação assustadora e terrível, mas... Como sua amiga, (Seu nome), eu não
poderia deixar que você fizesse isso, que você desistisse dele, porque você não
sabe! Você não sabe como é lindo ver vocês juntos. Você não sabe como era a
expressão de vocês ao olharem um para o outro. E, principalmente, você não tem
idéia de como merece alguém especial como ele, depois de tudo que já aconteceu.
Algumas vezes, inclusive, eu ficava preocupada, porque você parecia querer se
afastar dele ao invés do contrário, mas você permanecia aqui, então eu apenas
esperava que logo essa situação se revertesse. E ainda espero. Em outras
palavras, você não pode jogar tudo o que eu fiz até agora fora assim...
– Quer saber, Manuela? É realmente
muito tocante tudo o que você falou, mas não muda nada. Não agora. – suspirei,
começando a sentir o pequeno amontoado de lágrimas que embaçavam meus olhos –
Eu aprecio tudo o que você falou, mesmo sem saber se compreendo, mas... Ainda
assim, você não sabe o quanto eu perco um pouco de mim a cada dia que eu
permaneço aqui!
– Tem certeza disso? Certeza que é só
pedaços de você que tem ido embora?
Aquele miado
quase inaudível que saiu de sua boca pareceu acompanhar a mensagem que seus
olhos transmitiam. Por todo o tempo que se passara, eu pensei que Manuela
estivesse completamente satisfeita e feliz com tudo o que vinha acontecendo em
sua vida. Mas, naquele quarto, sem qualquer máscara emocional que ela pudesse
usar, sua expressão parecia muito mais pesada e solitária que eu já vira no
rosto sempre alegre e sorridente dela. Era macabro conseguir perceber isso.
Não dava mais para distinguir se o
que eu sentia era raiva, tristeza ou melancolia. Aliás, no momento, tudo o que se
passava pela minha cabeça era o sorriso constante de Manuela, sempre
acompanhado do modo levemente histérico. Há alguns anos, eu não conseguiria
imaginá-la tão desolada assim, mas ao mesmo tempo eu sentia que já havia visto
aquela expressão antes, como se faltasse alguma coisa.
“Desculpa!”, Manuela sussurrou, parecendo se sentir culpada.
“Tudo bem, não foi nada...”, falei,
enquanto ajeitava tudo na mala.
“Eu não estou me desculpando apenas pelo que falei agora!”
“Ah, não? Está se desculpando por que,
então?”
“Por ter arrastado nessa viagem louca...”
Ok, por essa eu não esperava! Isso só poderia
significar uma coisa: a Manu estava realmente pior do que aparentava. Tomada
pelo meu coração mole, sentei-me ao lado da minha melhor amiga e perguntei:
“E então, o que aconteceu?”
“Ryan...”
“O que ele fez?”
“Ele me pediu em namoro, na noite em
que retornamos a Nova York...”
E, então, a minha ficha caiu!
–
Ryan...
A expressão de Manuela pareceu ainda
mais vazia após eu pronunciar esse nome tão claramente, me fazendo concluir que
eu estava certa – embora não restassem dúvidas. Ela havia voltado a tentar
conter as lágrimas, mas agora, diferente do que ocorrera há alguns minutos
atrás, o choro vinha de forma silenciosa, como se aquela fosse uma dor
exclusivamente dela e ninguém merecesse compartilhar isso. Obviamente eu
compreendia isso como ninguém, porque eu sentia exatamente isso por outros
motivos.
Porém, embora eu já tivesse percebido
a razão de tanta angústia, ainda sentia como se aquela tristeza fosse contrastante
demais com a Manuela que eu conhecia, porque parecia uma dor maior do que qualquer
outra que eu pudesse me recordar. Havia algo maior por trás daquilo, algo que
eu estava deixando escapar e que me impedia de ligar todos os pontos daquela
rede de mentiras que começara a se desenrolar.
–
Por acaso, ele sabia de tudo isso que você articulou? – arisquei, por fim, logo
após esforçar-me para reestruturar a voz completamente sóbria e engolir todo o
começo de um possível choro.
–
Não! – precisei fazer um esforço exagerado para identificar suas palavras em
meio a tantas lágrimas misturadas com aflição – Não poderia. Ele não
entenderia, começaria a pensar besteiras, como, por exemplo, que eu estava
usando essa desculpa para me aproveitar de algo ou que eu estava simplesmente
surtando. Eu sabia que não agüentaria sentir que mais alguém estava contra mim
dessa forma, sem poder compreender meus pensamentos. Então, eu terminei com
ele... De mentira, na minha cabeça, mas de uma forma bem real e terrível quanto
possível, para ele. Eu precisava fazer com que ele me odiasse, porque se por
algum motivo ele ficasse atrás de mim, eu sei que não suportaria por muito
tempo.
Lentamente as coisas iam começando a
fazer sentido na minha cabeça, mas ainda restava um monte de buracos a ser
preenchidos. Eu nem tinha a certeza de realmente suprir a todos, porque ainda
não havia me decidido se acreditava em tudo aquilo ou não. A minha única
preocupação no momento era a de não ser sentimental demais. Eu não poderia
demonstrar fraqueza e deixar que Manuela se aproveitasse de mim por algum
motivo, mesmo que já não me parecesse mais possível.
Durante um estranho longo minuto de
silêncio, Manuela retornou parcialmente para debaixo da cama. Ao voltar, ela
abandonou seu esconderijo por completo e estendeu para mim um pedaço de papel
decorado com algo escrito em sua letra perfeitamente redonda. Mesmo sem
entender o motivo daquilo, fiz o que seus olhos me mandavam e peguei a folha,
preparando-me para lê-la.
Surpresa, percebi ser o mesmo papel
que Manuela segurava no dia em que eu entrara subitamente em seu quarto,
querendo indiretamente acabar com todas as minhas dúvidas – tarefa em que não
tive tanto sucesso. Era o mesmo papel que ela se apressara para esconder da
minha vista e, então, eu entendia o porquê...
“Querido Ryan,
É a centésima vez que eu começo a
escrever essa mesma carta e minha lixeira já está começando a ficar abarrotada
de papéis amassados que nunca mais serão usados. Eu não acho que isso importa
de alguma forma, porque eu não sou corajosa o bastante para te enviar o
resultado de todo esse amontoado de textos já escritos. E mesmo se fosse, você
provavelmente rasgaria em mil pedaços antes de ao menos começar a ler. Você
deveria fazer isso. Eu gostaria que fizesse (afinal, eu realmente não recomendo
se importar comigo, pelo menos, não depois de tudo o que eu falei).
Na verdade, ao mesmo tempo em que eu
digo que você não deveria ler, eu estou escrevendo para me desculpar por aquela
noite. Eu estou parecendo patética (e sou mesmo), mas eu preciso tirar esse
peso de mim de alguma forma, porque isso está me consumindo mais do que eu
poderia imaginar. E, sinceramente, quisera eu que esse desgaste fosse por causa
da culpa que eu deveria estar sentindo, mas não é. O problema mesmo é a falta.
A falta que você me faz. Eu não estou vivendo mais por conta disso.
Eu não consigo dormir direito, porque
eu fecho os olhos e penso em você (pensar em você me faz chorar. Como eu disse,
sim, eu sou patética!). Eu não consigo comer direito, porque quando eu começo,
me lembro das suas palhaçadas para me fazer rir até quando eu estava à mesa e,
então, você não está lá e as coisas parecem sem sabor. Eu não consigo não
fingir o tempo todo e isso me ajuda um pouco a não pensar ou a não me
arrepender pelo que eu fiz (gostaria de um dia poder te explicar o motivo, mas
eu não creio que você gostaria de ouvir).
Acreditando que você não queira mais saber
sobre mim, vou direto ao ponto. Eu sinto muito, muito mesmo por tudo! Eu disse
coisas horríveis para você e te fiz acreditar que todo esse tempo que nós
ficamos juntos foi o mesmo que anos jogados fora. Ironicamente, eu tentei
contar essa mentira para mim mesma, pouco depois que você foi embora, mas não
tive tanto sucesso. Meu coração se tornou dependente demais do seu para agora
se convencer de que você foi menos do que tudo para mim. E ainda é. Na verdade,
eu sequer consigo me sentir mal por isso, porque apenas me faz lembrar a
importância que você teve em minha vida.
Há alguns anos, eu via você fazendo
uma participação em um clipe do seu amigo, em alguma foto por aí ou na minha
timeline e apenas pensava “o Ryan é tão demais”. Então, eu te conheci e percebi
que “demais” não era a palavra certa para te descrever. Meu anjo soa melhor
para mim, porque foi o que você se tornou depois de tanto tempo. Bom,
desculpe-me por isso novamente, mas não há mesmo termo melhor que englobe toda
a graça e brilho que você acrescentava no meu dia a dia, a cada pequeno minuto,
mesmo quando a sua presença se fazia ao longe.
Antigamente, eu costumava pensar que
estava bem por mim mesma, que não havia nada que eu não pudesse fazer sozinha
e... Realmente não há, mas você me fez descobrir que não é sempre o fazer por
você mesma que torna algo mais prazeroso, porque, às vezes, ter uma mão a qual
segurar torna o todo muito melhor. E, depois de você ter me mostrado isso da
melhor forma possível, eu não sei se quero realmente ter que voltar a me virar
sozinha, como antes. Eu quero você de volta!
Mas eu sei que se você, algum dia, pensou
em mim dessa forma, provavelmente agora não pensa mais e eu nem posso te culpar
por isso. Eu não sou capaz de te explicar os motivos por trás da minha atitude
detestável e, com isso, pedi para que você compreenda e me perdoe seria esperar
demais de qualquer um – embora você não seja qualquer um. E você não devia ter
que passar por cima de seu orgulho e de seu amor próprio, apenas por minha
causa. Acredite, eu não valho tanto à pena.
Ainda assim, eu espero que você passe
por essa fase muito rapidamente e, logo, esteja com uma nova garota. A garota
certa. A garota que eu não pude ser para você. Porque, acima de tudo, você
merece ser muito feliz com alguém que mereça você e o seu jeito extremamente
encantador, divertido e perfeito. Eu espero também que quando essa pessoa
aparecer, ela perceba o maravilhoso coração que tem nas mãos e não te deixe
escapar por nada. Porque se o fizer, isso significa que ela é realmente muito,
muito boba. Digo isso por experiência própria.
Eu não sei se ainda estou no direito
de terminar essa carta como gostaria, mas em todo caso, eu só queria te
agradecer por cada dia que você ficou ao meu lado, por cada sorriso que você
fez brotar no meu rosto, por cada lágrima de surpresa, felicidade ou de amor
que não cabia só em mim e tinha que transbordar... Por todas as coisas que você
já fez por mim, até mesmo inconscientemente. E, mais uma vez, eu sinto muito
por não ter sido capaz de retribuir isso! De qualquer forma, você ainda
continua sendo o sol dos meus dias e eu peço desculpas por ter escolhido ficar
na sombra, apesar disso.
Eu ainda te amo tão intensamente como
o brilho do seu sorriso pela manhã,
Manuela M.”
Não chore. Não chore.
Não chore.
Meu coração estava na mão quando
acabei de ler aquela carta tão detalhada em um sofrimento tocante, mas eu não
queria ter que começar a chorar como Manuela estava fazendo há certo tempo. Mesmo
que agora eu compreendesse tudo, deixar que meu lado emocional prevalecesse
significaria sentir uma dor muito maior do que a que eu sentia quando já estava
tentando ser forte. Embora eu não quisesse me achar frágil a esse ponto, também
não tinha certeza se agüentaria todas aquelas informações, caso deixasse as
emoções entrar abertamente.
Minhas mãos se apertaram ao redor
daquela carta, quando focalizei meu olhar em algumas palavras soltas. Frases
como “eu não sei se quero realmente voltar a ter que me virar sozinha”, “eu não
valho tanto a pena” ou “a garota que eu não pude ser para você” pareciam tão
profundas se integradas ao conteúdo da carta, mas tão soltas se pensadas nas
mesmas saindo da mente de Manuela.
Embora Manu nunca tivesse sido o tipo
de garota metida e insuportavelmente autossuficiente, uma de suas
características mais marcantes e admiráveis era que ela sabia quem era. Não
importava quem a chamasse de histérica, criança, boba, sonhadora, iludida ou
barulhenta, ela aceitava todos esses adjetivos com o maior orgulho do mundo e se
definia de uma forma única, como Manuela Magalhães de Oliveira. Eu sempre
pensei que fosse essa satisfação em ser quem ela era o motivo do seu constante
sorriso. Mas, ao ler aquela carta, não havia um pingo de amor próprio ali,
assim como não havia um só vestígio de sorriso em seu rosto. Não havia Manuela.
Durante todas essas semanas, não
houve Manuela e eu não fui capaz de reconhecer isso, exatamente porque também
não havia nenhuma (Seu nome) ali, que pudesse por acaso reconhecer à amiga.
– Eu sinto muito,
Manuela... – sussurrei, por fim, recompondo-me.
Sua resposta a minha lamentação foi
dita em um volume tão baixo que, mesmo esforçando-me, não consegui decifrar e
achei melhor não deixar isso transparecer. Aliás, a minha real vontade era de
puxar o assunto daquela conversa para outro ângulo, mas eu ainda tinha receio
do quão frágil poderia estar Manuela e do modo como ela interpretaria minhas
perguntas, que poderiam ser bastante ofensivas. Ainda assim, não parecia ter
outra saída e eu cheguei à conclusão de que não poderia me culpar por ser rude.
Eu estivera sendo deixada de lado por muito tempo, sem todas as estruturas que
antes de mantinham no eixo, então não estava sendo tão fácil confiar em tudo o
que eu ouvia.
– Eu não queria parecer grosseira,
mas eu não vejo outro jeito de tirar as minhas dúvidas, então eu vou direto ao
ponto, porque eu realmente preciso entender essa história direito e... Eu não
acho que isso me convenceu de verdade. Quero dizer... Você sempre foi uma
garota esperta, Manuela. Esperta o suficiente para pensar em algo tão baixo,
então, sendo assim, como você não pode ter pensado nas conseqüências que isso
tudo teria? – eu atropelava as palavras, nervosa demais para dizê-las de forma
pausada e completamente inteligível – Você queria que eu permanecesse aqui,
porque achou equivocadamente que isso provocaria algum resultado positivo entre
mim e Justin, mas... E depois? E se desse certo, o que você faria? E quanto a
mim, ao Justin, a Pattie e todos aqueles que você supostamente inocente
enganou? O que faria para recuperar a confiança deles e explicar tudo isso? O
que faria para voltar novamente com Ryan? O que faria quanto a você mesma?
– Eu voltaria para o Brasil, seguiria
a minha vida exatamente como a pessoa normal que sou e me esforçaria para
esquecer tudo o que aconteceu aqui... Eu não sou tão burra ou dissimulada
quanto você está achando, (Seu nome). Eu pensei, e pensei muito, durante um
tempo razoável sobre tudo que essa decisão me traria, mas eu não me vi com
opções de fazer diferente. – ao final de cada oração, Manuela respirava fundo,
tentando se impor um pouco de calma – Mas eu sabia que no momento que eu
começasse com tudo aquilo, eu teria que ir até o final. Com isso, eu
provavelmente nunca teria a sua confiança e a do Justin de novo, porque eu não
seria tonta de tentar me explicar. Vocês não acreditariam e não faria diferença
de qualquer forma. Pattie seria mais pacífica, porque é o jeito dela, mas eu sabia
que por trás da sua doçura sempre haveria um pouco de desconfiança, já que eu
seria para sempre “a garota que traiu a melhor amiga”. E quanto ao Ryan... Eu
não esperava que nós voltássemos. Quando eu fiz aquilo, eu soube que seria
definitivo e que eu estava abrindo mão dele. Ele nunca mais vai querer olhar na
minha cara de novo. Ele me odeia, de verdade! E eu... Eu ainda o amo tanto,
mas... Mas ele não liga mais.
Lágrimas e mais lágrimas, que dessa
vez não eram somente de Manuela. Eu já não estava conseguindo me controlar
mais, tomada pela imagem da morena à minha frente chorando compulsivamente e
também por uma raiva de mim mesma que crescia forte dentro do meu peito. A dor
que eu estava começando a sentir começava na cabeça, que me lembrava a cada
segundo que eu tinha sido a peça chave da separação de Ryan e Manuela. Mesmo
que eu não tivesse sequer me metido nisso, a culpa era minha e eu tinha que
assumir.
Porém aquilo ainda não se encaixava
ainda no meu mundo, afinal, não havia lógica para que tudo aquilo fosse feito.
Eu estava com medo de estar sendo paranóica demais, desconfiando de tudo que me
era dito, mas era demais. De verdade, eu não conseguia visualizar uma situação
que alguém se dispusesse a fazer tanto por mim, até porque não havia tantos
motivos que a levassem a isso.
– E por quê? Por que você fez isso,
hein? – arquejei, sentindo os lábios trêmulos de desespero, enquanto segurava a
mão de Manuela, lentamente.
– Porque nós somos ou éramos, eu não
sei, melhores amigas e era isso o que eu tinha que fazer. – ela falou como se
fosse a coisa mais sensata do mundo. – Você merece isso, (Seu nome). Você
estava prestes a desistir de uma das melhores coisas e, talvez, a mais certa
que já aconteceu na sua vida. Você ia jogar tudo fora. Eu não podia permitir!
– Você, por acaso, é louca? – me
exaltei, quase involuntariamente – Consegue perceber o quão absurda você soa
falando assim? Isso não faz sentido, não é certo. A verdade não é só essa,
porque é pedir demais de alguém, Manuela. Eu sei que tem algo a mais...
– Então, continue achando o que você
quiser, (Seu nome). Eu não me importo, porque eu sei que nada do que eu disser
vai te fazer pensar diferente da sua idéia tola de achar que não vale uma palha
sequer. – Manuela voltou a parecer hostil, mas os olhos ainda permaneciam
úmidos – Mas, sim, eu fiz isso por você, porque eu prometi para o Lucas que
iria proteger você e é isso que eu estou fazendo, protegendo você de si mesma. Aliás,
é isso que os amigos usualmente fazem. Por mais que você pense que não é
preciso ou que é mais do que você merece, não há nada que você possa fazer
quanto a isso... Ou melhor, há sim. Se você realmente quer fazer valer tudo o
que eu fiz por você, continue aqui e não desista do Justin. Eu estou te pedindo...
Por favor, (Seu nome), não vá embora!
Manuela apertava a minha mão com
força, enquanto os olhos me imploravam mais que tudo para que eu ficasse – não
só no país, como ao seu lado. Mas eu mesma não sabia como lidar com essa outra
vertente que surgira de repente. Afinal, em um momento, estava tudo
perfeitamente bem, com boa parte da minha vida resolvida e, de uma hora para
outra, todos os meus problemas resolveram mergulhar em um mar de clonagem,
fazendo aparecer outros ainda mais inesperados.
Porém, mesmo estando ciente de tudo o
que eu escutara na última hora e sabendo que o meu coração já voltara a
acreditar em cada palavra que ela garota havia dito, eu não me sentia no
direito de voltar atrás daquela vez. Eu sentia que estava amadurecendo ao conseguir
virar essa página e não conseguia mais me colocar na posição de dúvida, de
querer voltar para os capítulos anteriores que já haviam sido lidos. Eu tinha
que fechar o livro de uma vez ou acabaria por nunca sair dali.
– Desculpa, Manuela... – me afastei
subitamente, separando sua mão da minha e me pondo de pé ao seu lado – Eu não
posso fazer isso. Eu realmente aprecio muito o que você fez por mim, embora não
ache uma forma de suprir todo esse sacrifício, mas ficar aqui não é uma opção
para mim. Eu vou viajar amanhã e não há nada que você possa fazer...
Com um peso a mais no coração, dei as
costas para aquela que eu chamava de amiga e me pus a caminho da porta. A cada
passo que me distanciava de Manuela era uma batida mais dolorida do meu
coração, mas eu sabia que já tinha passado por isso várias vezes nos últimos
tempos e iria passar, mais cedo ou mais tarde. Ficar ali só faria com que a
cicatrização se demorasse mais, então eu tinha mais um motivo para me afastar.
– (Seu nome)! – a voz da morena ecoou
pelo quarto com muito mais vida do que tivera nos últimos minutos, quando eu já
estava com a mão na maçaneta – Se você sair por essa porta agora, não seremos
mais amigas...
“Amigas”. Essa
palavra ecoou pela minha cabeça durante alguns longos segundos, enquanto eu
permanecia com a mão sobre a maçaneta da porta. Com um pouco mais de esforço,
tentei visualizar todos os episódios terríveis e decepcionantes que haviam
ocorrido ultimamente, entre mim e minha suposta melhor amiga. Mas os que vinham
a minha mente sumiam rapidamente. A única imagem que realmente ficou foi a mais
recente possível: a mão de Manuela apertando a minha com força, buscando um
ponto de apoio. Eu ainda representava isso para ela. E ela ainda era a Manuela
para mim. Eu não sabia se, algum dia, ela deixaria de me parecer essa imagem da
graciosidade, mas muito provavelmente não.
Porém, subitamente, uma avalanche das
más lembranças me pegou desprevenida. Trazendo toda a negatividade possível,
junto com a melancolia, eu pensei em Justin e nos mínimos detalhes que, para
muitos, poderia parecer nada, mas para mim significavam o mundo. Um mundo
inteiro cheio do meu coração dolorido por essas mesmas lembranças que não iam
embora nem por um só minuto.
“Qual é o seu nome?”
“Nós
éramos próximos?”
“Eu acho que ele gosta de você
também!”
“Você trapaceou?”
Eram
apenas frases soltas, que quando pronunciadas por entre lábios específicos se
tornavam cortantes como facas. E eu não podia mais pensar em suportar mais
doses disso. Eu não era forte o suficiente para agüentar aquilo por mais um dia
que fosse.
Decidida, abri a porta, pronta para
sair e para deixar que as lembranças saíssem também.
– Eu sinto muito, Manuela...
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Capítulo 27, nenéns!
Capítulo
polêmico, cheio de "nossas", "uuuh" e, talvez, #TeamManu retornando? Ou
não? Enfim, de qualquer forma, não digam que eu não avisei, porque eu
falei que vocês estavam sendo maléficas demais com a Manuela :c
Aliás,
escrever esse capítulo foi superdeprimente, porque a história do Ryan e
da Manu é tão linda, que mds! Ela não é detalhada na ib, mas na minha
cabeça, ela é linda, rs.
Enfim, vou dedicar esse capítulo a linda
da Maria Graziela, que deu um super up no meu astral agorinha mesmo.
Aliás, eu queria muito agradecer a todas vocês por continuarem comigo e
estarem ali quando eu preciso. Às vezes, eu simplesmente estou destruída
e só de falar com vocês sobre qualquer assunto bobo, já me sinto
renovada, feliz, tudo. Acho que eu nunca vou poder retribuir isso, mas
muito obrigada mesmo, sério.
E meu último lembrete: Esse final
de semana acontecerá os shows do Justin e... A todas vocês que vão,
aproveitem muito, gritem, chorem, mas principalmente não pisquem um só
segundo, porque cada um deles será único, ok? E, se não for pedir
demais, pensem em mim quando o Justin cantar "Be Alright", porque meu
coração vai estar doendo muito nessa hora... Mas, enfim, NINGUÉM aqui
quer saber das minhas lamentações, não é? Então tá, para você que não
vai DESSA VEZ, belieber, respire bem fundo, ok? Porque sua hora vai
chegar, só... Não deixa para lá, ok? Não desiste, ok?! Porque, como já
dizia um dos meus filmes preferidos "você tem todas as armas que
precisa... Agora, lute!" (:
Confio em vocês, ok?
Boa noite!