20 outubro 2013

4. You Make Me Love You - Capítulo 22



  Preto e Branco

 
Música do capítulo:
A Little Bit Longer - Jonas Brothers

Belieber's POV
    Luz. Forte. Incômodo. Dor de cabeça.

    Ao recuperar a consciência pela manhã, não consegui me levantar ou mesmo abrir os olhos. Já deveria ser tarde, pois a luz solar que batia em mim era intensa demais. Intensa ao ponto de me fazer desejar morrer ao sentir a dor de cabeça absurda que a claridade estava me causando. Eu não sabia que tipo de pessoa horrível eu tinha sido em minha vida para estar passando por uma tortura como aquela, mas definitivamente era um ótimo modo de me fazer pagar pelos meus pecados.

    Com muita dificuldade e sentindo minha cabeça rodar, sentei na cama, observando o ambiente ao meu redor. Além do fato de tudo parecer se mover, aquele não era o local em que eu esperava acordar. Paredes pintadas de um tom bonito de azul, um carpete preto, lençóis brancos e diversos objetos masculinos constituíam um ambiente completamente desconhecido, mas harmonioso. Era só o que me faltava, então. Eu já conseguia ver as manchetes de jornal que sairiam: “Cantora adolescente se encontra desaparecida desde...”.

    Espera! Eu estava aqui ontem? Ai, ai, e se eu sofri um abuso sexual? E se eu estiver grávida? O que eu poderia fazer com um bebê sem pai? Que nome eu daria para o meu filho? Menina ou menino, o que seria?

     – Tem um remédio em cima do criado-mudo, se você quiser...

    Engraçado como uma pessoa surta quando está em um quarto estranho e uma voz vinda de algum lugar do além soa em seus ouvidos.

    A única pergunta que se formulou em minha cabeça naquele momento foi: Estuprador ou fantasma, o que pode ser pior?

    – (Seu nome), para de gritar, por favor! Você já fez muito isso noite passada... – repetiu a mesma voz masculina – Então, está tudo bem?
    – Cory?

    Indescritível era a palavra que parecia se encaixar melhor para definir o grande alívio que senti ao notar que minha companhia no quarto era conhecida. Cory se encontrava sentado em uma poltrona acolchoada, em um canto do quarto, ao lado de uma estante repleta de livros que eu invejava. Pensando assim, ser estuprada por ele também não me parecia algo muito agradável, mas era Cory e ele não parecia ser capaz nem de me roubar um beijo, então relaxei, procurando alguma explicação mais plausível para tudo aquilo.

    – Onde nós estamos exatamente? – perguntei, sentindo-me mais à vontade para ignorar a primeira questão que ele me fizera.
    – (Seu nome)... – seu tom parecia propositalmente formal – Bem vinda ao meu quarto!
    – Ai, meu Deus! – suspirei – Cory, não se ofenda com a minha pergunta, mas... O que aconteceu aqui ontem à noite?
    – Nada, graças a mim! – respondeu com a maior naturalidade possível.
    – Explique-se, por favor...

    Por um minuto, Cory me preocupou profundamente por não responder de imediato à minha pergunta. O modo como ele sustentou o suspense, levantando-se de onde estava e andando vagarosamente em minha direção antes de se sentar ao meu lado, não fazia parecer que trataríamos de algo muito interessante nessa conversa. Assim, esse pequeno lapso em seu comportamento fora suficiente para fazer com que minhas mãos começassem a soar como se eu tivesse desenvolvido de uma para outra uma crise de ansiedade.

    – Você não se lembra de mais nada da noite passada? – insistiu o moreno.
    – Bem pouco – admiti –, acho. Eu lembro que nós estávamos juntos, mas não é uma lembrança solta. Eu precisei deduzir algumas partes e... Para falar a verdade, essa dor de cabeça horrível também não ajuda muito...
    – Isso é porque você ainda não tomou o remédio...

    Ao lado da cama, em cima de uma pequena mesa de canto transparente, havia um comprimido sobre um guardanapo, próximo a um copo d’água. Em uma das poucas vezes na vida, não fui teimosa ou mesmo orgulhosa o suficiente para me indispor às gentilezas alheias – principalmente quando isso vinha de Cory, que me fisgava de um jeito que eu achara impossível escapar. Assim, delicadamente tomei o medicamento, pedindo para todos os deuses que fizessem aquela simulação da morte passar.

    – Não se preocupe! É um bom remédio, vai passar rápido... – ele sorriu, cuidadoso.
    – Isso é fofo da sua parte, mas como você sabia que eu estava precisando, antes mesmo de eu me dar conta disso, quando ainda estava dormindo? – indaguei, curiosa com algo que não era muito relevante.
    – E eu deveria esperar outra coisa de alguém que encheu a cara ontem à noite? – era uma provocação, mas ainda assim não detectei nenhum pingo de mentira em seus olhos.
    – Ai, não! – gemi, desorientada – Eu bebi na noite passada? Como foi isso, hein?
    – Hum... Um pouco assustador!

    Me xinguei internamente. Eu não conseguira acreditar que tinha feito o garoto mais fofo deste país achar que eu era uma alcoólatra dissimulada que vivia a cair pelos cantos das ruas. Até porque eu já estava conseguindo estabelecer para mim mesma que não voltaria a deixar um só pingo de álcool atravessar minha garganta – afinal, mesmo esse era capaz de me deixar com dor de cabeça –, então ficar sabendo deste episódio era meio decepcionante. E não só para mim.

    – O que aconteceu, hein? – arrisquei, receosa.
    – Muita coisa... Martinis podem realmente mexer muito com você! – ele também não parecia muito feliz por ter de estar me contando – Basicamente, você decidiu que a meta da sua vida era ser uma artista plástica, fez piadinhas ridículas de duplo sentido, desenvolveu um afeto exagerado com o meu carro, me comparou ao seu avô e lamentou por ele. Você riu alto, berrou, chorou e tentou me beijar... Ou, talvez, ir um pouco além disso!
    – Ah, não! – choraminguei, sem conseguir me imaginar passando vergonhas daquele nível – Por favor, acerte minha cabeça com uma pedra gigantesca e vamos fingir que nada disso aconteceu.
    – Está tudo bem! Na verdade, foi até bom descobrir que você também pode ser bem selvagem quando quer...
    – Que vergonha! Que vergonha! Que vergonha! – e a vontade de morrer só crescia – Eu fui muito longe?
    – Depende do que você considera longe... – ele revirou os olhos – Mas foi inesperado! Você me tacou na cama, subiu em cima de mim e, de repente, parecia que estava se sentindo a mulher mais sexy do mundo. Você beijou e acariciou meu corpo e isso foi um pouco estranho, porque você estava claramente fora de si e... Você tem um namorado, não é?
    – Hã... É, claro! – concordei, sorrindo – Eu sinto muito, ok? Eu não queria te colocar em uma situação constrangedora, mas acho que fiz isso comigo mesma!

   Mesmo disfarçando meu desconforto com minhas desculpas sinceras, isso não pareceu ser o suficiente para Cory. O garoto ficou ligeiramente tenso, como se ainda estivesse algo que ele lutasse para conter, quando na verdade queria expor. Eu não gostava dessa situação, pois deixava minha curiosidade em alerta e também, me fazia ficar mais preocupada em relação a ele. Ignorando todas minhas usuais neuras eu já estava pronta para perguntar o que havia de errado, quando ele voltou a se manifestar, afinal.

    – (Seu nome), tem alguma coisa que você queira me contar?
    – Não que eu me lembre. Mas por que a pergunta? – eu estava esperando por mais notícias ruins, conseguia sentir que elas viriam – Eu fiz algo errado ou pior do que isso, na noite passada? Se for isso, eu já peço desculpas do fundo do coração. Eu não queria te ofender ou incomodar. Foi um equivoco da minha parte pedir que me servissem qualquer coisa alcoólica...
    – Não é isso, por mim está tudo bem quanto a ontem. Não foi uma grande coisa, sério mesmo. Pode ficar tranquila! – era irônico ele me pedir isso, quando o próprio estava visivelmente tenso – Mas... Ontem à noite, você disse algo que me deixou realmente intrigado.
    – O quê? – minhas sobrancelhas se arquearam, quase involuntariamente.
    – (Seu nome) – havia tanto medo subentendido em sua voz que eu acabara por ficar com medo também –, por acaso, o Justin magoou você?

    Meus olhos se arregalaram de surpresa e desespero. Eu senti como se o meu edifício de mentiras que eu me obrigava a contar para os outros acabasse de ser demolido pela mania estúpida de querer interagir com bebidas alcoólicas.

   Sem conseguir escapar do pânico que essa pergunta me remetia, pedi para todas as forças do universo que aquilo fosse apenas neurose ou suposição de Cory, sem qualquer base em alguma besteira que eu provavelmente falara na noite passada. Caso contrário, eu teria que pensar seriamente em me internar em um hospital psiquiátrico para o resto da vida ou então em um caso ainda mais drástico, cortar minha própria língua para evitar mais desses episódios.

    – Eu não sei sobre o que você está falando... – desconversei.
    – Não mesmo? – pressionou, ainda conservando a aparência gentil – Porque ontem você disse várias coisas sobre ele e não eram coisas agradáveis para se atribuir a alguém!
    – Cory, olha... Esses episódios desagradáveis em relação ao Justin são passado. Coisas que até poderiam ter alguma importância, mas há muito, muito tempo. Agora, eu até gosto de não ter mais isso. Eu, com certeza, já o superei!
    – Você tem certeza? – seus olhos imploravam pela verdade – Você não deve se lembrar, mas ontem à noite, você me chamou pelo nome dele e... E então me perguntou se eu te amava.
    – E o que você respondeu?
    – Eu achei... E ainda acho que você merecia um “sim”.

    Involuntariamente, um sorriso se formou em meu rosto ao ouvir isso. Afinal, em um passado não muito distante, eu era acostumada a ouvir esse e muitos outros tipos de gentileza. Porém, quando uma das pessoas mais importante da sua vida deixa de dizê-las, as mesmas perdem um pouco o sentido. Cory conseguia trazer tudo isso de voltar a mim perfeitamente, o que só aumentava a minha vontade de fazê-lo só meu.

   – Olha, (Seu nome), eu sei que não tenho o menor direito de me intrometer na sua vida, mas eu me importo com você! – falou, acariciando suavemente meu braço – Você deveria saber como parece um bebê desprotegido e, embora eu tenha quase certeza que você não está à vontade para me contar sobre isso, eu me preocupo com você, ok?

   Por fim, ele beijou minha testa, antes de se afastar, levantando da cama e caminhando até a porta. Sua intenção de me dar espaço era boa, mas eu já estivera isolada de muita gente por muito tempo e, por ora, não era o que eu desejava. Eu queria a certeza de que um coração estava ouvindo o meu; de que meus olhos se encaixavam com seu olhar; de que suas palavras faziam justiça à boa impressão que ele me passara. Mesmo sem saber se ele estaria ao meu lado futuramente, nós tínhamos o agora. E, agora, ele se importava comigo.

   – Espera! – interpelei, levantando-me – Talvez, eu precise conversar com alguém e acho que eu quero que esse alguém seja você.
    – Nesse caso – ele sorriu, olhando para mim e voltando à cama –, eu sou todo ouvidos!
    – Bem, eu não costumo falar muito sobre isso, então me desculpe por qualquer coisa... – suspirei, já me sentindo nervosa por estar pensando em dizer tudo aquilo em voz alta – Cory, você, assim como o resto das pessoas, deve saber que Justin sofreu um acidente no final do ano passado. Obviamente, a sua internação no hospital me desesperou. Eu fiquei sem chão e me limitei a jogar tudo para o alto, a abandonar grande parte da minha vida. Foi muito complicado para mim, mas eu não me arrependo. Até que finalmente chegou o dia que eu tanto esperava. Seus olhos se abriram novamente e foi como... Nada. Absolutamente.

    Meu coração ainda se lembrava perfeitamente do que eu havia sentido naquele fatídico dia no hospital. Entrar naquele quarto e vê-lo com os olhinhos brilhantes bem abertos e curiosos para saber de tudo. E depois a avalanche de surpresa que me atingiu quando ele me perguntou o meu nome, buscando saber quem eu era. Foi um grande dia e também o pior de todos.

    – Mas, como em uma satisfatória parte dos casos, as consequências foram sendo superadas e as coisas foram se normalizando, exceto para mim. – continuei – Sinceramente, eu não culpo ninguém pelo seu quadro de amnésia, mas eu não posso evitar me culpar por não ser uma pessoal memorável.
    – (Seu nome), eu sinceramente acho que você não deveria ser tão dura consigo mesmo. Às vezes, algumas coisas simplesmente acontecem, sem que isso seja particularmente culpa nossa. Talvez, isso só tenha ocorrido para ser possível desencadear outra série de acontecimentos na sua vida, que agora você não consegue entender...
    – Eu definitivamente não consigo entender. Na verdade, às vezes, quando eu estou entediada o bastante para conseguir pensar nisso, eu realmente acho que conseguiria superar o fato de ele se lembrar do nome que deu a um pombo que voou do lado dele com mais facilidade do que se lembraria de mim, se não fosse pelo modo como as coisas aconteceram. O problema é que as pessoas parecem não se importar em se lembrar do que elas representam para mim ou mesmo do que eu posso estar sentindo com isso tudo acontecendo tão rápido...
    – Acho que eu não entendi... – sua expressão confusa deixava isso bastante claro e eu não podia esperar menos que isso, porque não era uma situação fácil de explicar.
    – Eu estou atropelando as coisas, Cory. Me desculpe! Deixe-me organizar isso... – respirei fundo, tentando remontar a linha cronológica em minha cabeça – Bem, a verdade é que junto com essa história de ser basicamente a única pessoa a não ser lembrada soma-se a minha melhor amiga, que supostamente é a namorada do meu surpreendente ex. Agora, me diga em que momento da minha existência eu iria pensar em uma situação dessas, distante de um filme dramático?
    – Você está falando daquela garota que estava com vocês, naquele dia, na pista de patinação? – a boa memória dele fazia com que eu me sentisse uma mentirosa terrível e não era bem essa a imagem que eu queria que alguém tivesse de mim.
    – Essa mesmo! Manuela era... Ou fingia ser minha melhor amiga e eu sempre estive certa disso. Na verdade, eu reconheço que sem ela, talvez eu nem mesmo tivesse conhecido o Justin, mas acho que eu esperava mais dela. Quero dizer... Foram anos, sem que ela dissesse nada ou parecesse interessada em outro alguém, se não o próprio ex-namorado dela e, de repente, ela apenas aproveita um dos momentos mais confusos da minha vida para me dar uma tapa moral. Isso foi definitivamente difícil, porque eu pensava que ela era minha amiga há bastante tempo, então perceber que ela não se importava comigo não foi muito fácil de aceitar. E... Agora que Justin está com ela e eu vejo como isso faz bem para ele, eu não sei se caso ele tivesse opção, escolheria se lembrar de mim. Aliás, talvez, nem mesmo eu escolhesse isso.

   Eu não estava chorando, o que de imediato considerei uma coisa boa. Me esforcei para fingir que estava em um programa de televisão dando uma entrevista, o que me ajudou a permanecer o mais indiferente possível, enquanto resumia meus dias de inundações iniciadas por lágrimas.

    Da forma que eu esperava, deu tudo certo, mas minha tática se perdeu quando Cory segurou firme a minha mão e seus olhos penetraram nos meus. Esse tipo de coisa não acostumava acontecer nas minhas entrevistas normais, então o arrepio que percorreu o meu corpo, junto com o nervosismo que brotou dentro de mim, era bastante justificável. Meu esforço para permanecer natural deveria ter justificativa também, embora eu não soubesse qual.

    – (Seu nome), eu provavelmente soarei meio feminino dizendo isso, mas eu quero que você ignore isso e preste atenção no que eu vou dizer, ok? – só o modo doce como ele falava já me fazia ficar surpresa por conseguir me concentrar nas palavras ditas – Eu te conheço há muito, muito pouco tempo e já sei que você não merece passar por nada disso que você passou, mas eu não posso fazer muito por você, além de te dizer algumas pequenas coisas. Na verdade, eu poderia ir lá e matar todo mundo, mas acho que você não iria gostar. Então, eu vou ficar só com isso mesmo...

    Eu já deveria estar pronta para filosofia de livro de autoajuda, mas não foi exatamente como eu esperava.

    Uma vez, eu escutei a seguinte frase... “Algumas coisas não acontecem, em nossa vida, para nos punir por algum evento mínimo do passado, mas, sim, para mostrar para nós mesmo o quão forte podemos e devemos ser”. – mencionou – Eu não sei bem se no momento que ouvi isso realmente dei grande importância, mas um pouco depois, entendi o que isso queria dizer e... Bom, eu acho que você deva pensar assim também, (Seu nome). 

    Eu gostava do modo como ele olhava para mim, a cada palavra dita. Diferente de todas as pessoas ao meu redor, Cory desconhecia grande parte dos meus medos e inseguranças, o que justificava sua crença quase tangível na minha coragem inexistente. Ironicamente isso me deixava com vontade de ser uma pessoa mais determinada e impulsiva do que eu realmente era.

    – Mostre para si mesma o quanto você ainda pode ir longe. Você tem milhares de pessoas ao redor do mundo que fariam muito por você, então por que perder tanto tempo com uma ou duas que parecem não compartilhar do mesmo sentimento? Eu não estou dizendo para você simplesmente passar por isso como se fosse nada, mas sim fazer a sua parte para seguir a sua vida e deixar que o resto, essas pessoas, o tempo se ocupa de levar para onde fizer mais sentido para ambos... – ele fez uma pausa e de repente franziu a testa – Você me entende ou eu só estou aqui dizendo um monte de besteiras? Porque... Eu faço isso às vezes!
    – Não! – sorri, sem graça por ter que voltar a falar após ouvir tudo isso – Você está só fazendo com que eu me sinta uma boba por não ter pensado assim antes. Na verdade, eu me forçava ao menos a tentar pensar assim, mas soa melhor quando outro alguém fala. Obrigada, Cory!

    Eu não sabia se estava sendo um pouco abusada ou espaçosa, mas ainda assim me lancei sobre Cory, abraçando-o de forma tão apertada que meus braços doeram – em outras palavras, fora um abraço normal, mas minha fraqueza permanente me causava efeitos incomuns. Felizmente ele retribuiu minha demonstração de afeto, mantendo ainda um carinho constante em meu cabelo, me deixando ligeiramente derretida. Sem saber o meu nível de controle mental, eu soltei algumas palavras não tinha qualquer sentido...

    – Sabia que a maioria das pessoas com quem eu esbarro, simplesmente diz um “está tudo bem”, depois que eu peço desculpas várias vezes?
    – Eu gosto de fazer ficar bem...

    E ainda assim, Cory conseguiu fazer tudo parecer o mais sensato possível.

    – Mas, agora, o que você acha de um banho, hein? – perguntou subitamente, me arrancando completamente do eixo daquela conversa.
    – O quê? – meu suposto berro saiu tão falho que não chegou nem perto de parecer alto.
    – Está vendo? Aposto que pensou besteira de novo e depois eu que sou o pervertido aqui. Que mundo injusto esse! – Cory dramatizou, deixando-me levemente vermelha – Presta atenção, mente poluída! Eu roubei algumas roupas da minha irmã, separei uma toalha novíssima para você e vou deixar meu quarto sob seus cuidados para que você faça o que quiser, mas... Por favor, não tire minhas revistas “daquele tipo” do esconderijo, ok? Obrigado!
    – Você não precisava ter me falado sobre a existência delas!
    – Eu estou só brincando, garota! – ele riu, levantando-se e voltando a se por a caminho da porta – Tome um banho, relaxe, faça bagunça, enquanto eu desço e preparo algo para comermos...

     Assenti, sem ver outras opções disponíveis no momento. Afinal eu estava na casa dele, o que tornava possível a hipótese de que eu lamberia o chão, se ele me dissesse para fazê-lo. Ou não. Mas, em caso negativo, eu provavelmente me sentiria muito culpada por estar faltando com a cordialidade ao meu gentil amigo.

     Antes que eu pudesse perceber, estava sozinha no quarto. Assim, peguei as peças que ele me indicara, todas separadas e dobradas no final da cama. Olhando para tudo aquilo, notei que me sentia bem desconfortável por ter que usar roupas que não me pertenciam e, principalmente, por estas serem de uma garota que não tinha qualquer tipo de intimidade. Mas, talvez, quando uma pessoa dorme na casa de um garoto que conheceu há poucos dias, esses conceitos e princípios se percam um pouco.

     Bebidas são horríveis. Oficialmente.

    Peguei tudo com uma mão só, incluindo a minha bolsa que eu nem lembrava de ter usado, e me dirigi à outra porta no quarto – aquela pela qual Cory não saíra. O banheiro era de tamanho mediano, mas perfeitamente organizado, mais do que eu esperaria de qualquer garoto. A ausência de qualquer peça de roupa jogada ou esquecida fizera com que eu me perguntasse se ele não havia dado um jeito em tudo, antes que eu acordasse. Porém alguns lembretes – que fiz questão de não ler – presos ao espelho me obrigaram a abandonar a ideia.

     Rapidamente pendurei as roupas no local adequado e, em seguida, comecei a me despir, antes de entrar no boxe. Sem a certeza de como mexer no chuveiro e lembrando-me que eu era mestre em destruir tudo que tocava, acabei por tomar banho frio mesmo, o que foi bom para aliviar a minha dor de cabeça. Eu estava me sentindo ótima, como se toda a vergonha da noite anterior estivesse descendo pelo ralo, junto com água e um pouco da fragrância do álcool, que eu ainda podia sentir em mim.

    Enquanto me banhava, aproveitei para ler o rótulo de todos os produtos que se acumulavam na prateleira do boxe, sendo a maioria dele shampoos de diversos tipos. Eu tinha a suspeita de que Cory era um garoto bastante vaidoso e confirmara isso com um simples estudo intensivo de produtos capilares. Ah, as teorias maravilhosas que surgem dentro de um banheiro...

    Depois de um tempo consideravelmente curto, desliguei o chuveiro e abandonei o boxe, agarrando-me a toalha o mais rápido possível. Com velocidade superior a que eu considerava ser possível para os meus padrões, sequei meu corpo, me vesti e penteei o cabelo, colocando-o para frente, apenas para não permitir que ele molhasse demais a blusa que não me pertencia.

    Arrumei tudo no lugar que parecia conveniente, levando minhas peças novamente para o quarto comigo. Felizmente eu ainda estava sozinha. Apesar de adorar a companhia de Cory, eu seria capaz de enfiar minha cabeça no carpete, tendo que encará-lo com a roupa que ele me arranjara. A blusa branca de botão e o calça jeans colada – que, em mim, ficava apertado nas pernas, mas largo na cintura – me faziam ter a impressão de que ele apenas me cedera essas peças, para conseguir impedir que a própria irmã as usasse. Mas, como dizem, cavalo dado não se olha os dentes.

    Sozinha, voltei a me sentar na cama e me permiti analisar mais minimamente o quarto. Eu já tinha feito um estudo intensivo sobre o rótulo dos produtos do garoto, então, por que não me aprofundar no assunto com objetos à disposição?

    O quarto de Cory, na verdade, era um pouquinho mais bagunçado, mas nada exagerado, nada comparado ao cenário de guerra que descrevia meu cômodo, certas vezes. Porém, não era nada disso que chamava minha atenção, mas sim as pequenas coisas, como uma luminária azul no outro canto do quarto; os adesivos de pegadas em uma das paredes; os porta-retratos sobre uma das estantes. Mais próximo a mim, em cima da mesa de cabeceira bem ao me lado, havia um despertador engraçadinho, uma caneta com um design diferente, um chaveiro de pelúcia minúsculo. Um caderno preto.

    Só realmente me dei conta que aquilo era errado e invasivo, quando já estava com o caderno em mãos e já havia aberto a primeira página. Eu provavelmente teria ainda forças para largar aquilo e ficar quieta, mas quando tentei fazê-lo, notei aquela frase escrita em uma letra bem redondinha nas primeiras linhas do caderno...

    “Algumas coisas não acontecem em nossa vida para nos punir por algum evento mínimo do passado, mas, sim, para mostrar para nós mesmos o quão forte podemos e devemos ser...”

    O sorriso que apareceu no meu rosto ao ler essa pequena frase que me fora dita há pouco fez com que minha curiosidade avançasse sobre mim. Assim, ignorando as batidas nervosas do meu coração, avancei para as páginas seguintes. Apesar de todo o nervosismo de ser descoberta me metendo na vida alheia, aquelas folhas ligeiramente grossas podiam estar repletas de outras frases motivadoras e talvez fosse exatamente disso que eu estava precisando...

    “Mortalidade por câncer é menor nos países europeus”.

    “Inovação russa poderá facilitar tratamento contra o câncer”.

    “Campanha para ajudar Hospital do câncer”.

    “Estudos apontam novas estatísticas sobre câncer ao redor do mundo”.

   Uma página, um susto novo. Todo aquele convidativo caderno preto fugia demais às minhas expectativas e, embora não chegasse até o final das folhas, todo o seu preenchimento se dava com recortes de matérias de jornal falando sobre um mesmo assunto. Eu buscava de qualquer forma achar alguma explicação e ligação plausível para isso, mas o nervosismo que era bombeado pelas minhas veias me impedia de pensar com a clareza que eu desejara. A única coisa que eu conseguia sentir era pânico. Só em ler tudo isso, alguma parte de mim doía. Eu pensava nos meus fãs e doía mais.

    A porta do quarto se abriu. O caderno fechou.

    – Voltei! – anunciou Cory, entrando com uma bandeja de comida na mão – Eu espero que você não esteja me esperando há muito tempo, porque eu já tinha aprontado tudo, mas fiquei com medo de chegar, você não ter terminado e eu sem querer te colocar em uma situação constrangedora.  

    A naturalidade com que o assunto fluía agora não me parecia mais tão bem vinda. Eu não estava à vontade o suficiente para simplesmente esquecer e passar por cima disso como se nada houvesse acontecido. Infelizmente antes que eu pudesse me pronunciar, percebi que os olhos de Cory se voltaram rapidamente para o caderno ainda em meu colo. Porém, no momento, eu não estava com muita vontade de me prender ao típico politicamente correto, afinal, o errado eu já havia feito.

    – Cory, o que é isso? – perguntei, colocando o caderno em mãos novamente.
    – Nada em especial... – ele sorriu, tentando forçar a casualidade, enquanto colocava a bandeja sobre a cama – Mas por que está com isso, afinal? Eu trouxe comida, é mais importante!
    – Sério, não me subestime! É insultante... – suspirei – Só me conta, ok? O que está acontecendo, hein?
    – Eu não sei. Me diz você... (Seu nome), é só um caderno. Nada demais. Algumas anotações, talvez, mas nada realmente relevante. Eu entendo que você possa ter ficado curiosa para olhar, mas eu não sei o porquê isso tem qualquer significado para você...
    – Está vendo isso? Você está me tratando como idiota novamente e isso eu não consigo engolir. Então, você pode me explicar só o motivo pelo qual tudo que está nesse caderno fala apenas sobre um único assunto?
    – (Seu nome) – ele deu de ombros, ainda com um meio sorriso bonito no rosto –, eu faço faculdade de medicina. Eu tenho que estudar algumas vezes, sabia? Dizem que é muito bom...

    Eu acreditaria nesse argumento, mas o problema era que eu não tinha dez anos. Eu não era tão fria a ponto de não saber ler as pessoas e definitivamente o olhar de segurança de Cory destoava muito do modo em que ele se encontrava. Por conta disso, mesmo com total consciência de que nada daquilo era realmente da minha conta, não voltei atrás. Ele estava abalado, eu podia sentir isso e não conseguiria deixar passar assim. Meu coração já sentia que ele me pertencia e se ele não estivesse completamente bem, significaria que eu me disporia a ficar ali até ele se sentir confortável para se abrir.

    – Sério? – insisti – Então, por que eu não acredito?
    – Isso é problema seu, gata. Eu já te disse que sou um aluno dedicado, você que tem uma visão ruim de mim... – desviando o olhar por alguns minutos, ele se virou para retirar da bandeja um pequeno pedaço de pão, que dirigiu a mim – Agora, coma!
    – Só quando você me disser a verdade! – pedi, cruzando os braços.
    – (Seu nome), abre a boca. Vamos!
    – Me diz a verdade, Cory!
    – Abre a boca!
    – A verdade!
    – Coma!
    – Fala!

    Houve um minuto distinto de tensão e eu pude sentir os olhos dele ardendo de raiva em mim. Então, ele soltou novamente o pequeno pedaço de pão na bandeja e manteve seus olhos sobre o mesmo durante um longo período, preenchido por um suspiro. Em seguida, voltou a me fitar e ainda havia hostilidade nisso, o que derramava a culpa sobre mim...

    Eu tenho câncer, (Seu nome)! – Cory explodiu, levantando-se da cama – Era isso que você queria ouvir?

    O ar escapou dos meus pulmões por um tempo longo demais. Na verdade, era muito fácil deduzir aquilo, mas como forma de proteger a si mesmo, meu coração conseguia impedir que meu cérebro pensasse na hipótese. Ainda acima de tudo, minha teimosia me obrigara a lidar com isso e eu sequer podia recuar, já que eu mesma buscara por essa resposta dolorida e agonizante. Sinceramente eu não sabia se deveria me sentir para baixo por ter me deparado com esse bloco de concreto à minha frente ou culpada por tê-lo forçado a falar sobre algo que realmente não o agradava.

    – Por que... Por que você não me disse isso antes? – miei, com vergonha até de existir.
    – O que você queria? Que eu dissesse “Ei, garota da patinação que eu acabei de conhecer. Você é linda, mas quem se importa? Eu tenho câncer!”? Não, as coisas não acontecem assim... – continuou, sem parecer nem um pouco sereno – Além disso,  ninguém sabe! Só meus pais, minha irmã, um amigo de infância e... Agora, você!
    – E agora você me odeia, não é mesmo? – minha voz já estava mais viva quando consegui dizer isso, mas eu não estava no meu estado normal e sabia disso – Me desculpa, tudo bem? Às vezes, eu só faço isso e ajo como se as pessoas fossem parte de um jogo meu. Acho que posso me meter na vida delas e brincar de psicóloga, mas eu não posso... Desculpe-me!
    – Eu não estou com raiva de você, (Seu nome)... Não poderia estar. – seu suspirou pesou, quando ele retornou à cama – Mas eu realmente não gosto de ter as pessoas sentindo pena de mim. É humilhante! Eu não preciso que ninguém tenha pena de mim.
    – Eu não estou com pena de você, Cory...
    – E, agora, você ainda está mentindo...

    Eu não tinha certeza se Cory estava se utilizando desse artifício para virar o jogo e mudar o assunto, mas aquele seu pensamento me deixou ligeiramente confusa. Era bem verdade que eu estava a um passo mínimo de desabar em lágrimas, mas eu ainda não tinha me decidido o motivo das mesmas. Era claro que a notícia dele me abalara, mas que tipo de sentimento provocara em mim eu ainda não descobrira. Parecia que aquelas palavras ainda ecoavam dentro de mim com a maior liberdade possível, já que meu interior se encontrava completamente oco.

    – Cory, eu não estou com pena de você, mas eu... Não sei! – eu não sabia se estava dizendo o que realmente queria, mas continuei mesmo assim – Há cinco minutos, estava tudo ótimo e, agora, essa notícia aterrissou no meu colo. Eu não sei como devo lidar com isso e, sim, eu sinto muito por não poder fazer nada...
    – E quem disse que você precisa fazer alguma coisa? – indagou, completamente transparente –(Seu nome), eu estou bem com tudo isso, às vezes, eu não fico, mas todo muito passa por isso. Eu somente não quero que ninguém saiba, porque eu sei como as pessoas nos tratam. É sempre aquele olhar deprimente de pena e o modo de agir delicado demais, como se eu não fosse homem o suficiente para cuidar de mim mesmo. Eu não preciso disso, eu estou bem, sério. Não é como se eu fosse morrer amanhã ou depois. Eu não vou morrer, (Seu nome), confie em mim!

    O modo como ele falava fazia parecer quase impossível não acreditar, mas nem mesmo essa certeza que Cory parecia ter era capaz de remover aquela insegurança de mim. Eu estava começando a definir meus sentimentos momentâneos, mas não gostei de fazê-lo, já que todos aparentavam ser mais negativos do que de costume. Meu medo de perder algo sempre tão egoísta, agora dava espaço para o medo de pensar na ideia de Cory perder a si mesmo. Mas ele dissera que não iria acontecer e eu não me via no direito de pensar diferente.

    Percebendo meu desespero tão claro, Cory levou um copo de suco até mim, esperando que eu me acalmasse. Eu não tinha muitas esperanças de que desse certo, mas aceitei tomar um gole, apenas porque parecia muito convidativo e eu estava sedenta por algo que não lembrasse álcool. Eu não queria ver qualquer tipo de bebida, pelo menos pelos próximos dez anos.

    – Posso fazer uma pergunta indiscreta? – comecei, largando o copo novamente na bandeja, devagar.
    – Vá em frente!
    – Por que eu não percebi isso antes? – indaguei, me sentindo um pouco cara de pau – Quero dizer...  Você parece muito...
    – Saudável? Deve ser porque eu estou tão saudável quanto possível... – interrompeu-me, com um sorriso convencido que se estendia de orelha a orelha – Na verdade, eu sei bem do que você está falando e, para a sua informação, eu descobri essa situação há pouco tempo. É estranho pensar, porque em um dia, estava tudo bem e, agora... Continua tudo bem, mas eu sei que eu tenho um câncer de estômago e todas as vezes que eu me sinto mal há uma explicação realmente aceitável. Não é um quadro tão comum na minha idade, mas eu já tive casos na família. Enfim, em vista de ser um pouco recente, eu não comecei ainda nenhum tratamento que vai me destruir, mesmo que devesse.
    – Cory, isso não é por conta de dinheiro, não é? – minha preocupação circulou pelas veias tão rápido quanto possível – Porque, se for, eu posso te ajudar, sabia? Eu tenho muito e nem mesmo ligo para isso!
    – (Seu nome), relaxa! Eu estou bem... Eu simplesmente não escolhi ainda se quero fazer algo em relação a isso. Quando eu me sinto muito, muito mal de uma forma insuportável e todo o meu corpo resolve realmente esfregar na minha cara que eu estou doente, eu geralmente tento algo para melhorar, às vezes, eu até mesmo consulto um doutor, mas eu... Eu não quero me envolver em procedimentos demorados. Eu não sei se quero fazer quimioterapia e não acho que ainda possa contar com alguma cirurgia, mas eu estou bem com isso. A única coisa que eu não quero é ter uma vida limitada!
    – Ah, claro que não. Você não vai precisar ter uma vida limitada, quando estiver deitado em um caixão! – berrei, já sentindo toda irritação concentrada na garganta, impedindo-me de falar como deveria – Cory, nós estamos em pleno século XXI e eu não acredito que você, como futuro médico, possa querer não cuidar de si mesmo. Há tantos tratamentos bons hoje em dia e você simplesmente ignora isso? Tudo bem, então, se você não quer fazer isso por você, porque seu machismo é mais importante, então faça por mim...

    Parei de falar imediatamente, quando notei uma pequena lágrima nascendo no canto do meu olho. Eu não queria parecer tão sentimental e fazer com que Cory se arrependesse de ter me contado tudo aquilo, mas fitando seu lindo rosto, eu só conseguia enxergar outro alguém, que também sempre mantivera uma expressão tão confiante e alegre que parecia que jamais iria me abandonar.

    O primeiro caso que tomei conhecimento de um fã que morreu por conta de um câncer foi uma das primeiras partes do meu coração a deixar de funcionar. E eu ainda me lembrava perfeitamente da noite em que recebera aquela notícia. Foi a primeira vez que me questionei seriamente sobre toda essa maldade no mundo, que na verdade não é culpa de ninguém. A primeira vez que pensei em cancelar um show. E também a primeira vez que percebi que me importava mais com aquelas milhares de pessoas do que comigo mesma...

    – Tudo bem! – suspirou Cory, abaixando a cabeça, sem se aproximar de mim, como eu achei que faria – Eu vou fazer isso! Vou tratar desse assunto na minha próxima consulta, somente porque não quero que você fique se remoendo por algo que não tem nada a ver com você. De qualquer forma, para isso acontecer, você tem que me prometer uma coisa... Eu vou continuar sendo só o Cory e, não, o doente coitadinho, ok? Prometa!
    – Nossa, que questão mais idiota! – arfei – Você é o Cory. O garoto com um péssimo gosto para cantadas, mas ainda assim, Cory...

    O moreno riu, sem graça, e eu repeti o ato simplesmente por gostar do som que fazia. Enquanto a tensão se dissipava rapidamente, eu me perguntava mentalmente como nossas conversas podiam passar por altos e baixos tão extremos, que não tinham sequer ligação. Eu estava gostando tanto dessa naturalidade, que por um momento inteiro nada pareceu importar, como se todos os problemas que relatamos fossem inexistentes em meio a nossos sorrisos desorientados.

    – Hum, você pode ser mais legal do que pensei! – Cory revirou os olhos, rindo – Mas aposto que não conseguiria melhorar um pouco mais...
    – Você está duvidando de mim? – arqueei as sobrancelhas, surpresa – Cory, eu poderia quebrar o recorde de amabilidade, se realmente existisse um, então, engula suas palavras, porque eu faço coisas demais para ser legal com todos.
    – Sério mesmo? Bom, vamos testar...
    – O quê? Do que você está falando, hein? – perguntei, confusa e desconfiada – O que você quer, afinal, garoto?
   
(Seu nome), eu acabei de te contar o segredo mais importante da minha vida e, agora, eu estive pensando que... Você sendo essa garota tão legal poderia me ajudar a realizar um grande sonho de infância! – seu jeito de falar parecia exageradamente teatral – Eu não sei se você sabe, mas eu nunca fiquei com uma celebridade!

    Diferente do que eu esperava, não tive vontade de rir de suas palavras. Sua proposta poderia não ser muito bem vista, se feita no dia em que nos conhecemos, mas eu não estava mais em estado de luto como da última vez e Cory era definitivamente uma pessoa cativante, então eu não tinha muitos artifícios para lidar com isso. Talvez, isso significasse que eu devesse apenas ceder, sem mais argumentos...

    Sem conseguir tomar uma decisão rápida, tentei me imaginar naquela situação. Seus lábios perfeitamente desenhados nos meus, aquele corpo magrelo perto... As imagens faziam com que eu me perguntasse se não estava me deixando levar por pura nostalgia. Mas não parecia ser uma hipótese muito aceita, tanto que me peguei indagando se ele tinha ou não pegada. Eu teria que pagar para ver?

    – Cory, eu adoraria, mas não. – ri, ajeitando o cabelo somente para disfarçar – Sua proposta é considerável, mas eu não posso fazer isso, na situação em que me encontro...
    – Que foi? Você está falando do Justin ou coisa parecida? – havia preocupação em sua voz, o que me deu vontade de rir – Porque eu sou muito bobo, mesmo. Você acaba de me contar todo o motivo da sua tristeza e eu ignoro isso. Vamos esquecer o que eu disse, ok?
    – Relaxa! Eu não estou falando sobre o Justin ou sobre qualquer problema. Na verdade, é de algo bem mais urgente. Eu tenho alguns exames bucais pendentes, por agora, e não acho que possa ficar mais... – dissimulei.
    – Exame bucal? – Cory franziu o cenho, tão confuso quanto eu jamais vira – Isso por acaso tem um fim específico? Porque eu não tenho certeza sobre o que você está falando e essa é a minha área...
   
Ah, não. Deixa para lá! – suspirei, mesclando as expressões de dó e provocação – Eu pensei que você, como futuro médico, pudesse me ajudar, mas acho que vou ter que consultar outra pessoa!

    Eu realmente esperava que Cory fosse um pouquinho mais rápido e até mesmo inteligente, mas a sua falta de perspicácia para entender minhas palavras fora um pouco decepcionante. Ainda assim, eu não estava disposta a deixar minha atuação barata cair no vazio, o que fez com que eu me levantasse e caminhasse dramaticamente até a porta. Minha saída não era má ideia, já que provavelmente era necessário mesmo que eu fizesse um exame em minha boca, para possivelmente diagnosticar o motivo pelo qual eu falava tantas besteiras, que só pareciam fazerem sentido para mim.

    Ei, espera! – berrou Cory, logo atrás de mim.

    Eu tinha claramente subestimado com quem estava lidando!

    Colocando os neurônios para funcionar, o moreno finalmente percebeu do que estávamos falando e, por assim fazê-lo, me puxou bruscamente de volta a cama. Só tive tempo de senti minhas costas pousando sobre o colchão macio e, então, seu corpo se sobrepôs parcialmente ao meu. Um sorrisinho bem bobo brotou no canto de seus lábios, tão próximos aos meus, me fazendo entender que ele achara toda a minha cena bastante idiota. E idiota significava que ele tinha gostado.

    Felizmente não me dei ao luxo de sentir qualquer ansiedade, nervosismo ou arrependimento, quando Cory deslizou seus dedos pelo meu rosto, fazendo-os parar em meu queixo. E, de forma um tanto despretensiosa, ele me beijou. Não era algo que me deixava com o coração a ponto de sair do corpo, mas ainda era maravilhoso de uma forma que eu não conseguia descrever. Eu só sabia que esquentava minha alma e acalmava minhas angústias finalmente.

    Enquanto nossas línguas se entrelaçavam lentamente, eu conseguia me imaginar em meio a nuvens, completamente leve. Eu sabia que não era algo bobo de se considerar, porque Cory tinha esse poder sobre mim. Eu me sentia serena quando conversa com ele, escutava sua voz. No momento, isso só se agravara quando eu senti seu toque macio em meio ao beijo, como se tudo nele fosse encantador.

    Quando Cory começou a se afastar, encerrando nosso beijo, me mostrei totalmente contrária à ideia e, em um impulso, mordi seu lábio inferior. Eu não tinha a intenção de machucá-lo, mesmo que de forma leve, mas foi mais forte do que eu. Era a minha maneira um pouco inusitada de dizer “ei, volta”, que não deu tão certo quanto eu esperava. Mas ele sorriu e eu considerei isso como um bônus.

    – Você é doidinha, sabia? – falou, ainda perto o suficiente para que eu continuasse a sentir sua respiração.
    – Devo ser... – ri, franzindo o cenho – Eu estou no quarto de um garoto que eu conheci há pouquíssimo tempo, deitada em sua cama, com ele em cima de mim. Ah, se minha pobre mãe me visse agora...
    – Relaxa, eu sou um bom moço! Sério mesmo. Sou para casar, garota. Você é quem está corrompendo minha pureza!

    Cory riu com o seu próprio jeito dissimulado, enquanto seus olhos continuavam brilhando para mim, deixando um sorriso que simplesmente não sumia do meu rosto.

    – Mas, falando sério, agora... – ele suspirou calmamente – É muito... Inusitado estar com você. Acho que nem em um milhão de anos, imaginei algum tipo de aproximação física com alguém como você.
    – Sério? – fingi surpresa – Porque, como futuro médico, eu achei que coisas assim já fizessem parte da sua rotina. Quero dizer... Nós estamos apenas fazendo um exame, se lembra? Você já não fez muitos?
    – Talvez...
    – Nesse caso, o que você acha? – sussurrei – Como eu estou, hein, doutor?
    – Ah, garotinha, o seu caso é um pouco complicado... – seu tom de voz se tornou mais provocante do que o normal, enquanto suas mãos se apertavam em minha cintura – Vamos ter que tratar de você com mais cuidado...
   
Ah, é? – miei.
   
Aham! – seus lábios tangenciaram os meus – E o tratamento pode ser demorado...

    Desse jeito bobo, Cory voltou a me beijar repetidas e maravilhosas vezes. Vezes essas que não me dei ao trabalho de contar. Não fazia diferença, porque ele continuaria sendo o garoto com péssimo gosto para cantadas; meu futuro médico; o plebeu com traços distintos de realeza; e, acima de tudo, Cory. O mesmo Cory que eu tive a felicidade de descobrir uma pessoa incrível.
  
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Awn, capítulo 22, bbys!

    Eu sei que eu fiquei trocentos anos sem das as caras por aqui, mas é porque eu tive uns problemas com o blog e comigo mesma, que pela primeira vez pensei em excluir o blog de verdade. Eu cheguei a ensaiar um discurso bizarro de despedida, mas felizmente não precisei usá-lo, pensei melhor, deixei o momento passar e agora aqui estou eu! (:
    Então, almoçarei e mais tarde eu volto. Beijo, gatinhas.
    Adios!

2 comentários:

  1. GAROTA, COMO TU FAZ ISSO CMG? SE TU ABANDONASSE ESSE NEGOCIO AQUI EU JURO QUE IA NA TUA CASA TE OBRIGAR A ESCREVER, TO TE FALANDO. Pera, tu vai postar outro capítulo ainda hj? Ok, vou deixar o resto das minhas reclamações no próximo, não irá se livrar tão cedo de mim dona Julianna Castro. Ah, o Cory é mt amor, mds. BEIJOS LINDONAAAA A A AA
    @onlyoue3

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  2. Tô oficialmente apaixonada pelo Cory *-*

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