06 janeiro 2014

5. You Make Me Love You - Capítulo 4

Relacionamentos que duram


Belieber's POV
    Os dias estavam passando rápidos demais para o meu gosto. Já havia chegado a minha terceira noite de volta àquela cidade, o que significava três noites a menos até o dia do meu casamento. Aliás, pelo que estava combinado, esse iria acontecer em uma provável tarde bonita dali a algumas poucas semanas. Mas, até lá, eu tinha algumas coisas a confirmar e tinha a companhia constante do meu noivo durante 24 horas.

    – Acabei! – ele cantarolou, fechando a porta do banheiro do meu quarto – Ainda está acordada?
    – Sim, assim como eu disse que estaria... – sorri, voltando meu olhar para sua figura quase nua, como de costume – Você esqueceu o resto do seu pijama lá dentro ou isso ainda é resultado da sua aparente alergia a roupas?
    – (Seu nome), não fale como se você não gostasse de tudo isso que está a sua disposição... – Harry riu, enquanto continuava a secar o cabelo com a toalha.

    Infelizmente ele não tinha ideia de como ficava maleficamente sexy com o cabelo úmido, a pele com o recém cheiro de sabonete e aquelas covinhas matadoras quando ele sorria. Combinado a todo esse conjunto maravilhoso, até aquela cueca preta era satisfatória, embora o deixasse parecido com um desses modelos sensuais que posavam para revistas voltadas para o público gay.

    – Eu não gosto, senhor. – afirmei, firme. – Na verdade, usando essa sua cuequinha capenga e, com essas pernas finas e branquelas de fora, você fica parecendo um grilo falante, sabia?   
    – Sério? – seus olhos claros se arregalaram de surpresa, enquanto ele sentava na cama, perto de mim
    – Não, eu estou brincando, Harry! – ri, fechando o caderno que estava em minhas mãos – Eu gosto de grilos falantes...
    – Você não muda, não é? – Harry sorriu de lado, se aproximando de mim, devagar. – Desde que eu te conheci, você vive me comparando com insetos. O que é isso? Minhas fãs realmente mentiram para mim durante todo esse tempo, alegando que eu sou bonito, ou você simplesmente tem algum trauma terrível de infância com algum desses pequenos seres vivos, hein?
    – Ei... – miei, constrangida – Você sabe que eu te amo, não sabe?
    – Talvez, eu saiba, mas agora... Por ter sido uma garota tão malvada, eu vou precisar que você prove isso para mim. Vem!

    Harry me puxou para perto rapidamente, fazendo com que o caderno que estava em minhas mãos caísse sobre a cama. Mordi o lábio inferior involuntariamente quando suas mãos se apertaram em minha cintura e ele me fitou fixamente com aquela expressão safada. Mas diferente do que eu esperava, Harry não avançou para mim com toda aquela voracidade típica. Seus lábios encostaram-se aos meus em um rápido selinho, antes de começar um beijo lento e demorado.

    Eu poderia descrever momentos como aqueles como um abraço de um enorme urso de pelúcia em um dia rigoroso de inverno, mas o único problema era que eu sabia aonde esse romantismo todo iria nos levar. Eu sabia que o jeito ousado de Harry era intenso o suficiente e eu já estava acostumada com isso, porém, quando ele iniciava tudo com aquele toque de veludo, tudo ia por algo abaixo, porque a partir daquele momento eu faria qualquer um dos seus desejos. Qualquer um.

    A última vez em que esse idiota começou desse jeito tão sereno, eu me encontrei tão louca no meio da noite que eu comecei um assunto descabido sobre pensarmos em ter um bebê. Eu sei, eu sei... O que raios eu estava pensando quando sugeri ficar grávida bem no meio da minha turnê? Pior, ficar grávida com a idade minimamente ridícula que eu tinha? Não tinha qualquer possibilidade disso acontecer, mas ele conseguia me tirar de qualquer estado de lucidez.

    Quando eu já estava completamente perdida na doçura do seu beijo e na leveza daquele toque, Harry me surpreendeu. Um pequeno riso e, um segundo depois, ele já estava quase me deitando na cama de novo, enquanto intensificava ainda mais o ritmo do nosso romance. Com suavidade, eu segurava seu rosto em minhas mãos, tentando lembrar a mim mesma que eu não poderia deixar aquela situação escapar do meu controle. Eu precisava ser forte, mesmo que fosse tão difícil.

    – Harry, Harry... – interpelei, no milésimo de segundo em que sua língua já não estava mais na minha boca – Calma!
    – (Seu nome), se eu estivesse com mais calma do que já estou, eu estaria morto em cima de você! – ele bufou, antes de arquear as sobrancelhas.
    – Não foi isso que eu quis dizer, garoto, mas... – respirei fundo, recuperando o fôlego – Mas não é bom você falar sobre "estar morto", enquanto está em cima de mim... Isso me desanima!
    – E por acaso eu já desapontei alguma vez, senhorita?
    – Eu sei, eu sei... – sorri, dissimulando por completo – Eu deveria agradecer mais vezes à existência da famosa pílula azul!
    – Ah, garota, você está passando dos limites...

    Subitamente Harry acabou com toda a distância sobre nós, jogando todo o peso de seu corpo sobre mim e eu soube naquele momento que ele iria me fazer pagar pelas minhas palavras, mas ele não me mordeu, apertou ou mesmo fez cócegas. Diferente do que eu estava acostumada, Harry suspirou profundamente e me fitou por um período de tempo maior do que eu esperava, estando perto o suficiente para que eu me sentisse embriagada pelo seu perfume natural.

    – O que foi? – ri, passando a mão pelo seu cabelo.
    – Você é linda, sabia? – sussurrou baixinho, aproximando os lábios de minha pele.
    – Hum, cabelo levemente cacheado, olhos claros, covinhas, sorriso que derrete meu coração... – analisei, calmamente – Eu não acho que seja eu quem detém a beleza em nosso relacionamento, sabia, moço? Você é perfeito!
    – Eu fico ouvindo você dizer essas coisas admiráveis e me pergunto o motivo pelo qual ainda assim, apesar de eu ser lindo como você diz, a senhorita ainda tem a cara de pau de fazer doce...
    – Nossa, Harry, você é suave como um coice de cavalo! – dramatizei, mostrando-lhe a língua – Para a sua informação, não é bobeira da minha parte, ok? Eu só acho que não devemos ir com tanta sede ao pote, afinal, caso você não saiba, com o casamento vem à lua de mel e, bem... Eu quero aproveitar essa experiência ao máximo, tudo bem?
    – Aproveitar a lua de mel ao máximo? – os olhos de Harry brilharam mais do que o normal – Você está pensando no que eu estou pensando?
    – Bom, nós estaremos em Paris e é uma das cidades mais românticas do mundo, então...
    – Então... – ele me interrompeu, cheio de segundas intenções – Imagine o que podemos fazer na Torre Eiffel, hein?
    – Nós poderemos fazer o que você quiser, onde quiser e muito mais. Mas, para isso acontecer, você vai ter que se controlar um pouco até lá! – informei, antes de morder seu lábio inferior.
    – Ou seja, em outras palavras, você precisa de uma pausa, porque não consegue aguentar a potência de um homem como eu, não é?
    – Não seja ridículo, Styles!
    – Tudo bem, moça, não vamos nos estressar por besteiras, afinal, eu posso aguentar ficar um pouco sem você, mas não por muito tempo, ok? – a expressão dele mudou de insatisfeita para divertida em poucos segundos – Eu acho que, enquanto isso, eu vou ter que me preocupar em comprar alguns pornôs extras.
    – Você realmente precisa disso para se distrair sem mim? – franzi a testa involuntariamente, segurando minha vontade de rir dele só um pouco.
    – Eles não são para mim, linda. – Harry revirou os olhos e eu notei, de imediato, que ele também estava com vontade de rir. De mim. – Você disse que poderíamos fazer o que eu quisesse, então eu realmente acho que você precisa assistir um pouco mais disso para não ser pega de surpresa!

    A minha reação àquela proposta seria, com certeza, acertar um soco tão forte no nariz dele que provavelmente teríamos que ir até o hospital em seguida, mas eu realmente não queria um homem de nariz quebrado me esperando no altar, então tive que reconsiderar minha ideia de vingança. A única coisa que eu sabia era que suas palavras não iriam ficar impunes, afinal, como um ser humano que me conhece muito bem há quatro anos e já dormiu comigo sabe se lá quantas vezes pode ter a audácia de me subestimar dessa forma?

    Tomada pela fúria, empurrei-o bruscamente para o meu lugar e me sentei em cima dele sem dó. Em um piscar de olhos, levei minhas mãos até seu cabelo, segurando-o firme e puxando com força para trás, enquanto cravava minhas unhas em seu peitoral. A realidade era que eu queria rasgar sua pele ali mesmo, arrancar cada fio de cabelo em seu corpo, lhe extrair todos os órgãos e então jantá-los no dia seguinte com uma boa taça de vinho, enquanto ria e perguntava para o vento se aquele pobre garotinho indefeso sabia com que estava lidando. Mas tive que abandonar essa possibilidade, porque não parecia ser algo muito legal – mesmo pensando na legislação de outros países.

    – Você tá duvidando de mim, Styles? – sussurrei assustadoramente, com os olhos fixos nos deles – Quer tentar dizer isso de novo? Quer insinuar mais uma vez que eu não sei o que estou fazendo? Tente!
    – Bom... – ele suspirou lentamente, parecendo gostar a cada vez que eu puxava ainda mais seu cabelo – O que acontece se eu duvidar mais uma vez?

    Eu sabia que ele estava esperando de mim bem mais do que eu precisava fazer, mas mesmo assim eu queria ver até quão longe Harry Styles poderia levar aquele seu discurso barato que difamava sua futura esposa. Ou talvez nem tão futura assim.

    Instintivamente, mordi seus lábios com voracidade, várias vezes seguidas, enquanto minha mão descia até seu pescoço e eu movia meus quadris devagar bem acima dos deles, sabendo que não havia qualquer mínimo espaço entre nossos corpos. Eu sabia que o nível de safadeza de Harry era elevado ao limite quando eu fazia aquilo, assim como o nível de sua cueca box preta também. Ele gostava dos meus movimentos, gostava do modo como eu fazia tudo minimamente calculado. Pena que era tão difícil admitir!

    Respirei fundo, antes de começar a beijar seu pescoço devagar, junto com leve mordidas. Eu sabia que Harry provavelmente estava pensando que eu iria parar por ali, como costumava fazer, mas não daquela vez. Com certa cautela – para não acabar caindo no meu próprio truque –, fui descendo com os lábios devagar, permitindo que eles tocassem toda a extensão do seu peitoral. Talvez fossem as luzes, mas aquelas tatuagens estavam parecendo bem mais sexys do que eu costumava me lembrar. A última vez que elas pareceram assim fora... Duas noites atrás. Mas eu não ia me deixar levar por aquilo de novo. Eu ainda estava com o controle.

    Hesitei ao chegar à região de seu ventre e suavemente soltei minha respiração, esperando até que cada pêlo do corpo do meu noivo se arrepiasse, o que aconteceu logo. Em seguida, passei minhas unhas pela lateral do seu tronco, antes de permitir que minhas mãos deslizassem por suas partes íntimas bem devagar. Dei uma última olhada para a expressão de Harry, que já parecia meio descontrolado exatamente como eu planejara, e mordi meu lábio inferior, ainda fitando-o. Estava chegando o momento final!

    Devagar, cravei os dentes nos limites da sua cueca e puxei-a bem delicadamente, fazendo com que ela se movesse uns poucos centímetros, mas sem mal sair do lugar. Felizmente Harry nem se dera ao luxo de se preocupar com isso e, antes do que eu esperava, senti seus dedos subirem pela minha nuca rapidamente e, então, sua mão se fechou enquanto ele segurava meu cabelo com força. Ah, pequeno Harry, sua mente pervertida ainda não é competente o suficiente para te impedir de cair no meu jogo...

   – Quer saber? – suspirei, levantando meu tronco devagar para poder encará-lo melhor – Eu não sou tão boa nisso. Você estava certo, eu devo mesmo assistir mais pornografia para melhorar meu desempenho sexual. Bom, fazer o quê? Boa noite!

    Seu aperto em meu cabelo se afrouxou – talvez pela incredulidade – e, no exato segundo que isso aconteceu, eu rolei na cama, colocando-me no meu lugar de sempre, na posição que eu costumava dormir, e fechando os olhos. A única coisa que eu tinha que conseguir controlar era a vontade de observar a expressão de Harry mudar para alguma de total frustração e também a vontade de soltar uma gargalhada maligna, como nos filmes.

     – (Seu nome)... – suas palavras saíram em um fiapo de voz tão fino que eu achei que estivesse apenas imaginando – Você ainda não está dormindo, está?
    – O que foi, Harry? – abri os olhos devagar, exagerando na feição de cansaço.
    – Aquilo que você disse sobre cansaço e estar deitada para dormir... Isso é brincadeira, não é?

    Os olhos de Harry estavam esbugalhados de tensão e sua expressão de insatisfação chegava a ser tocante, na verdade, era até fofo por ele parecer tão desolado. Por um segundo inteiro, tive vontade de esquecer tudo, arrancar aquele único pedaço de pano que cobria seu corpo e pular em cima dele sem dó, mas... Mas ninguém mexe com o meu orgulho e sai com um sorrisinho cínico no rosto.

    – Harry, eu pareço estar brincando? Eu estou cansada! – menti, descaradamente. – Além disso, eu nem sou tão boa assim quanto o assunto é sexo, como você deu entender há pouco, então... Por que tanto desespero, hein?
    – (Seu nome), pelo amor de Deus, não faz isso comigo! – ele choramingou no meu ouvido, me encoxando devagar. – Você sabe que eu estava brincando, não sabe? Foi uma brincadeira boba, mas... Mas, você é perfeita, amor, é maravilhosa, gostosa, linda e tão boa de cama que deveria dar aula para garotas de programas...

     Garotas de programas?

    – Harry, para de graça! – ri, sem me deixar levar, afinal, embora tê-lo a minha disposição fosse bom, o gosto da vingança era ainda melhor – Aliás, para de se esfregar em mim, vira para o lado e dorme...
     – Eu não estou brincando, (Seu nome). E, aliás, nós nem precisamos transar. Talvez, você possa só...
     – Não, Harry, eu não vou fazer isso. Eu não vou fazer absolutamente nada hoje! – afirmei, tentando ser forte.
     – (Seu nome)... – Harry aproximou os seus lábios da minha orelha, sussurrando as palavras daquele jeito que ele sabia que mexia comigo – Por favor, eu sei que você quer...
     – Se eu me chamasse Harry Edward Styles, talvez, mas... Como esse não é bem o meu nome, não, não quero! – foi mais difícil resistir dessa vez, considerando que aquela voz gostosa dele me derretia facilmente – Olha, você procurou por isso, tudo bem? Agora, encare as consequências como homem. Por hoje, é sem qualquer tipo de sexo, sem preliminares, sem provocações, sem nada, a menos que você me estupre!
    – Hum... Isso é uma proposta séria?
    – Não exatamente.
    – Tudo bem. – Ele bufou, impaciente, antes de se levantar da cama – Eu vou ao banheiro, então...
    – Você não vai... – arqueei uma sobrancelha sugestivamente, virando-me para ele.
    – Vou! – interrompeu-me, sem qualquer vestígio de vergonha na cara.

   Enquanto observava Harry se afastar, respirei fundo, controlando uma risada. Eu tinha que me sentir satisfeita com essa pequena tortura, mas eu sabia que ainda podia brincar muito mais com a cabecinha do meu namorado. Aliás, ainda haveria muitas noites até a nossa lua de mel e, até lá, bem... Talvez eu pudesse usar, a cada dia, somente as lindas peças que eu ganhara no meu chá de lingerie que ocorrera há algum tempo. Ah, Manuela, suas ideias nunca me pareceram tão boas!

    Há várias noites, quando eu cheguei ao meu quarto de hotel, depois de um show da minha turnê e dei de cara com muitas das minhas amigas prontas para fazerem bagunça, aquilo me assustou um pouco. Mas, no final de tudo, eu realmente tive que agradecer a Manuela – que organizara tudo por si mesma, ligando para os meus contatos femininos e cuidando de tudo o parecia necessário para que aquela brincadeira acontecesse – por me proporcionar uma noite tão divertida e com tantos presentes lindos. Definitivamente ela era a madrinha mais querida e mais autossuficiente do meu casamento...

    Mas isso era só um capítulo da importância de Manuela em minha vida. Ainda era um pouco inacreditável, para mim, ver que, apesar de tantos altos e baixos da minha época mais sombria, a morena me tratava como a melhor pessoa da vida dela. Talvez pudesse ser apenas efeito da reconciliação com o Ryan, na qual eu ajudara bem pouquinho, mas eu realmente não acreditava ser só isso. Ela apenas voltara a me tratar do jeito natural e histérico dela e eu adorava isso.

    Embora Manuela ainda fizesse questão de me agradecer por algo que acontecera há anos, a cada vez que me via, eu não podia negar que Ryan era uma parte muito importante do que ela era atualmente, então voltar a namorar com ele depois de uma discussão tão terrível – mesmo sendo falsa – também seria. E provavelmente esse fora o motivo pelo qual ela fez questão de me ligar e me contar cada detalhe, logo que aconteceu e durante também...

    A morena estava indócil, enquanto o elevador subia devagar pelos andares do hotel, antes de chegar ao oitavo, onde ficava o quarto que eu havia indicado a ela. Havia um bom motivo para que ela estivesse nervosa, mas nenhum desses explicava o fato de ela ter voado pelo corredor, buscando com pressa o número que estava anotado em um papel em alguma daquelas portas de madeira escura.

   Ao encontrar finalmente, hesitou a encostar a mão na maçaneta, mas a vontade de ver o que estaria depois daquela porta era maior, tão maior que chegava a ser uma necessidade. Assim, os momentos seguintes passaram-se em um piscar de olhos. Manuela entrou no quarto e lá estava ele, exatamente como ela se lembrara. Ou nem tanto. Quando Ryan, por fim, se virou para ela, reagindo ao som da maçaneta girando, seus olhos não pareceram mais tão receptivos e felizes como de costume.

    "Manuela?", indagou, surpreso.
     "Hã... Oi!", foi a única coisa que ela conseguiu dizer ao sentir seu coração voltar a bater devagar somente por estar no mesmo ambiente que ele novamente.
    "Manuela... O que você está fazendo aqui?", a expressão de descontentamento dele era visível e isso a incomodava. "Foi a (Seu nome) quem me chamou aqui, não foi? Quero dizer... Ela disse que precisava falar comigo sobre o Justin e eu... Bem, eu nem sabia se tinha algo que precisava ser dito, mas não me pareceu certo ignorá-la dessa forma, até porque..."

    Manuela sabia que Ryan não costumava falar muito, pelo menos não sem respirar entre os períodos como ela fazia, assim era fácil identificar seu nervosismo sobressaindo a cada vez que ele simplesmente piscava os olhos. Em outra situação, ela provavelmente acharia isso fofo, mas não quando sentia que todo o peso da responsabilidade de restaurar seu relacionamento estava bem em suas mãos. E o tempo estava passando...

    "Ah, meu Deus! Como eu não pensei nisso antes?", seu tom de voz mudou antes que Manuela conseguisse ao menos parar de buscar seus olhos azuis. "Vocês armaram para mim, não foi? A (Seu Nome) nem mesmo está aqui, não é? Como... Como..."
    "Ryan, não é o que...", ela não sabia o que dizer, mas precisava tentar algo.
    "É, sim! Eu fui enganado de novo, não?", ele revirou os olhos, antes de começar a andar até a porta, onde ainda estava Manuela. "Eu vou embora!"
    "Não!"

    Em um segundo, Manuela fechou a porta que ainda permanecera aberta e, por segurança, se pôs entre ela e Ryan, tentando se agarrar às esperanças que ainda lhe restavam. Ela estava aguentando firme para não começar a ter um acesso de choro para que seu ex namorado não pensasse que ela estava buscando pena para consegui-lo de volta, já que isso era uma das piores coisas que poderia passar pela sua cabeça.Afinal, a imagem que Ryan tinha dela já não era das melhores e Manu não precisava dar mais motivos para estragar o pouco que lhe restava – mesmo que não restasse quase nada, de fato.

    "Manuela, eu tenho coisas para fazer...", ele suspirou, impaciente.
    "Pare de falar o meu nome assim.", foi o pedido mais simples que ela poderia fazer, mas significava mais do que alguém de fora entenderia. Ele estava chamando-a como se ela fosse uma estranha e, acredite, eu sabia bem o que era ser tratada dessa forma.
    "O que você quer de mim, hein?"

    Muita coisa, eu poderia apostar, conhecendo a importância que ele tinha para ela. Um abraço, um carinho, um beijo, uma declaração de amor, algumas desculpas aceitas, o cheiro do seu perfume novamente penetrando em suas roupas, o tom doce ao se dirigir a ela, a sensação de seus olhos fazendo com que ela perdesse completamente o controle, um sorriso motivado por tão somente ela. Ele, por completo, como costumava ser.

    "Ryan, eu só... Só...", Manuela arfou, desorientada. "Eu só quero que você me escute, por favor. Por um minuto."

    Ele não pareceu muito animado com o seu pedido. Na verdade, Ryan não pareceu sequer disposto a conceder esse pequeno momento à Manuela. Enquanto ela esperava paciente para começar a jogar todas as suas explicações ao vento, no segundo em que ele assentisse, Ryan fitou o chão por um longo período e caminhou devagar pelo cômodo, até parar de frente a uma das janelas, completamente de costas para a morena.     

    "Tudo bem!", murmurou, por fim. "Mas, se for possível, seja breve, porque eu tenho que... Fazer alguma coisa, eu acho."

    Sabe aquela sensação horrível de quando você sabe exatamente tudo o que tem a dizer, as palavras estão até organizadas em sua cabeça, mas de repente tudo some, sua voz simplesmente não sai? Foi exatamente dessa forma que Manuela descrevera o momento e eu pude sentir que ela estava falando a verdade, porque não é a coisa mais fácil do mundo pedir desculpas, principalmente quando nem tudo está ao seu favor.

    "Ryan, eu... Eu estive pensando nesses últimos dias e eu... Quero dizer, um monte de coisas erradas aconteceu e...", ela engoliu em seco, revirando as palavras em sua cabeça. "Ryan, eu acho que nós... Não, nós, não. Eu acho que eu estive cometendo uma série de equívocos ultimamente e tudo foi saindo do controle, então..."
     "Sim, eu concordo!", suas palavras a surpreenderam bruscamente, assim como seu ato de se virar para ela rapidamente. "Muita coisa saiu do controle e é exatamente isso que eu quero evitar, Manuela. É melhor eu ir embora!"
     "Não, eu não...", Manuela mordeu os lábios novamente, buscando forças. "Eu ainda não disse nada do que eu gostaria. Você não está entendendo, tem tanta coisa que você precisa saber ainda e você não pode ir embora sem me escutar, sem me dar mais uma chance."
    "Eu te escutei, Manuela, por muito tempo, muito tempo mesmo e você mentiu..."
    "Eu não menti para você Ryan... Pelo menos, não da forma que você pensa.", a primeira lágrima já havia começado a deslizar pelo seu rosto. "Eu posso ter me enrolado um pouco, mas eu não conseguiria ser falsa com você!"
    "Eu te amei, Manuela!"

    Aquilo havia sido o golpe final, o momento no qual minha amiga fora atingida tão fortemente que não conseguia mais continuar a insistir. Alguns verbos depois de conjugados no passado são piores do que milhares de palavras desagradáveis pronunciadas nas mais diversas línguas. Em certas situações, o silêncio é realmente de ouro e, naquele momento, era óbvio que Manuela preferia ser atingida por um raio do que por aquele som horrível que resumia tudo ao passado.

    "Não...", miou, despreocupada em jogar todo o seu orgulho no lixo. "Por favor, não..."
    "Eu sinto muito, mas eu tenho que ir!", foi a última coisa que ele disse.

    Dessa vez, Ryan caminhou até a porta sem mais problemas, afinal, Manuela já não estava mais confortável em fazer qualquer drama ou mesmo se pôr entre a porta. Pelo contrário, ela já havia começado a chorar sem qualquer preocupação, como se qualquer coisa que ela fizesse em sua vida não tivesse mais sentido. Era tortuosamente dramático, mas era exatamente assim que a cabeça de Manuela funcionava. Mesmo sabendo que, depois que a porta se fechara novamente, deixando-a sozinha, seu corpo já não funcionava mais como antes.

    E foi um segundo depois disso que o meu telefone tocou, em outra parte do globo.

    "Alô?", atendi, desanimada, quando já me preparava para dormir.
    "(Seu nome)...", sua voz entrecortada por lágrimas me despertou depressa. "Deu tudo errado! Eu te falei que não iria funcionar... Eu o perdi, de verdade."
    "Manuela, por favor, se acalma!", pedi, já nervosa. "Por favor, respira fundo e tentar ficar bem, ok? O que aconteceu?"
    "Tudo, (Seu nome), tudo. Não saiu uma palavra sequer da minha boca, eu fiquei parecendo uma idiota, enquanto ele continuava completamente perfeito e indiferente a minha presença.", Manuela estava chorando tão desesperadamente que senti vontade de pegar um avião para encontrá-la no mesmo segundo, mas não parecia haver essa opção. "E, sabe qual é a pior parte? Ele... Ele disse que me amou. Desse jeito mesmo, no passado, como se agora eu fosse um nada para ele. (Seu nome), eu não posso lidar com isso. Eu ainda o amo tanto. Ryan é tudo para mim!"
    "Eu sei, Manu, eu sei.", suspirei, mordendo o lábio de tanta preocupação. "Mas talvez nós possamos simplesmente tentar mais uma vez. O que você acha? Quero dizer... Você sempre me disse que quando se quer muito uma coisa, você precisa correr atrás. Então, o que você está esperando?"
    "Eu não sei, (Seu nome)...", Manu pareceu ofegante, como se seu pranto a sufocasse. "Eu acho... Acho que eu poderia fingir que nada aconteceu e ignorar a existência dele se eu não tivesse insistido em vir aqui hoje, mas... Aqueles olhos e... Ele. Não é mais como se eu pudesse fingir que foi tudo algo criado pela minha cabeça, porque parece que cada célula do meu corpo tem uma parte dele. E, mesmo assim, isso não muda nada. Ele superou, seguiu em frente e eu não acho que nada do que eu fizer, vai fazer ele voltar atrás."

    Meu coração apertou devagar ao ouvir aquelas palavras, porque eu ainda sentia toda essa dor de perder alguma coisa e, mesmo depois dos últimos meses, depois da bagunça que a morena aprontara em minha vida, eu conhecia aquele coraçãozinho dela há muito tempo para saber que realmente não havia nenhum vestígio de maldade ali. E, acima disso, sabia que ele não merecia sentir todas essas coisas. Eu só não sabia como fazer toda aquela confusão parar para conseguir reconstitui-lo.

    "Manu, você não acha..."
    "(Seu nome), eu preciso desligar. Eu sinto muito, mas eu não estou me sentindo muito bem, ok?", Manuela me interrompeu rapidamente. "Me desculpa e... Muito obrigada por me ouvir e, mais do que isso, tentar me ajudar. Eu te amo, bebê!"

    Eu não tive tempo de responder, porque no segundo em que ela disse a última silaba, a ligação foi encerrada. Eu até tentei retornar algumas vezes, mas Manuela realmente não estava a fim de falar muito e era compreensivo... Se isso fosse verdade. Naquele dia, eu não soube, mas quando a morena disse que estava passando mal não era uma forma de falar ou uma figura de linguagem e, assim, em poucos segundos, ela estava desacordada, sozinha no quarto de hotel.

    "Manuela...", a voz masculina que chegara aos seus ouvidos ainda parecia tão distante. "Manuela..."

    Manuela não tinha ideia do que acontecera, mas sentia a cabeça latejar devagar e tortuosamente, quase como se estivesse fazendo contagem regressiva para explodir. Seu corpo estava confortável. Sua testa estava molhada e havia um leve gosto de laranja em seus lábios. Porém, acima de todas essas sensações estranhas, havia uma parte do seu resto, no canto esquerdo, que ardia de uma forma constante e agradável. Por algum motivo, isso fez com que ela abrisse os olhos, felizmente.

     "Manuela?", a mesma voz ecoou em seus ouvidos, porém mais satisfeita. E também mais satisfatória.
    "Ryan?", os olhos de Manuela se alarmaram felizes e ao mesmo tempo receosos. "O que você está fazendo aqui? Eu achei que você tivesse indo embora...”

    Com uma pitada de esperança, Manuela notou que o calor em seu rosto era provocado pela mão de Ryan, que acariciava a pele da sua bochecha devagar, e que estava deitada na cama do mesmo quarto, onde fora colocada possivelmente por Ryan. Notou também que sua testa provavelmente havia sido molhada com a água da garrafa que estava apoiada na mesa de cabeceira, o que fora feito novamente por Ryan. E, por fim, o gosto de laranja em seus lábios vinha do copo de suco que Ryan segurava na outra mão e que havia vindo junto com a bandeja de café da manhã do serviço de quarto de hotel, que estava também estava apoiada à mesa de cabeceira.

     Ryan.

    "Eu estava indo, mas eu acabei esquecendo meu casaco e...", ele explicou com naturalidade.
    "Ah!", a mesma naturalidade que Manuela não conseguia aparentar.
    "E, então, eu cheguei e você estava no chão.", Ryan acrescentou a última parte, parecendo sem graça. "O que aconteceu?"
    "Talvez eu tenha esquecido as últimas refeições...", não era animador para Manuela admitir aquilo.
    "Desde quando?", a pergunta de Ryan se encaixava perfeitamente no contexto, considerando que ele a conhecia muito bem, incluindo sua mania de deixar de comer quando estava animada demais... Ou chateada demais.
    "Ontem, de manhã...", seu suspiro tirava-lhe as últimas forças. "(Seu nome) me ligou, lembrando-me sobre o 'compromisso' de hoje e... Eu só não me senti mais com fome."
    "Toma!”, ele lhe entregou o copo de suco calmamente. “Vai fazer você se sentir melhor...”

    A vontade de Manuela foi de gritar quando Ryan afastou a mão de seu rosto, oferecendo-lhe o suco com a outra. Manu sabia bem que ele tinha consciência de que nada no mundo lhe fazia melhor do que o toque dele, do que a sensação de tê-lo para ela de volta, pelo menos, um pouco. Mas era embaraçoso demais dizer em voz alta. Assim, ela só pegou o suco em suas mãos e ficou fitando aquele líquido de cor bonita e todas as outras coisas que estavam na bandeja ao seu lado e pareciam deliciosas.

    “Está tudo bem?”, perguntou Ryan, notando sua resistência para comer alguma coisa.
    “Não...”, Manuela miou, após um longo minuto encarando-o.
    “Não? Ah, meu Deus! O que foi? Onde está doendo?”, sua preocupação quase a animou por alguns segundos, mas ainda não era o suficiente.

    Devagar, Manuela soltou o suco em cima da mesa de cabeceira novamente e ousou pegar a mão de Ryan suavemente. Para a sua felicidade, ele não recuou como ela esperava, embora parecesse bastante tenso enquanto Manu guiava sua mão lentamente até que esta estivesse sob o seu peito. A única coisa que ela esperava era que Ryan pudesse ao menos perceber que, a cada batida daquele órgão tão importante, a dor aumentava.

    "Olha, não complique as coisas para mim, por favor...", ele pediu, recolhendo sua mão novamente.
    "Você não se importa mais, não é?"
    "Manuela, como você pode dizer isso?", a incredulidade dele não parecia muito dentro do contexto.
    "Você já deixou isso claro, Ryan, e eu não posso nem ao menos te culpar por isso.", se Manuela algum dia na vida tivera autocontrole, então ele havia acabado naquele dia mesmo. "Eu cometi vários erros e sei disso, mas eu não consigo fazer o certo, eu não consigo simplesmente esquecer tudo o que aconteceu, antes de eu fazer essa idiotice. A cada segundo que eu estou respirando, eu estou simultaneamente pensando em você e lembrando-se de tudo o que você já me disse e de tudo o que a gente já passou. Ryan, isso está me corroendo, porque eu não consigo sequer te odiar por me ignorar tanto, mas... Mas eu não consigo mais lidar com isso, não dá!"

    Era a gota d'água e essa escorreu pela bochecha de Manuela no segundo em que ela fechou os olhos com força, tentando não encarar mais a realidade. Nas palavras da própria Manu, ela só queria que o mundo todo acabasse naquele segundo, que a Terra explodisse ou que simplesmente não conseguisse mais respirar.

    Porém, quando sua cabeça já havia voltado a latejar de dor e desespero, uma sensação nostálgica chegou até seus lábios. Um selinho e depois sua língua foi suavemente envolvida por outra. Não era uma coisa que ela estava esperando, mas fora a melhor surpresa que ela poderia ganhar, porém mesmo assim aquele singelo contato físico ainda parecia dolorido, embora a dor fosse o único forte vestígio de que tudo era real.

     Ainda assim, a surpresa fez com que Manuela não tardasse muito a abrir os olhos e, ao fazê-lo, Ryan se afastou, em um movimento súbito. Poderia aparentar só receio, mas ele não ousou olhar a morena nos olhos depois que do que havia feito e isso só serviu para deixar mais dolorido seu coração. A suspeita de que ele realmente havia se arrependido daquilo – se arrependido dela, principalmente, embrulhava ainda mais seu estômago. Ela podia sentir outra tontura vindo em sua direção.

    "Ryan, vá embora!", Manuela secou as lágrimas rapidamente, revirando os olhos de frustração. "Por favor..."
    "O quê?", Ryan não ficou nem de longe aliviado como ela esperava.
    "Ryan, você não entende, não é? Eu não posso ficar aqui, vendo você ser atencioso comigo, cuidando de mim e me beijando, sabendo que daqui a meia hora ou menos você vai sair por aquela porta, porque nada do que eu te disser pode te convencer da verdade...", Manuela hesitou mais uma vez, tentando controlar o resto do choro que ainda não viera. "Eu sei que eu mereço muita coisa para pagar pelos meus erros, mas você sabe que isso não é justo. Por favor, não me obrigue a sentir que te tenho novamente só para depois ter que perder outra vez..."
     "Manuela, você sabe como eu me senti naquela noite?"

     Aquele tipo de pergunta pegou Manuela desprevenida. Talvez, depois de todas as confusões em que ela se enrolara sem nem saber direito o que estava fazendo, remexer no passado não parecesse a coisa mais legal do mundo, principalmente considerando que aquele passado em especial era cheio de mentiras. Mentiras essas que ela sabia que feririam Ryan de alguma forma e que, pelo mesmo motivo, tentava pensar o mínimo sobre isso. Até aquele momento...

    "Aquela noite entrou de imediato para a lista de piores dias da minha vida. Você sabe bem tudo o que você me disse e eu não podia simplesmente fingir que não era nada, porque... Porque eu me sentia o homem mais feliz do mundo, Manuela, apenas por poder acordar todo o dia tendo o seu sorriso como uma das primeiras coisas que meus olhos viam. E, então, você vem e me diz que tudo o que eu acreditava era mentira e, mais do que isso, a coisa que eu mais prezava no mundo sequer era minha...", Ryan respirou fundo e, por um segundo, Manuela chegou a pensar que seus olhos estivessem cheios de água.

    Aquele era o momento perfeito para Manuela simplesmente interrompê-lo e assim não ser obrigada a escutar todas as dolorosas coisas que vinham em seguida, mas não era algo que lhe era possível fazer. Ela sabia que havia confundido muita gente nos últimos meses e, agora, já era tarde para ela simplesmente tapar os ouvidos e fingir não encarar a realidade.

    "Você sabe que Justin é como um irmão para mim há muito, muito tempo e eu não podia odiá-lo por isso, porque foi obra do acaso e ele nem mesmo sabia que nós já tínhamos namorado. Mas, ao mesmo tempo, eu não podia odiar você. Eu não conseguia, Manuela, porque eu...", ele se interrompeu, chacoalhando a cabeça como se buscasse esquecer uma ideia. "Eu acabei me odiando, na verdade, porque era tão óbvio desde o começo. Afinal, de quem você era fã desde sempre? Por quem você viajou até Nova York anos atrás? Nós sabemos que essas perguntas não têm a ver comigo. Eu só não sei como eu pude pensar que um dia você..."
    "Não! Não ouse dizer ou mesmo pensar dessa forma, por favor. Ryan, você não tem ideia da besteira que está dizendo. Sim, você está certo em dizer que eu só viajei pelo Justin, isso é inegável, mas não tem a menor relação com o que você está pensando. Quando eu morava no Brasil, ainda no colegial, eu também ia a festas e sociais, esperando conhecer algum garoto bonito e agradável e... Isso também nunca significou nada. Os garotos vinham até mim e não passava disso, porque eu sabia de alguma forma que eles não eram especiais como eu esperava. Talvez esse exemplo seja falho, porque Justin é um garoto muito especial, mas... Ele não é você!"

    O nervosismo fazia com que Manuela fosse atropelando as palavras rapidamente, mas com o tempo que eles ficaram juntos, Ryan já havia se acostumado com isso. Apesar disso, a morena só dizia verdades. Ela saíra com algumas pessoas antes de Ryan, mas eram episódios isolados, porque, embora não acreditasse no meu antigo princípio de Príncipe Encantado, ela sempre quis alguém diferente. Alguém que a fizesse sentir diferente - e ela havia encontrado um exatamente assim, em umas férias que passara no Canadá.

    "De qualquer forma, tudo o que eu te disse aquela noite era mentira. Sim, eu menti para você naquele dia e menti para o Justin e a (Seu nome) durante um longo tempo, mas eu não fiz por maldade. Eu só queria que todas as coisas ficassem bem, não só para mim. Ainda assim, tudo isso, todo esse teatro acabou, eu juro...", Manu suspirou, perdida em pensamentos e culpa.
    "Manuela, você está tremendo!", os olhos de Ryan se alarmaram ao vê-la tão perturbada.

     Obviamente era difícil para ela falar sobre isso, o que assustou Ryan. Mas o fato de ele tê-la abraçado apertado, puxando-a para mais perto pela cintura logo em seguida, não tornava nada mais fácil. Com certeza aquela sensação era agradável e sentir bem de perto o mesmo perfume que ela tanto gostara foi considerado um bônus, mas Manuela ainda precisava concluir o que tinha começado e precisava fazer isso olhando para os olhos de Ryan diretamente, o que fazia com que as verdades saíssem ainda mais facilmente.

     Assim, a morena se endireitou na cama suavemente, afastando-se um pouco apenas para poder fitar aqueles lindos olhos azuis. Os braços dele ainda estavam ao seu redor e, no momento, seus rostos estavam tão próximos que Manuela poderia sorrir de satisfação, mas seu coração ainda doía tanto com a incerteza, que ela só conseguiu pensar em como expressar tudo o que estava passando por dentro de si mesma.

    "Eu ainda não acabei. A coisa mais importante que você tem que saber é que... Apesar de eu ter mentido para as pessoas que eu mais amava no mundo, eu nunca fingi meus sentimentos por você. Eu não poderia, Ryan, porque eu nunca, em toda a minha vida, amei alguém do jeito que eu amo você...", Manuela sorriu sem graça, antes de passar a mão no rosto úmido pelas lágrimas. "Olha, você sabe que eu nunca tive um coração de pedra, mas eu sempre me virei bem comigo mesma, até conhecer você. É engraçado, porque durante toda a minha adolescência, eu ouvi meus pais e professores falarem sobre drogas e sobre como o vício nas mesmas é perigosa, mas ninguém conversava comigo sobre o amor. Eu só via nos filmes e livros, mas então você apareceu na minha vida e me fez entender que, por mais autossuficiente que eu possa ser, às vezes é muito bom precisar de alguém com a mesma intensidade que se precisa de ar pra respirar."

    Em toda a minha vida, eu nunca pensei que ouviria a Manuela dizer que precisava tanto de alguém. Obviamente ela precisava, mas para ela era tudo muito moderado, porque acima de tudo, ela precisava saber quem era ela mesma e porque ela costumava dizer que nunca devemos deixar as pessoas saber que estamos tão vulneráveis. Mas aquela era a segunda vez que eu ficara sabendo que seus sentimentos por Ryan eram tão fortes a ponto de ela colocá-lo acima de todas as suas certezas.

    "E mesmo me sentindo tão dependente de você, eu nunca pensei que fosse boba, porque você fazia com que eu me sentisse tão especial apenas pelo modo como você olhava para mim ou me fazia rir. Ryan, eu só... Olha, você sabe que eu não sou uma garota perfeita, sabe que eu vivo metendo os pés pelas mãos e, agora, você pode estar cheios de dúvidas em relação a minha personalidade, mas, por favor, eu te peço que não duvide do que eu sinto por você, porque... Eu te amo, Ryan. Eu te amo tanto que chega a doer!"

    Ao acabar de falar, Manu já havia voltado a chorar e, involuntariamente, apertava com toda a sua força o ombro de Ryan, que permanecia tão próximo quanto antes. Ela estava tensa de nervosismo e vulnerabilidade, mas tudo passou quando ela notou o modo como seu ex-namorado a olhava e, ao fazê-lo, um meio sorriso lindo se conservava no seu rosto. Em uma situação normal, provavelmente ela morderia aqueles lábios que gostava tanto, mas, naquele momento, aquilo parecia fora do contexto.

    "Hã... Por que você está me olhando assim?"
    "Bem, eu só estava... Deixa para lá!", seu sorriso quase desapareceu, enquanto ele desviava os olhos de Manuela, dirigindo-os ao chão. "Não é nada!"
     "Talvez não seja, mas me fez pensar que... Bom, não é nada demais também!", Manuela suspirou, ainda se sentindo meio sem jeito. "Você se lembra do nosso primeiro aniversário de namoro?"
     "Aquele em que eu percebi que todos os meus planos tinham dado errado um dia antes e eu tive que me virar de alguma forma para compensar isso...", Ryan revirou os olhos, insatisfeito por aquele passado. "Nós acabamos em uma praia no final da tarde com vários tipos de chocolates."
    "Foi um dos nossos melhores encontros. Você e eu sentados na areia clara da praia, observando um pôr do sol, enquanto eu  me entupia de chocolate. Eu estava me sentindo como a pessoa mais feliz do mundo até o momento em que você simplesmente surtou, disse que tinha que me mostrar uma coisa e, então, me jogou na água terrivelmente gelada."
    "Ah, por favor... Eu não sabia que estava tão gelada e, mesmo se estivesse, aquele dia havia sido tão quente. Como eu poderia imaginar?", naquele momento, Manuela quase sentiu como se as coisas estivessem normais novamente. "E, além disso, você quase me afogou com o seu desespero, então estamos quites."
    "Talvez. Mas eu realmente achei que fosse morrer de hipotermia, estava tudo tão frio! E ainda tivemos que ir para o hotel com as roupas geladas e molhadas grudando no corpo. Qualquer brisa me fazia querer morrer... Eu quis te socar tanto, Ryan, mas você só pegou essas coisas e deixou tudo perfeito. Eu ainda estava sentindo tanto frio e, então, naquela noite, você deitou ao meu lado e me abraçou tão forte. Eu juro que, naquele momento, eu não pensei em mais nada, exceto em como eu queria ter aquela sensação de ficar com você para sempre, de sentir você perto e nunca sentir mais nada além daquele calor que emanava de você...", a expressão de Manuela mudou sutilmente, quando o sorriso em seu rosto desapareceu. "Mas... Esses últimos meses foram os piores e mais frios da minha vida, Ryan. E eu não quero ter que continuar assim!"

     Ainda havia um sorriso no rosto de Ryan, quando Manuela acabou de falar. Mas antes que a mesma pudesse contestar isso de novo, ele levou sua mão suavemente ao rosto dela, tirando-lhe uma mecha de cabelo que ficara grudada pelas lágrimas e colocando-a atrás da orelha. Se Manuela nunca odiara Ryan antes, talvez isso começasse a acontecer naquele segundo, porque fazer com que ela estremecesse por dentro e que seu coração parecesse que iria explodir naquelas circunstâncias deveria ser um crime.

    "Ryan, você quer parar?", a morena perguntou, retraída.
    "O que foi?", ele pareceu surpreso com aquele reflexo de hostilidade.
    "Você está me olhando daquele jeito de novo. Pode parar com isso? Você está me torturando.", Manuela fechou os olhos com força por um segundo, tentando afastar aquela visão maravilhosa de sua cabeça, e voltou a abri-los rapidamente. "Por que você está fazendo isso?"
    "É só que... Seus olhos. Eles parecem novamente com olhos de criança quando você olha para mim.", Ryan abriu o sorriso que Manuela mais gostava, ainda fazendo carinho em seu rosto. "Eles não estavam assim naquela noite e... Eu senti muita falta disso!"

    Se havia algo no mundo que Ryan ainda não tivera dito que pudesse triturar o resto do coração de Manu, naquele segundo, não havia mais. Naquela hora, eles não precisaram de clima, de respirações ofegantes ou de mais 'poréns', já que a morena eliminou rapidamente o curto espaço que ainda existia entre seus lábios, sem qualquer receio. Não havia mais uma indiferença que temer, porque ambos queriam acima de tudo consertar aqueles corações e era exatamente assim que isso se tornara possível.

    Manuela sempre fazia questão de me descrever esse momento de uma forma diferente a cada vez que contava. Nem sempre eu dava muito atenção às palavras dela, mas eu não precisava, afinal, qualquer um que conhecesse um pouco Manuela e notasse o modo como ela olha para Ryan - com aqueles fantásticos olhos de criança - não teria dúvida de que suas melhores lembranças envolviam aquele garoto.

    "Espera, espera...", Manu se afastou dele devagar, buscando seus olhos mais uma vez. "Isso é perfeito, mas... Você disse que me amou, no passado, como se não existisse mais nós e... Eu não quero forçar as coisas para você, Ryan."
     "Sim, Manuela, eu te amei, no passado, do mesmo jeito que eu te amo, no presente, e do mesmo que eu te amarei para sempre. Manuela Magalhães de Oliveira, eu sou apaixonado por cada minúscula parte de você. Eu amo o jeito como seus olhos brilham quando se trata de algo que você gosta e amo mais ainda quando eu sou o motivador disso. Eu amo a sua risada quando você lê uma coisa estranha que ninguém acharia graça exceto você, mas amo ainda mais quando você ri por algo que eu disse. Eu amo observar o modo como você sempre limpa as lágrimas rapidamente quando algo romântico te emociona e amo mais ainda secá-las quando eu estou com você...", ele teve que fazer isso logo após falar, porque poucas lágrimas já haviam voltado a escapar sem a permissão de Manuela. "Essas coisas não desaparecem assim tão rápido, eu só queria que você pensasse que sim, porque eu quero que você seja feliz, independente das circunstâncias, comigo ou não. Mas eu te amo, minha maluquinha. E eu vou querer você comigo para todo o sempre!"
    "Ryan, você..."
    "Manuela, eu achei que já tivéssemos conversado sobre saber a hora de parar de falar e me beijar.", Ryan riu, colocando os dedos sobre os lábios de Manu para que ela se calasse, antes de voltar a se aproximar.
    "Nós conversamos, mas eu não acho que essa seja a hora de calar a boca. Agora é hora de eu dizer que eu te amo também...", Manuela interrompeu sua ação, rindo. "Eu só quero que você tenha a absoluta certeza de que eu nunca vou poder ser completamente feliz se eu não estiver com você. Ryan, você se tornou uma parte de mim desde aquela viagem no Canadá e roubou meu coração para sempre ao me provar que o que tivemos não foi momentâneo, indo até o Brasil atrás de mim. Eu sinto muito, mas esse não é um órgão que possa ser devolvido. Meu coração vai ser seu para sempre. Eu vou ser sua para sempre. Eu te amo! E... Bom... Acho que agora assim é hora de calar de boca."

     Ryan precisou fitá-la por mais um minuto, apenas apreciando e memorizando cada palavra que ela falara naquele momento, mas, ainda assim, muito tempo não fora perdido e logo, ele tinha Manuela nos braços de novo. E era óbvio que aquele era o lugar de onde a morena nunca gostaria de ter saído, e cuidaria para que não acontecesse de novo, porque aquele garoto não era algo que ela poderia arriscar.

    Manuela sempre acabava a história nesse momento, dizendo que era tudo o que importava. Mas a julgar pelo fato de que eles só deixaram o quarto de hotel - inicialmente registrado em meu nome - apenas de noite, bem, eu diria que muita história ainda tinha embalado aquele dia. Porém Manuela Magalhães jura de pés juntos que tem até uma auréola sobre sua cabeça de tão santa que é. Eu acho fofo da minha parte, como amiga, fingir que acredito.

    Depois de ter ouvido essa história algumas dezenas de vezes, eu acabei escrevendo uma música sobre isso. Música esta que entrou no meu penúltimo álbum e que coincidentemente se tornou a favorita de Manuela. Ela sempre fazia questão de me agradecer por essa "homenagem linda" que eu fizera e, como se não bastasse, ainda chorava a cada vez que me via cantando essa canção em algum show, numa entrevista, ou, sei lá, no chuveiro.

    Mas apesar disso, de todo o jeito exagerado demais de ser da Manu, eu estava ansiosa para ver aquela garota de novo, porque isso significava ter uma companhia feminina para me ajudar e aconselhar em todos aqueles problemas relacionados a casamento, embora eu ainda não tivesse muita certeza de que ela fosse realmente ajudar, porque digamos que Manuela ainda tinha o mesmo jeitinho jovial de sempre. E, em outras palavras, ela iria ter um ataque histérico a cada pétala da cerimônia. Ironicamente, eu ainda gostava dela desse jeito mesmo...

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Ai, gente, vou falar para vocês que não tá fácil para ninguém, esse capítulo levou minha vida inteira para ser concluído, mas eu espero que gostem. Amo vocês do fundo do meu coração. Boa noite!                       


    

Um comentário:

  1. Onwnttt Manu e Ryan <3.... Continua loogooo pfvr... Ainda nao acredito q eh a ultima temporada :((..... Vlw por tuudoo Juuh bjuuus
    ass. Juliana S.

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