Nostálgica
Belieber's POV
Congelada, estática,
praticamente morta. Era exatamente assim que eu me sentia ou, pelo menos,
sentia o meu corpo, que não parecia ter qualquer perspectiva de como reagir aos
estímulos do meio naquele momento.
— Lucas?
A boca secou logo após
pronunciar o seu nome como se o meu próprio organismo duvidasse da minha
sanidade. Afinal, quem poderia dizer que aquilo não era só uma ilusão causada
pelo cansaço e estresse?
Apertei os olhos com força. Uma
péssima ideia ao considerar que eles já começavam a se inundar de lágrimas, mas
era um fator que eu não havia percebido até o presente momento quando finalmente notei que não era nenhuma bobagem da minha cabeça. Estava acontecendo e a
imagem de uma Manuela satisfeita encostada à bancada da cozinha deixava isso
bastante claro.
Um sorriso se abriu no rosto
daquele bem diante de mim e eu corri para encerrar a distância que ainda
existia entre nós – uma distância bem menor daquela que nos separava até pouco
tempo atrás. Assim que ele abriu os braços para mim, todos os pelos do meu
corpo se arrepiaram instantaneamente.
Eu estava em casa de novo.
Fazia mais de um ano que eu não
via Lucas e, com certeza, um bom tempo desde a última vez que ouvira a sua voz,
mas nada mudara. Talvez o corte de cabelo não estivesse mais o mesmo – aliás,
estava muito mais bonito – ou as feições do seu rosto tivessem mudado um pouco
mais. Mas era o mesmo perfume, o mesmo abraço, os mesmo olhos dissimulados de
quem sempre tem uma carta na manga para qualquer situação.
Quando ele riu da minha reação,
apertando-me mais forte sobre os seus braços, e eu percebi que era exatamente a
mesma risada, toda minha estrutura corporal fraquejou. Senti como se precisasse
do som daquele riso para me manter viva, porém não percebera isso até o
presente momento. No máximo do egoísmo, quis guardar aquele homem em uma gaveta
trancada para ele nunca mais poder ficar tão distante.
A máxima do “a saudades faz o
amor aumentar” nunca foi tão verdadeira.
— Amor da minha vida — ele ainda
falava comigo com exatamente o mesmo cuidado —, você não tem ideia do quanto eu
estava com saudades de você!
— Ah, eu tenho, sim... — Ri, a
voz totalmente embargada de uma considerável vontade de chorar.
Vale ressaltar que o meu
emocional claramente não estava em ordem nos últimos dias. Qualquer fato
irrelevante se tornava algo tão maior. Eu poderia chorar até mesmo se o zumbido
de uma mosca atrapalhasse minha concentração. Mas o Lucas não era uma mosca –
ainda bem, muitas garotas ficariam acabadas com isso — e chorar por ele era uma
coisa que sempre valeria a pena.
Isso não significava, contudo, que
ia me deixar desatar em um pranto de emoção com todas aquelas outras pessoas
presentes na cozinha.
Aliás, por falar nelas...
— Vocês...
Soltei Lucas por um instante,
girando o corpo lentamente para ver não só Manuela, mas Justin e Harry, que
haviam seguido até a cozinha, segundos depois de mim. Finalmente, a minha
ficha caiu!
— Vocês sabiam. — Arfei. — Vocês
armaram para mim! Anda, confessem!
— O que você acha? — Manuela
revirou os olhos, sorrindo, como se fosse óbvio demais até para uma pessoa
tapada como eu.
— Que audácia! — Minha expressão
se fechou em um biquinho de vergonha. — Isso não se faz...
Lucas havia deixado claro que só
conseguiria chegar para o meu casamento em cima de hora, de forma que eu só o
veria na cerimônia e não teríamos um tempo para ficar juntos. Aluno de medicina
na faculdade mais conceituada do Brasil, ele ainda caminhava para o último
período e começara a estagiar em um hospital particular para ter contato com a
vivência do seu futuro dia-a-dia. Tempo também não era algo do qual ele
dispunha muito.
Vê-lo ali, mesmo que tudo
estivesse corrido, era tão reconfortante. Saber que a gente teria
disponibilidade de curtir a companhia do outro, apesar de ser por um curto
período, era o melhor presente de casamento que qualquer um poderia me dar. Mas
eu esperava de verdade não ter que passar pelo constrangimento de me emocionar
na frente dos meus amigos.
Era para isso que servia o
casamento. Para eu chorar na frente de todos aqueles que conhecemos e, então,
eles terem material para rir de mim posteriormente. Ou seja, eles poderiam
esperar mais um pouco.
— Quer saber a melhor parte? —
Manuela deu alguns passos na nossa direção, encostando levemente do braço de
Lucas ao falar. — Adivinha de quem foi a ideia de não te contar nada?
Estreitei o olhar e arquei a
sobrancelha ao fitar o loiro diante de mim.
— Não me olha assim. — A
expressão do loiro era a mesma que ele usava quando alguma de suas “namoradas”
o flagrava aprontando alguma coisa, depois de avisar que ele não era para
namorar. — O que você esperava de mim?
— Você não muda, não é?
— Você gosta.
Seu sorriso cafajeste tilintou
para mim e eu amoleci. Cheguei a abrir a boca para falar mais alguma coisa,
mas, por alguns instantes, seu olhar se perdeu para algo que estava atrás de
mim. Me lembrei de Justin e Harry
parados na porta da cozinha e eu soube que teria muito que conversar com o meu
melhor amigo. Ele não iria pegar leve com as perguntas e eu... Eu não conseguia
sequer responder a mim mesma.
Suspirei, incapaz de pensar
nessa situação. Virei-me para a direção em que meu noivo se encontrara, pronta
para repreendê-lo por não ter me contado sobre o que Lucas planejara.
Obviamente, eu sabia que nada para eles – nem para mim – seria tão especial
quanto a surpresa, mas se eu soubesse, as coisas seriam diferentes. Por
exemplo, eu não precisaria ficar emburrada e nem ter me sentido rejeitada pelo
meu próprio futuro marido.
Essas coisas são relevantes na
vida de uma mulher.
Contudo, quando já me preparava
para falar, observei Justin sutilmente dar as costas para a situação e retornar
para a sala. Não sei por qual motivo exatamente isso me chamou atenção, mas
algo em sua expressão não parecia bom. Me perguntei se Lucas, com sua gentileza
digna de um elefante, já não teria feito com que ele se sentisse mal de alguma forma.
Considerar isso não me deixou muito feliz, mas era possível.
— O que foi? — Harry me distraiu
da apreensão ao começar a falar. — Nem adianta olhar para mim, eu só segui as
coordenadas da Manuela. O plano era te tirar de casa e te trazer de volta em
tal horário...
— Você é muito levado! — Soltei,
tratando-o como criança, enquanto me aproximava.
Abracei-o devagar, achando toda
aquela situação muito engraçada. Ao mesmo tempo, eu me sentia meio malvada e
desorientada, mas, dessa vez, era em um bom sentido. Aliás, tudo parecia ir
para o melhor dos significados possíveis quando Lucas estava por perto. Em
certo ponto, participando de toda essa armação cara de pau, Harry ganhava
tantos pontos comigo que dava até vontade de pedi-lo em casamento. Mas, por
alguma razão, isso não parecia mais necessário.
Até porque, devido à situação
que eu provocara lá embaixo, não tenho muita certeza se ele iria aceitar.
— Desculpa — sussurrei em seu
ouvido, evitando que outros ficassem cientes da nossa privacidade. — Se eu
soubesse, eu nunca teria te provocado desse jeito. Achei que teríamos tempo...
— Tudo bem. — Ele sussurrou de
volta, em um tom ainda mais baixo do que o meu. — Eu tenho um pouco de culpa
nisso também. Mas não pense que eu esqueci o que você falou sobre a lua de mel.
Não se esqueça você também, porque eu vou querer tudo...
Segurei o riso e me afastei de
seu abraço, trocando olhares que eram tão inapropriados que eu nem consigo
expressar seus significados. Obviamente, eu não trocaria a chegada de Lucas por
nada no mundo, mas a face de Harry realmente me fazia pensar que não seria tão
ruim a gente ter enrolado só mais um pouco na garagem...
— Bom, por ora, ela é toda sua! —
Falou, dirigindo-se a Lucas, enquanto me dava um beijo na testa. — Mas não
abuse.
— É mais capaz de ela abusar de
mim — ao lado de Manuela, Lucas respondeu sorrindo. — Vocês estão juntos há
bastante tempo, acho que já ficou óbvio o quão preguiçosa ela pode ser...
— E folgada.
— Abusada.
Estava aberta a temporada de
meter o pau na futura noiva. Olha, claramente, eu não era obrigada a me submeter àquelas
gracinhas debaixo do meu próprio teto.
— Ok, gente, já entendi o amor
de vocês por mim. — Interrompi, dramaticamente cruzando os braços. — Agora
chega, né?
— Tudo bem — Harry suspirou,
contendo um riso. — Boa sorte aí, cara!
Revirei os olhos para as
palavras do moreno e ele riu. Dando-me a língua, se despediu, retornando
até a sala de estar, onde imaginei que ele não ficaria por muito tempo, já que
era consideravelmente tarde.
Por fim, restara naquela cozinha
só eu, Lucas e Manuela, sozinhos. O quarteto fantástico de três pessoas. Que
nostalgia!
Naquele momento, no entanto, eu
estava em paz. Completa e serena. Ter Lucas ali era a melhor coisa que poderia
acontecer. A aura dele me dava forças, de uma forma que ele não precisava fazer ou
falar nada, só precisava estar ao meu lado e respirando. O mínimo de esforço
que ele pudesse ter já era suficiente para transbordar o meu coração de todos
os sentimentos bons que eu cultivava por aquele loiro.
Além disso, não era só a usual
boa sensação que ele trazia. Era a saudade. Uma saudade que, no dia-a-dia, eu
tinha que me obrigar a fingir que não existia, enquanto seguia na minha vida
agitada. Só que ela era inerente a mim, tão radicalmente que mesmo Lucas
estando ali, eu ainda a sentia. E, por mais que às vezes doesse, eu adorava
saber que essa saudade tão intensa era uma parte inseparável de quem eu era. Era
ela a responsável por não me deixar esquecer nunca o quanto eu amava esse homem
e muito menos dos momentos que a gente passara junto.
Em um minuto, eu estava
abraçando tanto Lucas quanto Manuela com toda a energia e força que eu ainda
tinha no corpo – o que obviamente era tão parca que se tornava impossível de
ser quantificada. Nós estávamos ali, nós três, como nos velhos tempos. Com
todas as mudanças esmagadoras da vida e com um novo status de pessoas adultas,
mas ainda éramos nós e eu queria gritar de felicidade.
— Acho que eu vou morrer de
empolgação! — Disse, ainda no meio do abraço. — Ou, ao menos, desmaiar.
Isso com certeza.
— Ei! — Manuela se pronunciou,
parecendo ultrajada com o que eu dissera. — Esse papel é meu. Ponha-se no seu
lugar.
Risos encheram a cozinha. Eu,
porém, não ria por conta do que ela falara. Eu simplesmente não conseguia
conter o tangível êxtase de estarmos ali, rindo e fazendo piada que faziam
referências ao passado. Aquele era basicamente um daqueles momentos em que sua
vida parece um episódio emocional do seu seriado cômico favorito. Meu riso
vinha dessa percepção e do furacão de sentimentos que ela despertava.
— Lucas — interpelei, assim que
consegui controlar minha alegria frouxa —, você está intimado a me contar cada
mísero detalhe da sua vida. Se prepare, porque essa vai ser uma longa noite, eu
quero falar de tudo.
— Bom... — Seu tom não parecia
muito amigável às minhas vontades. — (Seu nome), você sabe que eu te amo e,
olha, essa seria a coisa que eu mais apreciaria fazer. Mas, acho que você tem
outros planos para hoje...
Franzi o cenho, contrariada.
Dentro do meu conhecimento, o único plano que eu tinha feito para aquele dia
envolviam sexo e Harry Styles, mas eu já o havia cancelado. É válido, ressaltar
ainda, que não tinha como Lucas Barros estar ciente daquilo. Inclusive se
tivesse alguma forma de isso chegar até ele, bom, eu já teria me matado muito
antes que acontecesse.
— Na verdade, nós temos —
Completou Manuela, dando ênfase ao pronome utilizado.
Precisei de um minuto para
varrer minha memória, procurando algum momento em que eu tivesse marcado algo,
porque geralmente não era de esquecer compromisso. Foi então que – mais uma
vez de uma forma muito lenta — a minha ficha caiu e eu percebi o que estava
acontecendo. Ou melhor, o que não ia acontecer.
Eu iria me casar em dois dias.
Como poderia ser mais óbvio?
— Ela não fez isso... — Sibilei,
fitando Lucas, já desesperada.
— Repito: É a Manuela. — Ele
sorriu e eu pude sentir naquele sorriso vestígios de pena. — O que você
esperava?
Pensei em pegar uma faca e enfiá-la
algumas vezes dentro do meu cérebro para me convencer de que aquilo não estava
acontecendo. Mas estava e eu tive que me contentar em virar devagar para
Manuela e tentar matá-la com o meu olhar mais seco e cheio de ódio que eu
conseguia imprimir.
— (Seu nome), nem adianta querer
comer a minha cabeça — falou, sem mal olhar para mim, aparentando tanta
tranquilidade que chegava a dar mais raiva.
— Por que você faria uma coisa
dessas? — O mais chocante era eu estar incrédula ainda.
— Porque eu sou sua melhor amiga
— defendeu. — Eu não podia deixar que você casasse, que sua vida de solteira se
esvaísse assim sem que você tivesse a chance de presenciar caras lindos e
gostosos seminus dançando na sua cara, enquanto bebe e ri com suas amigas.
— Olha, tirando a parte dos
caras, ela tem um bom ponto — Lucas, como sempre, se intrometendo na hora
errada. — Talvez você nunca volte a ser solteira de novo.
— Talvez? — Me indignei. — Qual
o nível de credibilidade que você dá para o meu casamento, moço? Posso saber?
— Ei, calma aí! O seu problema é
com ela...
Lucas tinha razão. Eu não
conseguia imaginar o que Manuela tinha na cabeça ao organizar uma despedida de
solteira bem debaixo do meu nariz. Não tinha nada a ver comigo. Mas esse
comportamento "morde e assopra" tinha tudo a ver com aquela garota. Ela sabia que a chegada
de Lucas iria me amolecer para qualquer coisa e estava usando disso a seu
favor.
Dessa vez, eu não ia me deixar
levar tão fácil.
— Manuela Magalhães — respirei
fundo ao pronunciar seu nome —, eu quero que você me dê um bom, na verdade, um
ótimo motivo para eu comprar essa sua ideia.
— Que tal esse: eu já chamei
todas as suas amigas daqui e, inclusive, algumas já estão esperando por nós.
Não seria constrangedor ter que cancelar tudo agora? — A forma como ela falava
não transmitia muita segurança e ela sabia que eu percebia isso.
— Até aí o problema é seu! —
Rebati. — Não me importo para o constrangimento.
— Ah, é? — Ela cruzou os braços,
decidida. — E se eu te disser que não ter uma despedida de solteira dá azar para
o casamento. Vai arriscar?
Meus olhos se esbugalharam de
pânico.
— Lucas, isso é sério?
— Eu sei lá, acho que não. — O
loiro deu de ombros, despreocupado. — Mas, sendo ou não, você vai acabar indo
de qualquer forma.
— Ah, é? E por que eu faria
isso?
— Porque a Manuela é sua melhor
amiga, você a ama e é mais provável que um raio caia sobre mim agora do que
você consiga dizer ‘não’ para ela...
Pude ouvir Manu soltar uma
risadinha, claramente concordando com o que ele havia dito. Nesse momento, quis
bater o meu pé e me recusar a sair de casa, só para provar para os dois que
eles estavam errados.
Mas não estavam.
Inclusive, nenhum raio caiu
sobre Lucas.
Sorte dele. Azar o meu.
— Eu odeio vocês! — Declarei,
cruzando os braços.
— Se divirtam, meninas! — Ele
riu, caminhando em direção à cozinha. — E, (Seu nome), não se preocupe, quando
você voltar, vamos falar sobre tudo o que você quiser. Sem exceção, serei seu.
Eu sabia que Lucas estava
falando aquilo como forma de apaziguar a situação, até mesmo o fato de ele ter
basicamente entregado minha vida nas mãos de Manuela, ao expor minha
dificuldade em dizer “não”. Mesmo assim, não consegui deixar de ficar feliz com
isso, em pensar que ele “seria meu” como há tanto tempo não era.
Assim, quando me virei para encarar
Manuela com uma expressão bem má, eu já estava completamente dócil por dentro,
o que não me deixou ter tanto sucesso. Mas o que eu poderia fazer? Era Lucas. E
era Manuela. Eles poderiam fazer as maiores loucuras do mundo e teriam a total
liberdade de me incluir nelas, porque retinham anos e anos do meu amor e
entrega.
Decidi que iria levar os planos
de Manuela de forma leve, sem fazer birra.
Só que, quando encontrei seus
olhos novamente e ela sorriu de forma suspeita para mim, eu vacilei. Precisava
de muito pouco para eu conseguir ler em sua forma de se expressar que seria uma
longa noite, em que tudo podia e ia dar muito errado. A pior parte... É que eu
sentia que ia gostar.
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Migas, capítulo 31 aí direto para o coração de vocês.
Capítulo levinho, sem muitas delongas, mas muita nostalgia.
Espero do fundo do coração que vocês gostem, porque o menino mais safado e fofo do mundo está de volta nessa fic e ele não é do tipo que deixa as coisas caírem na monotonia. Quem gostou de ver o Lucas de volta?
Se vocês gostaram do capítulo, me contem. Críticas, pedidos e sugestões são muito bem vindos. Comentem! :)
Um beijo no core de cada uma...