04 novembro 2013

4. You Make Me Love You - Capítulo 28


Última visão


Música do capítulo: Long Live - Taylor Swift


Belieber's POV

    Passei grande parte da noite chorando, com a porta do quarto devidamente fechada. Eu não queria desabafar com Chaz, não queria ouvir mais Manuela e não queria ver Justin em lugar nenhum. A única coisa que eu desejava friamente era eu mesma e meus problemas. Eu desejava o passado, o Rodrigo, o sofrimento que era meu. Era patético – eu sabia disso –, mas eu queria ser patética, portanto que eu fizesse isso sozinha.

    Raiva. Era o que eu sentia, sentada naquele estúpido canto do meu quarto.

    Eu tinha raiva de Manuela, raiva do Lucas e raiva de qualquer um que viesse com o discurso de estar tentando me proteger de mim mesma. Afinal, não era como se eu estivesse doente ou coisa parecida. Eu era daquele jeito: chata, disfarçadamente sensível, incompreensível, medrosa e insuportável. Aquela era eu. E eu não permitia que as pessoas tentassem me proteger disso.

    Mesmo que não, se eu fosse realmente perigosa, eles poderiam simplesmente colocar uma faixa escrito “Cuidado! Perigo de explosão emocional” em mim, ao invés de tentarem me manipular, sem dó. Embora isso provavelmente não passasse pela cabeça de ninguém, eu não gostava de ser tratada como um bebê, porque eu não era mais assim e me recusava a manter essa imagem por muito mais tempo. Afinal, eu nunca iria crescer como pessoa se não passasse a ser levada a sério por aqueles que estavam mais próximos de mim.

    Mais um tiquetaquear do relógio. Era meia noite. Hora de passar uma borracha nas últimas horas e dar uma chance para o meu rosto desinchar ao menos um pouco, para que eu pudesse realmente abandonar esse papel de sofredora de uma vez por todas.

    Com um pingo de determinação que ainda me restara, levantei e visualizei meu quarto como ele se encontrava, antes de começar a dispor as roupas do armário para a cama, com a maior rapidez do mundo. Eu tinha um horário marcado a cumprir e teria que organizar tudo o que eu precisava até lá. Eu não me atrasaria novamente para ser feliz.

    Vasculhando entre as gavetas do cômodo, encontrei exatamente o que eu procurava: uma tesoura. Com esta, comecei a cortar várias das peças que estavam em cima da cama e passavam pela minha mão rapidamente. Todas essas não eram dignas de serem doadas para ninguém e, principalmente, não me representavam mais. Pelo menos, não representavam a (Seu nome) que eu gostava – sim, ela ainda existia dentro de mim e isso me surpreendia.

    Levei algumas horas para acabar todo o serviço e, quando o fiz, notei que sobraram menos roupas do que eu esperava. Eu não poderia ficar mais satisfeita com isso, porque significava uma redução no tempo em que eu gastaria para arrumar tudo na mala e foi o que aconteceu. Em apenas uns vinte minutos, tudo estava em seu devido lugar, separado como deveria e mais arrumado do que eu achava ser possível. Além disso, as conseqüências dessa redução de roupas abrangiam também o peso da mala que havia ficado muito menor – um bônus que recebi com muita felicidade.

    Com essa consciência de uma mala mais vazia, não pude deixar de pensar que com a minha bagagem material muita coisa emocional também ficava para trás. Na verdade, uma coletânea de sentimentos que agora eu desprezava estava ficando naquele quarto, sozinhos. Sentimentos como a raiva que eu sentia há poucas horas e também a angústia de achar que não podia fazer nada para mudar essa situação ridícula. Enquanto isso, eu preparava o terreno do meu coração para deixar entrar tudo de novo que ainda pudesse me encontrar no meio do caminho.

    Mais leve, peguei a roupa que eu havia separado para vestir – uma calça jeans, sneakers, uma blusa branca comum e uma jaqueta preta, que eu poderia tirar facilmente se ficasse com calor, o que aposto que aconteceria – e me dirigi ao banheiro, ignorando meus medos noturnos de espelhos, escuro e tudo de mais assustador que era mostrado em filmes de terror. Afinal, depois de tanto tempo sendo enganada por tanta gente, o meu conceito de horror havia variado um pouco.

    Debaixo do chuveiro, enquanto a água quente deslizava pelo meu corpo, eu tinha tempo para pensar nas coisas mais bobas possíveis que me viessem à cabeça. Ironicamente, quando eu já estava prestes a abandonar tudo, minhas lembranças se tornavam ainda mais nostálgicas e felizes do que eu poderia imaginar. E não era como se elas pudessem me fazer desistir da minha decisão, mas sim tinham a função de me deixar satisfeita por tudo o que eu havia vivido com uma pessoa especial...
  
     Eu estava tentando me prender ao sono ainda mais, enquanto Justin se esforçava para me acordar, apenas querendo me perturbar. Um sopro contido e lento tocou meu ouvido, me fazendo cócegas e eu precisei me esforçar para não rir. A sensação se repetiu ainda algumas vezes mais e eu precisei levar a mão até a orelha para parar com aquilo, antes que eu tivesse um ataque incontrolável de histeria.

    “Ei, Bela Adormecida, já está na hora de acordar, sabia?”, sua voz masculina soou bem próxima a mim, como um sussurro.

    Determinada a não sair do lugar, peguei o travesseiro na cama e coloquei-o em cima da cabeça, tentando abafar meu riso e contentamento com sua atitude amável e, ao mesmo tempo, boba. Eu estava gostando daquilo, mas o meu amor pela minha cama e meu sono eram incondicionais.

     “Levanta, preguiçosa!”, Justin fez com que seu riso tilintasse suave no meu ouvido.
     “Não...”, miei, contrariada. “E, para a sua informação, se eu fosse uma princesa, eu não seria a Bela Adormecida, ok? Eu prefiro a Cinderela!”
     “Ah, é, criancinha? Então, o príncipe encantado da Cinderela vai aproveitar que ela é uma preguiçosa e conduzi-la até o baile, ok?”
     “O que você...”

     Não fui capaz de terminar a minha frase, já que Justin me surpreendeu, pegando-me no colo com seus braços mais fortes do que aparentavam. Deixando-me levar pelo seu lado mais infantil, comecei a rir, enquanto me debatia, pedindo que ele me soltasse rapidamente. Independente do que tinha em mente e também da nossa ligação afetiva agora, me tirar da cama não era um direito que lhe apetecia.

    Infelizmente ele não parecia perceber isso e, quando dei por mim, aquilo já estava caminhando para longe do que eu imaginava. Olhando ao redor, notei estarmos no banheiro do quarto e, então, escutei o barulho da porta do boxe se abrindo lentamente. Antes que eu pudesse gritar ou ameaçar, Justin me colocou de pé naquele pequeno espaço e seus olhos faiscaram para mim, por um segundo, revelando toda a diversão maligna que lhe invadia.

    “Justin, não faç...”

    Tarde demais!

    No auge da maldade, Justin ligou o chuveiro, fazendo com que incontáveis gotas de água caíssem sobre mim e sobre o meu pijama sempre tão quentinho. Para completar a cena, ele ainda tinha a cara de pau de não disfarçar que achava tudo o máximo, rindo como se eu fosse a melhor piada que ele já vira. Coitado, mal sabia que o que era, de fato, engraçado estava ainda por vi...

    Em um raro reflexo, segurei sua camisa com força e o puxei para perto de mim, observando enquanto ele começava a se molhar também. De imediato, sua expressão se fechou, enquanto a água ia escorrendo por seu rosto e eu precisei rir, entendendo afinal o nível máximo de graça naquela situação. A melhor parte era saber que ele não estava bravo de fato, mas ficava lindo ao dissimular um pouco.

     “Sacanagem isso, sabia? Acabei de tomar banho” , resmungou Justin.
     “Bem feito! Não fui eu quem mandou você ter essa idéia descabida de me colocar debaixo de um chuveiro, de pijama!”, me exaltei, tentando não rir ainda mais da sua cara.
     “Ué, você preferia que eu o tirasse?”
     “Justin, você anda muito safado, sabia?”, contestei, contendo-me.
     “Eu não disse nada demais...”, sua expressão tornou inocente, subitamente, fechando-se em um biquinho. “Foi uma pergunta muito inocente! Você que tem muita maldade nessa mentezinha...”
     “Nada a ver, idiota!”, dei-lhe a língua, contrariada.
     “Sei. De qualquer forma, irei relevar. Agora, me dá um beijo, vai...”
     “Não mesmo!”, recusei, fantasiando um estereotipo de menina decidida. “Isso é para você aprender a não fazer mais esse tipo de coisa. Agora, vai para o seu quarto, moço!”
     “Como eu vou fazer para voltar para lá, todo molhado?”
     “Se vira, bebê! A culpa disso é toda sua, sabia?”

   
Só precisei dessa pequena memória solta para me pegar sorrindo feito uma boba, enquanto fitava a parede do boxe, completamente desligada. Eu tivera um bom período com aquele garoto, apesar de todas as complicações pelas quais passamos. Sinceramente, eu não me sentia no direito de me arrepender por nada do que havia passado. Pelo contrário, a única coisa que eu desejava com todo o meu ser era que ele tivesse uma boa recordação de mim. Não do que nós costumávamos ser, mas sim da (Seu nome) que ele havia conhecido nas últimas semanas.

    Me apegando a primeira idéia que passara pela minha cabeça, desliguei o chuveiro e tratei de me arrumar o mais rápido possível. A toalha estava em seu devido lugar, o cabelo satisfatoriamente seco e a roupa caia bem no corpo, assim como a pressa que eu sentia por fazer algo tão bobo. Eu era tão previsível.

    No meu quarto novamente – embora esse parecesse bem mais vazio do que da última vez em que eu o olhara –, peguei um bloco de papel e uma caneta sempre perdida por aí e marquei o primeiro encontro deles com um “Oi, Justin!”. Antes de começar, eu não tinha idéia do que precisaria escrever, mas as palavras começaram a correr pelo papel, jorrando idéias e sentimentos que eu nem lembrava mais de guardar. Ainda assim, eu estava tomando cuidado, por saber que não tínhamos mais essa ligação que permitia que eu lhe dissesse tudo que passara pela minha cabeça quase sempre confusa.
 
    Ao acabar, virei a página e comecei a escrever novamente. Felizmente a mensagem que vinha agora era mais leve, transbordando de uma gratidão que mal cabia em mim. Mesmo sabendo que palavras não seriam suficientes para retribuir todo o apoio que eu tivera naquela casa – e que, por vezes, eu não consegui enxergar –, tentei me aproximar ao máximo disso, escrevendo-lhe o melhor “adeus” que eu era capaz e prometendo sempre o melhor que eu podia dar a alguém.

   Ao final daquele processo, coloquei as duas folhas em envelopes diferentes, indicando o destinatário, e voltei a guardar tudo na bolsa que eu levaria comigo. O bloco ficaria perto da pasta que continha o desenho dos meus pequenos. Aliás, eu ainda não tinha pensando se ambos ficariam desapontados comigo por ter sumido de uma hora para outra, mas eu esperava que não, porque se havia algo que eu sempre levava comigo era um pedacinho do sorriso deles, que sempre permanecia grudado em minha memória. Jazzy e Jaxon eram os tipos certos de criaturinhas as quais eu nunca dava “adeus”, porque eu nunca realmente os deixava.

    Terminando de protelar o que eu realmente tinha que fazer, peguei a mala, a minha bolsa e aquelas cartas, antes de sair do meu quarto. Em teoria, eu apenas tinha que deixar o envelope em algum lugar da casa, sem maiores explicações, afinal, todos ainda estavam dormindo. Porém, não era tão fácil assim. Como tudo o que eu escrevia, eu ainda estava receosa em realmente deixar alguém ler e saber o que estava se passando dentro de mim. Obviamente depois de tanto tempo fazendo isso, eu deveria ter esquecido essa neurose boba, mas não aconteceu assim comigo.

    Respirei fundo, antes de abandonar todas as minhas tranqueiras no corredor e seguir para a porta do quarto de Justin. Superando a hesitação diante da maçaneta, abri a porta e, então, lá estava ele. Se eu fosse um pouquinho mais inteligente, teria a consciência de que vê-lo dormindo me tiraria um pouco do eixo e tentaria me preparar melhor, mas eu ignorara completamente isso. Assim, logo que meus olhos focalizaram seu corpo completamente imóvel jogado sobre a cama, compondo a melhor visão que eu já tivera, meu coração vacilou levemente.

    Precisei de um minuto de imobilidade para fazer com que meu organismo voltasse a funcionar como deveria. Em seguida, esforcei-me para me aproximar sem fazer o menor barulho possível, porque ser pega mais uma vez não era uma opção. Assim, contendo todos os meus impulsos de deitar ao seu lado e apenas ficar observando o seu rosto de anjo, enquanto ouvia sua respiração calma, abandonei o envelope sobre a mesa de cabeceira e virei as costas para o mesmo, apressando-me até a porta novamente.

    Ao mesmo tempo em que eu me afastava, xingando-me internamente por ter feito a idiotice de ter ido até lá em primeiro lugar, eu também não conseguia me arrepender completamente disso, porque eu precisava dessa anestesia emocional. Precisava vê-lo apenas mais uma vez, mesmo que ele não fizesse idéia, apenas para que eu pudesse ter sua imagem em minha cabeça pelo tempo em que eu ainda vivesse.

    Fechei a porta silenciosamente.

    – Se você soubesse o quanto eu ainda te amo... - sussurrei para mim mesma.

    Eu mal havia dado um passo para longe daquela realidade, quando senti o ar faltar de espanto. Meus olhos se arregalaram ao se depararem com a imagem de Chaz deslizando os dedos pela minha mala, com uma expressão que não era de felicidade no rosto. Ele definitivamente não deveria estar ali, pelo menos, não naquele momento. Não fazendo meu sangue congelar dentro das veias. Eu provavelmente teria que sair daquela casa, direto para um hospital, do jeito que as coisas estavam caminhando...

    – Ei, você está acordado! – quebrei o silêncio, amarrando um sorriso ao meu rosto.
    – Aham! – Chaz sorriu por um milésimo de segundo, antes que sua expressão ficasse vazia de novo. – Eu estava indo pegar um copo d’água na cozinha, quando vi suas coisas no corredor. Você já está indo?
    – É o que parece... – suspirei.
    – Você pode me dar um minuto?

    Assenti, inocente e desorientada. Eu não tinha idéia do que Chaz iria fazer e se ele estava disfarçando algum desgosto por me ver indo embora, mas sua expressão não se alterou, enquanto ele entrava novamente em seu quarto. De qualquer forma, eu ficaria satisfeita apenas sabendo que ele não estava ficando maluco, porque de pessoa surtada já bastava eu naquela história.

    Felizmente Chaz tomou menos do que um minuto e, logo, ele estava bem na minha frente. Porém, acompanhado, dessa vez. Chaz tinha em mãos um enorme urso de pelúcia branco e sorridente, que parecia ter no mínimo metade do seu tamanho e segurava um coração entre as patinhas felpudas. Era o tipo exato de fofura que fazia meus olhos brilharem em lojas de departamento.

    – O que é isso, Chaz? – ri, sem graça.
    – Bom, você me disse ontem que estava indo embora e eu achei prudente sair e comprar algo para que você pudesse se lembrar de mim... – falou, enquanto me entregava o meu novo amigo urso – Você vai precisar de algo em que apoiar a cabeça quando pegar no sono no avião e ele funciona muito bem!
    – Você não existe, sabia? – miei, tentando ao máximo não ter um surto de emoção – Então... O que você me diz de me acompanhar até lá embaixo?

   Chaz abriu o sorriso mais lindo do mundo, antes de pegar minha mala e se por a caminha das escadas. Devagar, como se quiséssemos adiar cada mínimo segundo, fomos juntos até a cozinha, onde ele pegou um copo de água como queria e eu coloquei um bolinho na bolsa, afinal, eu não conseguira comer decentemente naquele dia. Aliás, fome era a última coisa que eu sentia, mas mesmo assim eu não queria passar mal no caminho até o aeroporto e chamar qualquer tipo de atenção.

    Ainda na companhia de Chaz, me arrastei até a porta de entrada e a abri, com mais receio do que eu achei que sentiria. Na verdade, no fundo, eu só estava me sentindo mais pesada por ter companhia, afinal, eu havia imaginado aquele momento como simples e silencioso. Eu iria embora sem qualquer drama e preocupação. Porém, na realidade, eu não via como me separar de Chaz sem deixar pelo menos uma lágrima cair.

    – Então, acho que é isso... – conclui, enquanto procurava o envelope que eu havia jogado na bolsa de forma desligada – Olha, isso é para você ler quando eu já não estiver mais aqui, por favor. Mostre à Pattie também...
    – Vai ficar bem? – ele perguntou ao mesmo tempo em que pegava a carta em minhas mãos.
    – Vou tentar sobreviver sem você, ok? – a risada que deveria sair por entre meus lábios soou entrecortada, já que meus olhos começaram a encher de lágrimas – Será que eu posso te abraçar?
    – Não lembro desde quando você pede permissão, senhorita...

    Rapidamente, Chaz me envolveu em seus braços, apertando-me forte contra o seu peito – junto ao meu amigo urso que entrou no abraço por ser um intrometido. Ele provavelmente não sabia, mas era tão bom sentir pela última vez naquele período o seu perfume em meu nariz, sentir minhas lágrimas pousando suaves em sua blusa, sentir que seu abraço era tão verdadeiro quanto possível e, principalmente, sentir que ele ainda se importava comigo.

    Eu não queria ter que sair dali, mas tinha que fazê-lo.

    – Argh, quando eu passei a te amar tanto, hein, bobão? – sussurrei, enquanto me afastava.
    – Acho que foi na mesma época em que eu percebi que não dava mais para fugir do seu jeito insuportável, porque eu já o amava... – Chaz fez uma careta, ainda sorrindo para mim.
    – Bom, se eu fosse você, ficaria ciente de que isso tudo é uma pausa, ok? Você não vai me livrar de mim, tão cedo...
    – Espero que isso seja uma promessa!
    – Eu te amo!

    Dando-lhe um último beijo na bochecha, peguei as minhas coisas e sai porta à fora. Obviamente precisei dar uma pequena olhada para o que ocorria atrás de mim e ele ainda estava lá, fitando-me enquanto eu corria pelo gramado esverdeado, em meio à escuridão do dia que ainda não começara. O seu sorriso correspondia ao meu e foi o suficiente para que eu continuasse seguindo em frente.

    Naquele momento, enquanto eu me aproximava da porta principal daquele terreno, eu soube que eu não estava deixando nada para trás. Afinal, tudo o que poderia querer guardar já estava cravado tão profundamente no meu coração que nada mais poderia tirar de lá. Mas eu estava indo em frente. Seguindo em frente, como eu esperava que Justin também fizesse.


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Aí está, bebês! (:
A música do capítulo de hoje é da minha baby... DE NOVO! Hohohoho.
Enfim, o capitulo de hoje fica só por isso mesmo. Eu sei que está pequeno, mas... Como lidar?
Aliás, falando nisso, como vocês podem não amar a Manu? Ela é a coisa mais neném que a minha mente já pode criar. A culpa não é minha se vocês denegriram a imagem dela por um detalhe ou outro ali, só saibam que na realidade a Manu é uma nuvem de algodão doce cor de rosa e nunca, nem em um milhão de anos, faria algo que pudesse ser realmente prejudicial a vocês, pelo menos... Não intencionalmente, rs. (:

Anyway, good night!

01 novembro 2013

4. You Make Me Love You - Capítulo 27

Duas em uma


Música do capítulo: You're not sorry - Taylor Swift
    (Provavelmente, vai acabar antes do esperado, então coloquem para repetir)

Belieber’s
POV

    Eu estava subindo as escadas até o segundo andar, seguindo Manuela e me perguntando o motivo pelo qual eu respondera “sim” àquela pergunta idiota. Qual era o meu problema, afinal? Por que, sabendo que aquela garota estava me decepcionando como ninguém nos últimos tempos, eu aceitara conversar com ela, ciente dos riscos que corria de acabar estragando toda a minha felicidade? Por que mesmo depois de tudo eu não conseguia dizer não a ela?

    Enquanto chegava aos últimos degraus e me aproximava da porta do quarto da morena, não consegui deixar de pensar no meu pequeno pedaço de bolo de chocolate abandonado na cozinha. De fato, eu nem sentia mais fome, mas aceitaria qualquer desculpa para conseguir ganhar tempo. Infelizmente eu não era corajosa o suficiente para usar isso ao meu favor e encobrir minha curiosidade.

    Entrei no seu quarto, me sentindo meio contrariada por mim mesma, e escutei a porta se fechando logo atrás de mim. Eu teria sentado na cama e esperado até que Manuela se manifestasse e dissesse o motivo para toda aquela cena, mas não me sentia a vontade para aquilo. Aliás, esse não era o comportamento que eu teria com um estranho e era isso que Manu havia se tornado nos últimos meses.

    – Você não pode ir embora! – Manuela disparou, finalmente se afastando da porta.

    Ótimo! Ela estava completamente bêbada!

    Sinceramente eu não conseguia entender a lógica mágica das pessoas ao meu redor. Elas conseguiam ficar semanas e semanas sem me dirigir uma palavra sequer, mas quando eu finalmente tomava uma decisão que representasse um progresso na minha vida, todo mundo decidia argumentar e me impedir de executá-la. Será que isso só não fazia sentido e parecia maléfico para mim?

    Aliás, o que isso poderia significar? Era uma espécie de organização para me deixar perpetuamente deprimida? Algo como “Ei, (Seu nome), você ainda não chorou e sofreu o suficiente. Volte para o seu quarto e fique lá se lamentando e pensando no quanto a sua vida é um lixo e não ouse voltar aqui até acabar”?

    Parecia mesquinho. E psicótico.

    – Você estava ouvindo a minha conversa com a Pattie? – desconversei, sem qualquer vontade de prosseguir naquilo.
    – Foi um acidente, mas isso não vem ao caso, agora. – continuou, completamente indiferente ao meu tangível desconforto.  – O que você precisa saber é que tudo o que falou lá em baixo é absurdo demais. Você não pode ir embora assim!
    – Na verdade, eu posso... – respondi, naturalmente – Eu tenho um avião!
    – Não é sobre isso que eu estou falando, (Seu nome)! – ela pareceu impaciente ao falar – Eu estou falando sobre não ser a atitude certa a tomar...
    – Ah, não! – arfei, sem consegui me controlar depois de ouvir essa – Você realmente quer discutir o que é certo e o que errado comigo? Você? Agora?
    – (Seu nome), você pode me escutar, por favor. Eu estou falando sério! – pediu, esforçando-se na falsa expressão de dó – Você não pode simplesmente sair voando por aí e esquecer tudo o que você tem aqui...
    – O quê? – não consegui conter minha perplexidade – Tudo o que eu tenho aqui? E será que você pode me dizer o que raios eu tenho nessa droga de lugar? Eu não tenho absolutamente nada aqui. Nada me impede de pegar um avião para qualquer lugar e sumir. Eu não sou você e não tenho um motivo pelo qual devo ficar. E é exatamente por isso que não estou te pedindo para ir comigo, porque você ainda tem coisas e pessoas que te prendem aqui!

    Na verdade, não era bem só por isso que eu não queria companhia.

    – Será que você não enxerga, (Seu nome)? Você por acaso está ouvindo suas próprias palavras? – disparou com a voz tomada por certo ultraje – Será que você não consegue entender? Se você não tem nada aqui, o que eu poderia ter? Você deveria seriamente repensar seus conceitos...

     Eu estava começando a ficar ligeiramente assustada, porque, apesar de todo o tempo de cinismo e mentiras por trás de cada atitude partida de Manuela, aquele episódio não parecia se encaixar nos outros. Afinal, a cobra nunca enchera os olhos de lágrimas e medo e deixara os lábios freneticamente trêmulos para despejar seu sarcasmo sobre mim. Não como estava fazendo agora.

    – Você pode ser mais direta, Manuela?

    Desmontei.

    Eu não ainda não tinha ideia de como era dolorido dizer o nome dela em voz alta e esse foi o momento em que finalmente notei tal incômodo. Mesmo sem a certeza de que aquilo era motivado apenas pela suposta emoção do momento ou se esse desconforto sempre estivera comigo – apesar de todas as minhas alfinetadas silenciosas à sua pessoa – desde que aquela muralha se estabelecera entre a gente, eu não podia negar que me incomodava me sentir dessa maneira, com tamanha aversão.

    – Você não pode ir embora! Isso é tudo o que eu estou dizendo. – Manuela respirou fundo, segurando o ar por um longo instante.
    – Nesse caso... Me desculpe te decepcionar – eu não tinha certeza de estar arrependida –, mas eu vou mesmo embora. E não há nada que você possa fazer quanto isso!
    – Você não vai! – ela bateu o pé, mimada – (Seu nome), eu não estou te pedindo para não ir, eu estou exigindo. Como eu disse... Você não pode simplesmente virar as costas para tudo isso aqui e sair andando. Você não pode abandonar tudo o que você é e que ainda está aqui. Você não... Você não pode jogar fora tudo o que aconteceu, de uma hora para outra. Pelo menos, não depois de tudo o que eu fiz por você.

   
Tudo bem, essa me pegou um pouco desprevenida. Precisei pensar sobre aquelas palavras duas vezes para me certificar de que realmente tinha ouvido aquilo e ainda assim pareceu muito fora do contexto. Aliás, durante todos esses meses não havia uma palha que aquela garota se dispusesse a mover por mim, então... A que ela estaria se referindo? Será que Manuela considerava amável da sua parte permitir que uma ninguém como eu respirasse o mesmo ar que ela?

    – E você pode me dizer que atos louváveis são esses? Que ações de amor e compaixão são essas que a senhorita fez por mim? – indaguei, deixando-me levar pela gotinha de raiva que havia se infiltrado em meu sangue.
    – (Seu nome)... – seu sussurro saiu como uma fina linha de voz que eu quase não escutei, enquanto ela parecia entrar em conflito – Saia daqui, agora! Por favor!

    Antes que eu pudesse me opor com um sonoro “não”, meu coração pareceu mudar de estado, se tornando completamente líquido e escorrendo como ácido para o meu corpo. Diante de mim, a cobra havia se transformado em camundongo assustado e tentava controlar com uma força absurda os soluços do início de seu pranto, parecendo quase estar a pedir piedade da minha parte.

    Embora ainda não tivesse decidido se iria confrontar suas mentiras por fim ou simplesmente acalmar seu desespero, dei um passo adiante e não fui tão bem recebida como esperava. Como uma criança em pânico, Manuela recuou de imediato, agachando-se e pondo-se embaixo da sua cama. A única coisa que poderia denunciar sua presença no cômodo eram os soluços de seu choro desesperado, que agora eram bem mais audíveis e pareciam piores do que se ela tivesse acabado de ver um palhaço zumbi – Manuela tinha trauma e pavor de palhaços com aparência maléfica, ou seja, quase todos.

    Pacientemente, me agachei ao lado da cama, levantando o lençol marrom de seda que caia graciosamente até o chão. No escuro, encarando a base do colchão, estava Manuela completamente atordoada, ainda tentando conter um choro que estava decidido em cair pelo seu rosto. Por incrível que pareça, apesar de tudo isso, eu ainda escolhi permanecer firme. Não podia fraquejar mais, depois de tanto tempo agindo como uma covarde. Eu não podia mais me dar ao luxo de bancar a tonta.

    – Eu não vou sair, Manuela. Pelo menos, não até você me dizer do que está falando exatamente! – afirmei, tentando convencer a mim mesma de que era durona o suficiente para isso – O que você acha que quer dizer ao falar sobre todas essas coisas maravilhosas que você supostamente fez por mim?
    – Me deixa em paz, (Seu nome). – Manuela bufou, ainda hostil.
    – Por que eu deveria? Por que é difícil para você admitir que a única coisa que você fez desde que chegou aqui foi transformar a minha vida em uma grande merda? Ou você ainda prefere manter esse seu papel ridículo de boa samaritana, enquanto continua pisando mais e mais em mim com a maior cara de santa sonsa do mundo? É sobre isso que você está falando, Manuela? Ou vamos continuar com o nosso teatrinho eterno, fingindo que você não sabe que me arrancou uma das coisas mais importantes para mim? Nós vamos realmente fingir que está bem o fato de você ter me apunhalado pelas costas quando eu mais precisava de você? É isso?
   
    Eu havia pegado pesado e sabia disso. Sabia, mas não me importava.

    Até agora.

    Eu não conseguia ver muito na escuridão que se mantinha embaixo da cama, mas logo após essas palavras, Manuela se moveu e seu rosto ficou parcialmente iluminado por um feixe de luz do quarto, intencionalmente. Enquanto seus olhos perfeitamente castanhos me fitavam, uma pequena e solitária lágrima desceu pelo canto de sua bochecha sempre rosada. Um estalo e meu coração estava se quebrando mais uma vez – como se ainda pudesse ser possível.

    – Você não entende mesmo, não é? Como pode isso? Eu fiquei com medo de você achar tudo óbvio demais e me desmascarar logo na primeira semana e, no entanto, aqui estamos nós. – eu podia sentir o peso de todas as lágrimas de Manuela apenas em sua voz – Supostamente eu deveria ficar orgulhosa de mim, mas eu ainda não aceito que você realmente acreditou nisso... Quero dizer, nós somos melhores amigas, (Seu nome), como eu poderia fazer isso com você? Mas eu fiz e o que você fez para reagir? Nada, nem uma tapa na cara, nem um palavreado feio, nem raiva explícita, nada. Eu não te reconheço mais! Você deveria me torturar, porque eu roubei seu namorado, me aproveitando da situação dele. Mas, mesmo assim, você agia como se nada estivesse acontecendo. Por quê?

    Minha cabeça girava a vários quilômetros por hora, tentando fazer com que tudo o que eu estava ouvindo fizesse sentindo, mas não havia nada muito complicado, além da breve confirmação de que Manuela estivera fazendo tudo aquilo de propósito com a mesma cara de pau que utilizava para me contar toda aquela história, jogando-a na minha cara. Ainda assim, com todas as suas confissões óbvias, a morena chorava como se estivesse prestes a ir para a cadeira elétrica, pagar pelos seus feitos.

    Ironicamente essa situação apaziguou minha raiva por completo, dando lugar a toda a tristeza das últimas semanas, que voltou com força total. Aquelas afirmações, acusações e perguntas eram demais para mim. Meu coração não era capaz de lidar com tudo aquilo ao mesmo tempo e ainda manter a enorme camisa de força que havia envolvido em volta de si mesmo. Eu não tinha mais mentiras as quais me segurar, dessa vez.

    – Porque eu estava sozinha, Manuela! – berrei – Não no sentido literal da palavra, mas meus pensamentos estavam sozinhos com as lembranças que antes eram minhas com outro alguém. Eu já tinha perdido o Justin, todo mundo que estivesse minimamente ciente da situação podia ver isso. E então eu perdi você também. O que adiantaria eu me revoltar? O que adiantaria eu te chamar de “piranha” e depois partir para quebrar a sua cara? A única coisa que eu conseguiria seria machucar a mim mesma. Então, sim, eu estava com raiva, mas... Mas vocês sorriam na companhia um do outro. Isso me matava por dentro, a um ponto de não me permitir fazer nada a respeito!
    – Você tem noção de como foi difícil para mim? Eu simplesmente tinha que acordar todos os dias, passar uma maquiagem idiota no rosto, sorrir e sair para beijar o seu garoto. Eu tinha tanta certeza de que você sabia que Justin é, e sempre foi, apenas o meu bebê, minha grande inspiração e nada mais do que isso. Mas eu estava errada, o que me possibilitou continuar com tudo isso, o máximo possível, porque eu sabia o que estava fazendo. – os soluços de Manuela começaram a ficar mais espaçados, o que significava que o choro estava cessando, por fim – Sim, eu sabia que eu estava enganando o Justin e a todos, enquanto o beijava, ficava de sorrisinhos por aí e te olhava com cada vez mais desprezo. Mas eu sabia também que ao fazer isso estava te mantendo aqui!
    – Eu não...
    – Eu vi, (Seu nome). Não tente mentir para mim, tudo bem? Eu vi o pavor em seus olhos, quando recebeu aquela estranha notícia do psicólogo do hospital e vi também esse pavor crescendo a cada segundo que se passava e Justin não vinha até você. Eu tinha que fazer alguma coisa! – a morena me interrompeu com naturalidade, como se não pudesse mais conter todas essas verdades – Eu pensei, em um primeiro momento, em contatar alguém, talvez Selena, mas eu não confiava em ninguém que pudesse lidar com você dessa forma e a última opção que sobrara fora eu mesma, então eu fiz isso. Me aproximei de Justin, permitindo que ele se afundasse em cada boa memória que tinha de mim, mas ao mesmo tempo, secretamente, buscando fazer com que ele não se apegasse muito a péssima pessoa que eu sou. Eu fiz isso, porque eu te conheço, (Seu nome), talvez até melhor do que você mesma. E eu sei... Eu sei que a única coisa que pode competir com o seu medo é o seu orgulho. Se você estava apavorada o suficiente para voltar para casa correndo, eu tinha que fazer algo para você se sentir na obrigação de ficar aqui e lutar por algo que ainda é seu e alguém ousou roubar!

    Eu ainda não havia conseguido calcular direito se aquelas palavras faziam ou não sentido, mas eu estava começando a amolecer, principalmente ao ouvir Manuela dizer claramente “ainda é seu”, se referindo a Justin. Infelizmente essa dormência emocional estava sendo causada por uma tristeza chata que me batia sempre que eu lembrara que essa hipótese era tão falsa quanto possível para o próprio Justin.

    – Manuela, eu nunca ouvi algo tão absurdo em toda a minha vida! – discordei, tentando manter firme minhas decisões e toda a frieza que eu demorara tanto para construir sem tanto sucesso – Toda essa história sobre eu ser uma garotinha indefesa poderia fazer sentido há algum tempo, mas não agora. Eu não tenho mais sete anos, Manuela. Eu não vou necessariamente fugir sempre que algo difícil aparecer na minha vida...

    De repente, o lençol que eu continuava levantando mexeu-se rapidamente e Manuela colocou metade do seu corpo para fora da cama, com um movimento totalmente calculado que a colocava na posição ideal para me encarar. Em um minuto, eu estava olhando para uma pequena parte do seu rosto em meio à escuridão, e no outro, seus olhos me fitavam intensamente, bem de frente para mim, me incitando a admitir todas as verdades que eu guardava a sete chaves.

    – Ah, é mesmo? – perguntou, com um traço bem distinto de cinismo – Se você tem tanta certeza assim, olha nos meus olhos e diz que você não pensou em ir embora inúmeras vezes, antes de me ver ficando com o seu namorado? Você só precisa dizer isso...

    Mordi a língua, frustrada. Era verdade, eu ainda era uma garotinha de sete anos. Eu não conseguiria dizer aquilo, pelo menos não para ela, que tinha culpa no fato de eu ainda estar por ali. Mesmo que eu tivesse pensando em ir embora após flagrá-los juntos, havia sempre uma pontada forte em um lado do meu coração que me lembrava que a minha suposta melhor amiga estava com o meu – meu! – namorado e, então, eu me convencia de ficar mais um pouco para pegá-lo de volta. Isso não teria acontecido caso não tivesse assistido aquela traumatizante cena dos dois juntos no sofá da sala há longas semanas atrás.

    Meu silêncio parecer servir como resposta para Manuela.

    – Entende agora? Nós duas sabemos que é verdade! – a morena quebrou a quietude com toda a vivacidade da sua indignação – Mesmo que eu te aconselhasse a ficar, te amarrasse em uma cadeira, você iria embora e ninguém poderia te repreender por isso, porque é uma situação assustadora e terrível, mas... Como sua amiga, (Seu nome), eu não poderia deixar que você fizesse isso, que você desistisse dele, porque você não sabe! Você não sabe como é lindo ver vocês juntos. Você não sabe como era a expressão de vocês ao olharem um para o outro. E, principalmente, você não tem idéia de como merece alguém especial como ele, depois de tudo que já aconteceu. Algumas vezes, inclusive, eu ficava preocupada, porque você parecia querer se afastar dele ao invés do contrário, mas você permanecia aqui, então eu apenas esperava que logo essa situação se revertesse. E ainda espero. Em outras palavras, você não pode jogar tudo o que eu fiz até agora fora assim...
    – Quer saber, Manuela? É realmente muito tocante tudo o que você falou, mas não muda nada. Não agora. – suspirei, começando a sentir o pequeno amontoado de lágrimas que embaçavam meus olhos – Eu aprecio tudo o que você falou, mesmo sem saber se compreendo, mas... Ainda assim, você não sabe o quanto eu perco um pouco de mim a cada dia que eu permaneço aqui!
    – Tem certeza disso? Certeza que é só pedaços de você que tem ido embora?

     Aquele miado quase inaudível que saiu de sua boca pareceu acompanhar a mensagem que seus olhos transmitiam. Por todo o tempo que se passara, eu pensei que Manuela estivesse completamente satisfeita e feliz com tudo o que vinha acontecendo em sua vida. Mas, naquele quarto, sem qualquer máscara emocional que ela pudesse usar, sua expressão parecia muito mais pesada e solitária que eu já vira no rosto sempre alegre e sorridente dela. Era macabro conseguir perceber isso.

    Não dava mais para distinguir se o que eu sentia era raiva, tristeza ou  melancolia. Aliás, no momento, tudo o que se passava pela minha cabeça era o sorriso constante de Manuela, sempre acompanhado do modo levemente histérico. Há alguns anos, eu não conseguiria imaginá-la tão desolada assim, mas ao mesmo tempo eu sentia que já havia visto aquela expressão antes, como se faltasse alguma coisa.

    “Desculpa!”, Manuela sussurrou, parecendo se sentir culpada.
    “Tudo bem, não foi nada...”, falei, enquanto ajeitava tudo na mala.
    “Eu não estou me desculpando apenas pelo que falei agora!”
    “Ah, não? Está se desculpando por que, então?”
    “Por ter arrastado nessa viagem louca...”

    Ok, por essa eu não esperava! Isso só poderia significar uma coisa: a Manu estava realmente pior do que aparentava. Tomada pelo meu coração mole, sentei-me ao lado da minha melhor amiga e perguntei:

    “E então, o que aconteceu?”
    “Ryan...”
    “O que ele fez?”
    “Ele me pediu em namoro, na noite em que retornamos a Nova York...”

E, então, a minha ficha caiu!

   
Ryan...

    A expressão de Manuela pareceu ainda mais vazia após eu pronunciar esse nome tão claramente, me fazendo concluir que eu estava certa – embora não restassem dúvidas. Ela havia voltado a tentar conter as lágrimas, mas agora, diferente do que ocorrera há alguns minutos atrás, o choro vinha de forma silenciosa, como se aquela fosse uma dor exclusivamente dela e ninguém merecesse compartilhar isso. Obviamente eu compreendia isso como ninguém, porque eu sentia exatamente isso por outros motivos.

    Porém, embora eu já tivesse percebido a razão de tanta angústia, ainda sentia como se aquela tristeza fosse contrastante demais com a Manuela que eu conhecia, porque parecia uma dor maior do que qualquer outra que eu pudesse me recordar. Havia algo maior por trás daquilo, algo que eu estava deixando escapar e que me impedia de ligar todos os pontos daquela rede de mentiras que começara a se desenrolar.

   
Por acaso, ele sabia de tudo isso que você articulou? – arisquei, por fim, logo após esforçar-me para reestruturar a voz completamente sóbria e engolir todo o começo de um possível choro.
   
Não! – precisei fazer um esforço exagerado para identificar suas palavras em meio a tantas lágrimas misturadas com aflição – Não poderia. Ele não entenderia, começaria a pensar besteiras, como, por exemplo, que eu estava usando essa desculpa para me aproveitar de algo ou que eu estava simplesmente surtando. Eu sabia que não agüentaria sentir que mais alguém estava contra mim dessa forma, sem poder compreender meus pensamentos. Então, eu terminei com ele... De mentira, na minha cabeça, mas de uma forma bem real e terrível quanto possível, para ele. Eu precisava fazer com que ele me odiasse, porque se por algum motivo ele ficasse atrás de mim, eu sei que não suportaria por muito tempo.

    Lentamente as coisas iam começando a fazer sentido na minha cabeça, mas ainda restava um monte de buracos a ser preenchidos. Eu nem tinha a certeza de realmente suprir a todos, porque ainda não havia me decidido se acreditava em tudo aquilo ou não. A minha única preocupação no momento era a de não ser sentimental demais. Eu não poderia demonstrar fraqueza e deixar que Manuela se aproveitasse de mim por algum motivo, mesmo que já não me parecesse mais possível.

    Durante um estranho longo minuto de silêncio, Manuela retornou parcialmente para debaixo da cama. Ao voltar, ela abandonou seu esconderijo por completo e estendeu para mim um pedaço de papel decorado com algo escrito em sua letra perfeitamente redonda. Mesmo sem entender o motivo daquilo, fiz o que seus olhos me mandavam e peguei a folha, preparando-me para lê-la.

     Surpresa, percebi ser o mesmo papel que Manuela segurava no dia em que eu entrara subitamente em seu quarto, querendo indiretamente acabar com todas as minhas dúvidas – tarefa em que não tive tanto sucesso. Era o mesmo papel que ela se apressara para esconder da minha vista e, então, eu entendia o porquê...

    “Querido Ryan,

     É a centésima vez que eu começo a escrever essa mesma carta e minha lixeira já está começando a ficar abarrotada de papéis amassados que nunca mais serão usados. Eu não acho que isso importa de alguma forma, porque eu não sou corajosa o bastante para te enviar o resultado de todo esse amontoado de textos já escritos. E mesmo se fosse, você provavelmente rasgaria em mil pedaços antes de ao menos começar a ler. Você deveria fazer isso. Eu gostaria que fizesse (afinal, eu realmente não recomendo se importar comigo, pelo menos, não depois de tudo o que eu falei).

    Na verdade, ao mesmo tempo em que eu digo que você não deveria ler, eu estou escrevendo para me desculpar por aquela noite. Eu estou parecendo patética (e sou mesmo), mas eu preciso tirar esse peso de mim de alguma forma, porque isso está me consumindo mais do que eu poderia imaginar. E, sinceramente, quisera eu que esse desgaste fosse por causa da culpa que eu deveria estar sentindo, mas não é. O problema mesmo é a falta. A falta que você me faz. Eu não estou vivendo mais por conta disso.

    Eu não consigo dormir direito, porque eu fecho os olhos e penso em você (pensar em você me faz chorar. Como eu disse, sim, eu sou patética!). Eu não consigo comer direito, porque quando eu começo, me lembro das suas palhaçadas para me fazer rir até quando eu estava à mesa e, então, você não está lá e as coisas parecem sem sabor. Eu não consigo não fingir o tempo todo e isso me ajuda um pouco a não pensar ou a não me arrepender pelo que eu fiz (gostaria de um dia poder te explicar o motivo, mas eu não creio que você gostaria de ouvir).

    Acreditando que você não queira mais saber sobre mim, vou direto ao ponto. Eu sinto muito, muito mesmo por tudo! Eu disse coisas horríveis para você e te fiz acreditar que todo esse tempo que nós ficamos juntos foi o mesmo que anos jogados fora. Ironicamente, eu tentei contar essa mentira para mim mesma, pouco depois que você foi embora, mas não tive tanto sucesso. Meu coração se tornou dependente demais do seu para agora se convencer de que você foi menos do que tudo para mim. E ainda é. Na verdade, eu sequer consigo me sentir mal por isso, porque apenas me faz lembrar a importância que você teve em minha vida.

    Há alguns anos, eu via você fazendo uma participação em um clipe do seu amigo, em alguma foto por aí ou na minha timeline e apenas pensava “o Ryan é tão demais”. Então, eu te conheci e percebi que “demais” não era a palavra certa para te descrever. Meu anjo soa melhor para mim, porque foi o que você se tornou depois de tanto tempo. Bom, desculpe-me por isso novamente, mas não há mesmo termo melhor que englobe toda a graça e brilho que você acrescentava no meu dia a dia, a cada pequeno minuto, mesmo quando a sua presença se fazia ao longe.

    Antigamente, eu costumava pensar que estava bem por mim mesma, que não havia nada que eu não pudesse fazer sozinha e... Realmente não há, mas você me fez descobrir que não é sempre o fazer por você mesma que torna algo mais prazeroso, porque, às vezes, ter uma mão a qual segurar torna o todo muito melhor. E, depois de você ter me mostrado isso da melhor forma possível, eu não sei se quero realmente ter que voltar a me virar sozinha, como antes. Eu quero você de volta!

    Mas eu sei que se você, algum dia, pensou em mim dessa forma, provavelmente agora não pensa mais e eu nem posso te culpar por isso. Eu não sou capaz de te explicar os motivos por trás da minha atitude detestável e, com isso, pedi para que você compreenda e me perdoe seria esperar demais de qualquer um – embora você não seja qualquer um. E você não devia ter que passar por cima de seu orgulho e de seu amor próprio, apenas por minha causa. Acredite, eu não valho tanto à pena.

    Ainda assim, eu espero que você passe por essa fase muito rapidamente e, logo, esteja com uma nova garota. A garota certa. A garota que eu não pude ser para você. Porque, acima de tudo, você merece ser muito feliz com alguém que mereça você e o seu jeito extremamente encantador, divertido e perfeito. Eu espero também que quando essa pessoa aparecer, ela perceba o maravilhoso coração que tem nas mãos e não te deixe escapar por nada. Porque se o fizer, isso significa que ela é realmente muito, muito boba. Digo isso por experiência própria.

    Eu não sei se ainda estou no direito de terminar essa carta como gostaria, mas em todo caso, eu só queria te agradecer por cada dia que você ficou ao meu lado, por cada sorriso que você fez brotar no meu rosto, por cada lágrima de surpresa, felicidade ou de amor que não cabia só em mim e tinha que transbordar... Por todas as coisas que você já fez por mim, até mesmo inconscientemente. E, mais uma vez, eu sinto muito por não ter sido capaz de retribuir isso! De qualquer forma, você ainda continua sendo o sol dos meus dias e eu peço desculpas por ter escolhido ficar na sombra, apesar disso.

    Eu ainda te amo tão intensamente como o brilho do seu sorriso pela manhã,
                                                                                                                                     Manuela M.”
    Não chore. Não chore. Não chore.

    Meu coração estava na mão quando acabei de ler aquela carta tão detalhada em um sofrimento tocante, mas eu não queria ter que começar a chorar como Manuela estava fazendo há certo tempo. Mesmo que agora eu compreendesse tudo, deixar que meu lado emocional prevalecesse significaria sentir uma dor muito maior do que a que eu sentia quando já estava tentando ser forte. Embora eu não quisesse me achar frágil a esse ponto, também não tinha certeza se agüentaria todas aquelas informações, caso deixasse as emoções entrar abertamente.

    Minhas mãos se apertaram ao redor daquela carta, quando focalizei meu olhar em algumas palavras soltas. Frases como “eu não sei se quero realmente voltar a ter que me virar sozinha”, “eu não valho tanto a pena” ou “a garota que eu não pude ser para você” pareciam tão profundas se integradas ao conteúdo da carta, mas tão soltas se pensadas nas mesmas saindo da mente de Manuela.

    Embora Manu nunca tivesse sido o tipo de garota metida e insuportavelmente autossuficiente, uma de suas características mais marcantes e admiráveis era que ela sabia quem era. Não importava quem a chamasse de histérica, criança, boba, sonhadora, iludida ou barulhenta, ela aceitava todos esses adjetivos com o maior orgulho do mundo e se definia de uma forma única, como Manuela Magalhães de Oliveira. Eu sempre pensei que fosse essa satisfação em ser quem ela era o motivo do seu constante sorriso. Mas, ao ler aquela carta, não havia um pingo de amor próprio ali, assim como não havia um só vestígio de sorriso em seu rosto. Não havia Manuela.

    Durante todas essas semanas, não houve Manuela e eu não fui capaz de reconhecer isso, exatamente porque também não havia nenhuma (Seu nome) ali, que pudesse por acaso reconhecer à amiga.

   
– Eu sinto muito, Manuela... – sussurrei, por fim, recompondo-me.

    Sua resposta a minha lamentação foi dita em um volume tão baixo que, mesmo esforçando-me, não consegui decifrar e achei melhor não deixar isso transparecer. Aliás, a minha real vontade era de puxar o assunto daquela conversa para outro ângulo, mas eu ainda tinha receio do quão frágil poderia estar Manuela e do modo como ela interpretaria minhas perguntas, que poderiam ser bastante ofensivas. Ainda assim, não parecia ter outra saída e eu cheguei à conclusão de que não poderia me culpar por ser rude. Eu estivera sendo deixada de lado por muito tempo, sem todas as estruturas que antes de mantinham no eixo, então não estava sendo tão fácil confiar em tudo o que eu ouvia.

    – Eu não queria parecer grosseira, mas eu não vejo outro jeito de tirar as minhas dúvidas, então eu vou direto ao ponto, porque eu realmente preciso entender essa história direito e... Eu não acho que isso me convenceu de verdade. Quero dizer... Você sempre foi uma garota esperta, Manuela. Esperta o suficiente para pensar em algo tão baixo, então, sendo assim, como você não pode ter pensado nas conseqüências que isso tudo teria? – eu atropelava as palavras, nervosa demais para dizê-las de forma pausada e completamente inteligível – Você queria que eu permanecesse aqui, porque achou equivocadamente que isso provocaria algum resultado positivo entre mim e Justin, mas... E depois? E se desse certo, o que você faria? E quanto a mim, ao Justin, a Pattie e todos aqueles que você supostamente inocente enganou? O que faria para recuperar a confiança deles e explicar tudo isso? O que faria para voltar novamente com Ryan? O que faria quanto a você mesma?
    – Eu voltaria para o Brasil, seguiria a minha vida exatamente como a pessoa normal que sou e me esforçaria para esquecer tudo o que aconteceu aqui... Eu não sou tão burra ou dissimulada quanto você está achando, (Seu nome). Eu pensei, e pensei muito, durante um tempo razoável sobre tudo que essa decisão me traria, mas eu não me vi com opções de fazer diferente. – ao final de cada oração, Manuela respirava fundo, tentando se impor um pouco de calma – Mas eu sabia que no momento que eu começasse com tudo aquilo, eu teria que ir até o final. Com isso, eu provavelmente nunca teria a sua confiança e a do Justin de novo, porque eu não seria tonta de tentar me explicar. Vocês não acreditariam e não faria diferença de qualquer forma. Pattie seria mais pacífica, porque é o jeito dela, mas eu sabia que por trás da sua doçura sempre haveria um pouco de desconfiança, já que eu seria para sempre “a garota que traiu a melhor amiga”. E quanto ao Ryan... Eu não esperava que nós voltássemos. Quando eu fiz aquilo, eu soube que seria definitivo e que eu estava abrindo mão dele. Ele nunca mais vai querer olhar na minha cara de novo. Ele me odeia, de verdade! E eu... Eu ainda o amo tanto, mas... Mas ele não liga mais.

    Lágrimas e mais lágrimas, que dessa vez não eram somente de Manuela. Eu já não estava conseguindo me controlar mais, tomada pela imagem da morena à minha frente chorando compulsivamente e também por uma raiva de mim mesma que crescia forte dentro do meu peito. A dor que eu estava começando a sentir começava na cabeça, que me lembrava a cada segundo que eu tinha sido a peça chave da separação de Ryan e Manuela. Mesmo que eu não tivesse sequer me metido nisso, a culpa era minha e eu tinha que assumir.

    Porém aquilo ainda não se encaixava ainda no meu mundo, afinal, não havia lógica para que tudo aquilo fosse feito. Eu estava com medo de estar sendo paranóica demais, desconfiando de tudo que me era dito, mas era demais. De verdade, eu não conseguia visualizar uma situação que alguém se dispusesse a fazer tanto por mim, até porque não havia tantos motivos que a levassem a isso.

    – E por quê? Por que você fez isso, hein? – arquejei, sentindo os lábios trêmulos de desespero, enquanto segurava a mão de Manuela, lentamente.
    – Porque nós somos ou éramos, eu não sei, melhores amigas e era isso o que eu tinha que fazer. – ela falou como se fosse a coisa mais sensata do mundo. – Você merece isso, (Seu nome). Você estava prestes a desistir de uma das melhores coisas e, talvez, a mais certa que já aconteceu na sua vida. Você ia jogar tudo fora. Eu não podia permitir!
    – Você, por acaso, é louca? – me exaltei, quase involuntariamente – Consegue perceber o quão absurda você soa falando assim? Isso não faz sentido, não é certo. A verdade não é só essa, porque é pedir demais de alguém, Manuela. Eu sei que tem algo a mais...
    – Então, continue achando o que você quiser, (Seu nome). Eu não me importo, porque eu sei que nada do que eu disser vai te fazer pensar diferente da sua idéia tola de achar que não vale uma palha sequer. – Manuela voltou a parecer hostil, mas os olhos ainda permaneciam úmidos – Mas, sim, eu fiz isso por você, porque eu prometi para o Lucas que iria proteger você e é isso que eu estou fazendo, protegendo você de si mesma. Aliás, é isso que os amigos usualmente fazem. Por mais que você pense que não é preciso ou que é mais do que você merece, não há nada que você possa fazer quanto a isso... Ou melhor, há sim. Se você realmente quer fazer valer tudo o que eu fiz por você, continue aqui e não desista do Justin. Eu estou te pedindo... Por favor, (Seu nome), não vá embora!

    Manuela apertava a minha mão com força, enquanto os olhos me imploravam mais que tudo para que eu ficasse – não só no país, como ao seu lado. Mas eu mesma não sabia como lidar com essa outra vertente que surgira de repente. Afinal, em um momento, estava tudo perfeitamente bem, com boa parte da minha vida resolvida e, de uma hora para outra, todos os meus problemas resolveram mergulhar em um mar de clonagem, fazendo aparecer outros ainda mais inesperados.

    Porém, mesmo estando ciente de tudo o que eu escutara na última hora e sabendo que o meu coração já voltara a acreditar em cada palavra que ela garota havia dito, eu não me sentia no direito de voltar atrás daquela vez. Eu sentia que estava amadurecendo ao conseguir virar essa página e não conseguia mais me colocar na posição de dúvida, de querer voltar para os capítulos anteriores que já haviam sido lidos. Eu tinha que fechar o livro de uma vez ou acabaria por nunca sair dali.

    – Desculpa, Manuela... – me afastei subitamente, separando sua mão da minha e me pondo de pé ao seu lado – Eu não posso fazer isso. Eu realmente aprecio muito o que você fez por mim, embora não ache uma forma de suprir todo esse sacrifício, mas ficar aqui não é uma opção para mim. Eu vou viajar amanhã e não há nada que você possa fazer...

    Com um peso a mais no coração, dei as costas para aquela que eu chamava de amiga e me pus a caminho da porta. A cada passo que me distanciava de Manuela era uma batida mais dolorida do meu coração, mas eu sabia que já tinha passado por isso várias vezes nos últimos tempos e iria passar, mais cedo ou mais tarde. Ficar ali só faria com que a cicatrização se demorasse mais, então eu tinha mais um motivo para me afastar.

    – (Seu nome)! – a voz da morena ecoou pelo quarto com muito mais vida do que tivera nos últimos minutos, quando eu já estava com a mão na maçaneta – Se você sair por essa porta agora, não seremos mais amigas...
    “Amigas”. Essa palavra ecoou pela minha cabeça durante alguns longos segundos, enquanto eu permanecia com a mão sobre a maçaneta da porta. Com um pouco mais de esforço, tentei visualizar todos os episódios terríveis e decepcionantes que haviam ocorrido ultimamente, entre mim e minha suposta melhor amiga. Mas os que vinham a minha mente sumiam rapidamente. A única imagem que realmente ficou foi a mais recente possível: a mão de Manuela apertando a minha com força, buscando um ponto de apoio. Eu ainda representava isso para ela. E ela ainda era a Manuela para mim. Eu não sabia se, algum dia, ela deixaria de me parecer essa imagem da graciosidade, mas muito provavelmente não.

    Porém, subitamente, uma avalanche das más lembranças me pegou desprevenida. Trazendo toda a negatividade possível, junto com a melancolia, eu pensei em Justin e nos mínimos detalhes que, para muitos, poderia parecer nada, mas para mim significavam o mundo. Um mundo inteiro cheio do meu coração dolorido por essas mesmas lembranças que não iam embora nem por um só minuto.

    “Qual é o seu nome?”
     “Nós éramos próximos?”

    “Eu acho que ele gosta de você também!”

    “Você trapaceou?”

    Eram apenas frases soltas, que quando pronunciadas por entre lábios específicos se tornavam cortantes como facas. E eu não podia mais pensar em suportar mais doses disso. Eu não era forte o suficiente para agüentar aquilo por mais um dia que fosse.

    Decidida, abri a porta, pronta para sair e para deixar que as lembranças saíssem também.

    – Eu sinto muito, Manuela...


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Capítulo 27, nenéns!
Capítulo polêmico, cheio de "nossas", "uuuh" e, talvez, #TeamManu retornando? Ou não? Enfim, de qualquer forma, não digam que eu não avisei, porque eu falei que vocês estavam sendo maléficas demais com a Manuela :c
 Aliás, escrever esse capítulo foi superdeprimente, porque a história do Ryan e da Manu é tão linda, que mds! Ela não é detalhada na ib, mas na minha cabeça, ela é linda, rs.
  Enfim, vou dedicar esse capítulo a linda da Maria Graziela, que deu um super up no meu astral agorinha mesmo. Aliás, eu queria muito agradecer a todas vocês por continuarem comigo e estarem ali quando eu preciso. Às vezes, eu simplesmente estou destruída e só de falar com vocês sobre qualquer assunto bobo, já me sinto renovada, feliz, tudo. Acho que eu nunca vou poder retribuir isso, mas muito obrigada mesmo, sério.

   E meu último lembrete: Esse final de semana acontecerá os shows do Justin e... A todas vocês que vão, aproveitem muito, gritem, chorem, mas principalmente não pisquem um só segundo, porque cada um deles será único, ok? E, se não for pedir demais, pensem em mim quando o Justin cantar "Be Alright", porque meu coração vai estar doendo muito nessa hora... Mas, enfim, NINGUÉM aqui quer saber das minhas lamentações, não é? Então tá, para você que não vai DESSA VEZ, belieber, respire bem fundo, ok? Porque sua hora vai chegar, só... Não deixa para lá, ok? Não desiste, ok?! Porque, como já dizia um dos meus filmes preferidos "você tem todas as armas que precisa... Agora, lute!" (:
   Confio em vocês, ok?

   Boa noite!