27 outubro 2013

4. You Make Me Love You - Capítulo 25



Espalhando o boato



 Belieber's POV
    Já estava começando a anoitecer quando finalmente larguei meu estúpido diário e outras notações que haviam gastado parte do meu tempo, trocando-os pelo meu celular. Os números para os quais eu pretendia ligar já estavam salvos na discagem rápida, o que me poupou o uso de alguns cliques desnecessários. Eu só esperava que me atendessem tão rapidamente quanto eu havia efetuado a ligação.

    Destoando das minhas expectativas, precisei esperar que o telefone tocasse pelo menos umas cinco vezes, antes de parecer obter alguma atenção. Tudo isso depois de eu escutar milhares de vezes um discurso de como eu deveria ligar com mais frequência para casa, não me esquecer de onde eu vim e lembrar que eu não estou sozinha no mundo.

    Sim, família, essas palavras concordam perfeitamente com a espera que vocês sempre me proporcionam!

    – Alô? – a voz feminina soou um pouco distraída do outro lado da linha.
    – Mãe?
    – (Seu nome)? – prendi sua atenção muito rapidamente – Ah, como você está, hein? Desculpe-me pelo jeito como atendi, eu não sabia que era você... Mas, como as coisas estão? Aconteceu alguma coisa, filha?

    O interrogatório de minha doce mãe era tão comum que não cheguei a me assustar com sua rapidez ao despejar as palavras no telefone. Eu provavelmente iria chegar aos cinquenta anos ainda tendo que explicar cada passo meu para aquela mulher maluquinha.

    – Eu estou ótima, mãe. E não sei do que você está falando, porque simplesmente não aconteceu nada... – esclareci – Na verdade, está tudo até mais calmo do que antes!
    – Sério? Bem, deve estar tudo calmo mesmo, inclusive sua vontade de se atualizar virtualmente. – embora eu não quisesse parecer crítica, aparentemente ela estava me repreendendo – Posso saber por que a senhorita não atualiza o seu site há mais de dois dias?
    – Mãe... – suspirei – Você tem urgentemente de parar com essa sua mania de brincar de stalker. Eu sou sua filha, não uma completa estranha. Você pode me ligar à hora que quiser, privilégio esse que poucos têm, sabia?
    – Sabia, tanto que nem eu mesmo tenho. – ela iria começar a se queixar – Porque, vamos admitir, (Seu nome), ligar para você é o mesmo que falar com as paredes da casa. Eu ligo em um dia e você me retorna no outro milênio, se lamentando que não tem tempo, que está tudo muito corrido, que estava ocupada demais conversando com um bando de desconhecidos ao invés de falar com a mulher que te colocou no mundo...

    Definitivamente a minha tendência para o drama não era algo tão sem fundamento. Aliás, ser dramática deve ser um traço bem forte que se herda dos pais, porque eu estava para conhecer uma pessoa tão exagerada e teatral quanto a minha mãe. Ela conseguia fazer um segundo dilúvio em uma tampinha de refrigerante.

    – Mãe, para com isso! Porque, em primeiro lugar, eu não demoro tanto tempo assim para retornar as suas ligações. Não um milênio, pelo menos. Talvez uma década, mas um milênio, não... – ri, levando na brincadeira todas as suas típicas lamentações – Em segundo lugar, eu tenho uma notícia para te dar que aposto que não está em nenhum site, nenhuma rede social, nada. Pode procurar, se quiser...
    – O quê? Do que você está falando, hein, (Seu nome)?
    – Mãe, eu estou voltando para casa! – disparei, com um sorriso de orelha a orelha que ela infelizmente não podia ver.

    Houve um silêncio do outro da linha e eu estranhei. Eu já estava começando a achar que minha notícia tinha assustado por demais a minha mãe e ela estava lá no Brasil, tendo um ataque do coração. Porém, antes que eu pudesse chamá-la mais uma vez buscando respostas, ouvi uma respiração ao fundo, indicando que alguém ainda estava ali. Sem a confirmação de alguma morte, eu só poderia deduzir que estava por vir outro surto de drama.

    – Mãe, você me ouviu? – perguntei, impaciente.
    – Sim, claro. Quero dizer... Acho que sim, pelo menos. – ela parecia levemente confusa – Você falou o que eu acho que eu ouvi ou eu estou sonhando? Você está mesmo voltando para casa?
    – Eu não sei bem com o que você sonha, mas sim eu disse que estou voltando para casa...
    – Ah, meu Deus, isso não pode ser sério! E onde você está agora? Prestes a pegar o avião? – ela começou a surtar mais uma vez – Você quer que a gente te espere no aeroporto? Eu não preparei nada ainda, mas posso ajeitar tudo em alguns minutos e ir para lá...

    Completamente louca.

    – Mãe, mãe, menos, por favor! Eu ainda não estou no aeroporto e nem é tão urgente assim. Provavelmente eu estarei embarcando daqui há uns dois, três dias, não sei bem, mas... Pelo amor de Deus, não exagere, ok? Nada de sair gritando aos quatro ventos, fazer tumulto em trinta aeroportos diferentes. Eu só quero chegar e ir para casa, que é onde você estará me esperando. – pedi, sem graça – Não quero que se torne uma grande coisa, mas sim que seja como se eu estivesse voltando para casa depois de um dia no colégio, pode ser?
    – Ah, claro, (Seu nome), porque eu te matriculei em um colégio que você vai e volta só anos depois. Adoro isso! – ironizou, me fazendo perguntar onde ela tinha aprendido essas coisas – De qualquer forma, tudo bem. O que eu posso fazer, além de permitir que você destrua toda a minha empolgação?
    – Ah, eu não fiz isso de propósito. Mas se estou falando isso é porque penso em você. Olha só, se você fizer um alarde sobre a minha viagem, todo o mundo vai saber onde eu estou e eu terei que dar mais atenção ao resto das pessoas do que a você. Eu aposto que não é isso que a senhora quer, não é?
    – Não mesmo. – bufou, frustrada com essa ideia.
    – Está vendo? Então, nada de empolgação demais... – repeti, pedindo internamente que ela mentalizasse esses termos – Bom, acho que é melhor eu desligar agora, porque eu ainda tenho que ligar para o Lucas e contar a novidade para ele também. Você manda um beijo para o papai?
    – Lucas? Ah, você vai desligar a ligação para ir falar com o Lucas? – havia certo ultraje no tom de sua voz – Maravilhoso! Aposto que é isso que você deve fazer todos os dias. Afinal, por que ligar para a sua mãe amorosa e dedicada, quando você pode ligar para um rapaz jovem e despreocupado? Tudo bem, eu entendo. Vai lá...
    – Mãe, você está fazendo algum curso novo de teatro, sem eu saber? – indaguei, mais séria do que gostaria – Pode parar com isso, porque você sabe que eu te amo mais do que qualquer um, mas... É que já vai ficar tarde e eu não quero ter que ligar outro dia, porque eu estarei tentando resolver todos os detalhes para a viagem, por enquanto...
    – Tudo bem, então.  Mas se eu fosse você, não desligaria tão rápido, porque o seu amigo está bem aqui. – cantarolou, surpreendendo-me – Aliás, foi esse o motivo pelo qual eu não atendi ao telefone tão depressa... Porque tenho que ficar monitorando e não deixar que o seu pai acabe matando esse garoto. Eu não quero que minha casa seja cenário de um homicídio!
    – Ah, não! – gemi, baixinho – O que esse garoto está fazendo agora, hein?
    – Ele chegou há alguns minutos atrás, com aquele sorriso angelical dele, dizendo que veio nos visitar, mas agora mesmo está levando seu pai a loucura. Você sabe como Lucas é... Ele é um doce, mas parece que nunca vai crescer. Ele notou que seu pai fica... Tenso, quando se fala de você e algum tipo de relacionamento, então eles estão juntos e Lucas fica perguntando o que ele acharia se vocês namorassem, fica dizendo que você é linda e tudo mais o que vier a cabeça para irritar seu pai. – ela riu e eu fiz o mesmo sem conseguir me conter – Mas é muito bobo, porque todas as pessoas do mundo sabem que você está com o Justin...

    Estava tudo indo bem demais para terminar da mesma forma.
 
     Era tão comum eu e Justin sermos sempre associados um ao outro que eu não deveria sequer me importar, mas continuar escondendo a verdade da minha família parecia um pouco difícil demais, principalmente no momento. Apesar disso, eu também não me sentia confortável o suficiente para contar toda a saga dos últimos meses através de uma ligação que deveria trazer uma boa notícia. Definitivamente não era apropriado falar sobre aquilo, ainda mais quando eu já tinha guardado tudo por um longo tempo. Eu realmente podia esperar um pouco mais.

    – Mãe, nós precisamos conversar sobre algumas coisas... – suspirei – Mas, depois!
    – Ah, nada disso, senhorita! – ela chiou com tanta veemência que eu me senti até culpada – Você não vai falar as coisas pela metade, não comigo. Diga-me o que está acontecendo...
    – Não é nada demais, pessoa desconfiada. Eu tenho algumas coisas para te contar, mas nada que não possa esperar até eu voltar. Na verdade, eu até prefiro esperar... – afirmei, tentando passar o máximo de estabilidade possível – Agora, você poderia passar o telefone para o Lucas, por favor. Eu já estou morrendo de sono e estou só querendo falar com vocês, para poder ir dormir tranquila!
    – E eu tenho escolha se não dizer que está tudo bem e me despedir? Eu só quero que você se cuide direitinho e não demore a pegar esse avião...
    – Eu não vou demorar, prometo. Eu te amo!
 
     Minha mãe não se deu ao trabalho de responder com palavras, mas o tilintar do seu sorriso no telefone foi o suficiente para eu perceber que ela me entendia. Eu sabia que não havia nada que eu pudesse dizer a minha mãe, que seria interpretado de outra forma se não aquela em que eu estava pensando. Sabia que apesar de todo o seu drama e exagero, ela sentia que nem por um segundo eu a deixava de lado em minha vida e isso era importante, porque nem sempre eu estava certa de estar deixando tudo claro o suficiente. Mas ela era ainda a mesma e continuava a entender.

    No meu ouvido, só vinham ruídos, enquanto o telefone era repassado à outra pessoa, que deveria estar em outro cômodo da casa. Durante esse pouco tempo, houve um barulho um pouco mais forte que eu poderia jurar ser de algo sendo atirado e rezei para estar errada. Lucas podia ser bem inconveniente quando desejava e eu esperava que meu pai conseguisse lidar com ele... Algum dia.

    – Fala, gatinha! – sua voz agradavelmente grossa ecoou em meus ouvidos e eu quase amoleci por dentro.
    – Lucas, você está perto do meu pai, não está? – indaguei, tentando parecer o mais irritada possível, o que não significava muito.
    – Aham! – ele riu de um jeito tão espontâneo, que eu precisei suspirar, antes de voltar a ouvi-lo, em um sussurro mínimo – É tão engraçado. Acho que ele vai ter um ataque em breve, sabia?
    – Lucas, para com isso! Ele é meu pai e eu não gosto da ideia de você o estar torturando... – ralhei, levemente – Aliás, o que foi esse barulho, hein? Ele tacou alguma coisa em você? Porque se sim, bem feito!
    – Não foi nada disso, bobona! Eu só acabei deixando algumas coisas caírem aqui, mas nada se quebrou e eu devolvi tudo ao seu lugar... – houve uma pausa rápida – Espera um pouco!

    Sua voz se calou no telefone por um longo tempo, o que me fez pensar realmente que ele ainda não havia acabado de brincar com a paciência do meu pobre pai. Na verdade, se fosse só isso, eu até relevaria, mas me deixar falando com o senhor vento enquanto ele se divertia parecia um pouco cruel.

    – Pronto! – Lucas berrou tão alto que eu pude jurar ter escutado sem a ajuda de um celular – Eu fui procurar outro canto da casa para conversamos melhor, porque, acredite, tentar falar com você enquanto o seu pai me olha como se estivesse monitorando as minhas palavras não é muito legal. Ele me admira tanto que não consegue se conter, coitado!
    – Tudo bem, Lucas, eu já entendi. Agora, por favor, foque a sua atenção em mim, porque eu não quero chegar aí e já ter que te agredir por ser tão idiota. Você realmente está se superando ultimamente, sabia?
    – Ah, me dê um desconto, afinal, dá muito trabal... Espera! O que você disse?

    Eu havia feito de propósito, apenas para experimentar sua reação, sabendo que eu teria total atenção ao fazer parecer que eu soltara a verdade por acidente. Felizmente Lucas cobriu todas as minhas expectativas com sua alegre incredibilidade e, sem me aguentar, precisei rir de mim mesma, deixando-o no vácuo por alguns poucos segundos, antes de reestabelecer um pouco de seriedade.

    – Isso mesmo que você ouviu! – confirmei, animada – Quando eu chegar aí pensarei seriamente em te afogar em uma piscina qualquer e depois dizer que foi um acidente. Nada demais...
    – Você está voltando para o Brasil? Sério? Finalmente se lembrou de que há um país ao qual você pertence? Ou... Tudo isso é motivado pela falta absurda que você sente de ter uma pessoa tão maravilhosa como eu em sua vida? – embora ele estivesse se fazendo de difícil, eu tinha a total certeza de que havia um sorriso enorme estampado em seu rosto e eu desejei por um longo momento vê-lo.
    – Menos, Lucas, bem menos! – falei, escondendo meu sorriso também – Você deveria ficar feliz por eu me lembrar de você uma vez ou outra.
    – (Seu nome), ninguém acredita nisso, ok? Mas tudo bem. Apenas me diga onde você está. – continuou, empolgado – Na verdade, considerando que você está usando o celular, devo supor que já está saindo do aeroporto ou... Está apenas me iludindo como todas as outras vezes que você ficou de me ver?
    – Ah, não começa, vai... – miei, sem graça – Você sabe que eu não estou no Brasil ainda. Mas eu vou viajar muito breve, eu juro. Não precisa ficar se lamentando de saudades, ok? Eu vou chegar logo!
    – Hum, sei. Sempre a mesma história...
    – Não seja um garoto tão mau ou eu adio minha viagem ainda mais. Eu preciso de amor e não sermões, tudo bem? – sim, eu estava apelando para o drama que eu havia criticado tanto, porque eu estava carente, como sempre.
    – Que garota fofa, hein? Talvez eu tenha que te abraçar muito forte quando você chegar e nunca mais soltar. Afinal, sequestro não é uma coisa tão ruim assim, não é?
    – Depende. Se o sequestrador foi Lucas Barros, acho que eu posso lidar com isso! – suspirei, completamente abobada.
    – Ah, como eu queria que seu pai tivesse escutado isso... – murmurou, rindo.
    – Para com isso! Aliás, já que você tocou no assunto, poderia passar o telefone ao meu pai? – pedi – Eu preciso falar com ele também!
    – Ah, não!

    O modo como seu “não” foi cantarolado em tom de lamento fez meu coração murchar de ansiedade. Eu precisava tão desesperadamente do Lucas, que era gratificante saber que ele se sentia da minha maneira. Embora o loiro sempre fizesse questão de deixar claro a minha importância em sua vida, eu era uma pessoa desconfiada e carente demais para acreditar nisso o tempo todo.

    Apesar disso, ele era meu. Só meu.

    – Lucas, não seja malvado comigo! – sussurrei, me sentindo maligna por estar me aproximando do tchau – Você sabe que eu amo falar com você, mas eu preciso conversar com o meu pai e não posso me demorar muito. Essas ligações custam caro...
    – Eu não acredito que eu ouvi isso! A conta da bancária da pessoa cresce absurdamente todo dia, mas o espírito da menina com cinquenta centavos na carteira ainda permanece vivo como antes!
    – Você é muito chato, sabia?
    – Não sou, mas isso me surpreende... – havia um tom de seriedade em sua voz – Você tem uma enorme quantia que eu nem sei se consigo pronunciar o número, mas mesmo assim usa essa desculpa ridícula para não falar com o seu melhor amigo. Que mundo maravilhoso esse que estamos vivenciando!
    – Não é isso, bobo! Até porque, em primeiro lugar, eu com certeza não tenho tanto dinheiro quanto você faz parecer e, em segundo lugar, mesmo que eu tivesse, não gostaria que você me levasse à falência...
    – Não quer ir à falência? Bom, especialistas afirmam que o melhor método para se evitar isso é... Tirar a bunda da cama e ir trabalhar!
    – Ah, é assim? – arfei, indignada – Tudo bem, talvez eu faça isso. Vou agora mesmo cancelar a minha viagem e agendar uma nova turnê mundial. O que você acha?
    – Ei, ei, espera! Não faça isso!

    Ri, me sentindo no controle do pobre Lucas, situação que acontecia muito raramente. O loiro sempre conseguia dar a volta a qualquer momento e fazer com que todos se sentissem como um cordeirinho assustado e dependente da sua magnitude. Mas, como em grande parte das características da sua vida, eu era a exceção, então me usar em uma possível chantagem parecia funcionar muito bem para tê-lo em minhas mãos.

    – Eu não farei... Se você fizer o favor de passar o telefone para o meu pai e parar de insinuar que eu sou mão fechada, ok? – pedi, retornando ao meu tom doce.
    – Tudo bem, chata. Tudo bem! Mas posso te fazer uma pergunta antes?
    – Diga!
    
Você ainda se lembra do quanto eu te amo? – sua voz parece bem mais calma, contida e ainda mais bonita quando ele pronunciou essas palavras.

    Acredite, eu me apoiei no seu possível amor por mim durante muito, muito tempo.

    – Eu não sei bem! – respondi – Mas, todos os dias, eu me lembro de que amo você infinitamente...
    – Te vejo logo, minha!

    Não precisei responder, até porque aquele “minha”, do qual eu sentia tanta saudade, tinha sido o suficiente para arrancar todas as palavras da minha boca. Assim, forçar uma despedida melhor do que aquilo seria uma completa perda de tempo, uma falta de tato com a sua gentileza.

    A ligação ficou silenciosa durante algum tempo e eu imagine que finalmente Lucas estava retornando ao cômodo que se encontrava anteriormente junto com meu querido pai, com quem eu esperava falar dentro de alguns segundos. Minhas suspeitas se confirmaram quando eu ouvi, um pouco ao longe, mas com um forte tom de provocação e sarcasmo, a voz de Lucas ecoar perto do meu pai:

    – Aqui, sogrinho! É a (Seu nome)...

    Sogrinho? Esse garoto estava realmente disposto a fazer o meu pai subir pelas paredes.

    Percebi que a paciência de meu pai estava nos últimos segundos, quando um suspiro pesado soou em meus ouvidos sem que ele tivesse a intenção. Não era minha obrigação, mas ainda assim tentei compensar o jeito insuportável de Lucas Barros, sendo o mais amável possível, porque eu sabia que dessa forma ele esqueceria rapidamente os minutos de tortura que meu melhor amigo o fizera passar.

    – Pai! – falei, reunindo toda a minha animação – Que saudade!
    – Oi, filha! – sua voz parecia cansada, cansada de tanta perturbação pela qual ele passara nos últimos minutos – Tudo bem com você?
    – Pai, me desculpe o Lucas! Às vezes, ele é tão bobão... – expliquei, sendo delicada demais com o “às vezes” – Mas, só para você ter certeza, nós não temos nada juntos, ok? Nem nunca tivemos...

    E por falta de oportunidade não foi.

    – Eu sei. Quero dizer, acho que sei... Sei lá! – ele parecia mais confuso do que eu sempre fora – Esse garoto me enlouquece. Ele é tão inconveniente!
    – É, pai, mas isso passa depois que você o conhece melhor. Ele é um doce!
    – Eu estou duvidando um pouco, afinal, acho que o conheço há uns... Dez anos. Ou mais! – uma respiração profunda tomou meus ouvidos – Ai, meu Deus, acho que estou ficando velho...
    – Claro que não! Isso é besteira sua, pai! De qualquer forma, eu não te liguei para falarmos sobre o Lucas, ok? – me preparei para dar a notícia, tentando retirar o enorme sorriso em meu rosto – Lembra que eu falei, há alguns dias atrás, que tinha uma surpresa para você? Então, eu vou voltar para casa...
    – Sério? Você quer dizer... Para sempre?
    – Não, pai! – miei, sem jeito.

    Embora não fosse sua intenção, eu me senti levemente intimidada pela minha própria realidade. Afinal, me deixava triste saber que a nossa distância o machucava tanto e eu não podia fazer nada para aplacar isso. Na verdade, para mim, já era um pouco surpreendente saber que a minha ausência fazia mal a alguém – mesmo que esse alguém fosse da minha família – porque eu sempre acreditei ser o contrário.

    – Eu ainda tenho que trabalhar, pai. Não é como se eu pudesse simplesmente jogar tudo para o alto e voltar para a minha vida antiga... – expliquei.
    – Não sei por que não... – contrariou, me fazendo imaginá-lo com um bico de insatisfação – Até porque eu e sua mãe sempre demos conta de lhe dar tudo o que você precisava, ou seja, se você ainda continua trabalhando como uma doida varrida é porque quer!
    – Isso é claro! Eu quero muito mesmo, eu adoro fazer isso e eu sei que você sabe disso. – abafei um riso, antes de mudar de assunto – Mas vamos deixar isso para lá, afinal, não é sobre isso que estamos falando e sim sobre eu voltar para casa. Embora você não fique tão satisfeito porque vai ter que me dar tchau mais uma vez, eu prometo passar um bom tempo com vocês, ok?
    – Acho bom mesmo, porque seria horrível se eu tivesse que te prender aqui dentro de casa...
    – Horrível e ilegal! – acrescentei.
    – Também. Mas ilegal mesmo será se houver alguma aglomeração aqui em frente à minha casa, quando você chegar. – resmungou, como um velhinho frustrado – Você sabe, eu tento entender isso, mas quando a minha filha decide dar atenção a estranhos do que ao próprio pai, se torna um pouco incômodo.
    – Meus fãs não são inconvenientes. São doces e amáveis, como unicórnios! – sorri, com a total certeza de que ele também pensava assim, apenas estava tomado de ciúmes – Além disso, não haveria uma aglomeração em frente a nossa casa, se vocês não fizessem questão de espalhar aos quatro cantos do mundo que eu estou finalmente em casa e toda a mesma história de sempre...
    – Ah, sim, até porque ninguém sabe onde você mora... Ou morava, não sei!
    – Não é minha culpa se eles são muito competentes em descobrir cada detalhe da minha vida... – argumentei – Além disso, formando ou não uma multidão aí fora, eu ainda vou saber ceder parte da minha atenção aos meus pais, porque eles são muito importantes para mim, sabia?
    – Isso significa que eu preciso começar a pesquisar o telefone de pizzarias e fast-foods dos arredores? – meu pai suspirou, como se já esperasse por isso.
    – Bom, você me pouparia muito trabalho se fizesse isso... Aliás, nesse caso, busque também por fornecedores de água, porque podemos precisar de algumas garrafas. Hidratação é importante sempre!
    – Apenas isso?
    – Claro. – assenti – Você sabe... O burburinho da minha chegada ao país não vai durar muito tempo e logo eles irão se dissipar para suas próprias atividades e esquecer que eu existo ou se lembrar de coisas mais importantes!
   – Ah, claro. E eu sou o Papai Noel! – falou, com leves traços de ironia – De verdade, eu não sei o que te faz pensar assim, mas não vou te contrariar dessa vez. Qualquer coisa, a gente resolve depois...
    – Pai, não é muito diferente de antes... – rebati, serena – Pelo menos, não aí. Você sabe que as mesmas pessoas que me veem indo para a padaria antes, me veem atravessando a rua agora e não é diferente para elas. A exceção acontece apenas porque algumas pessoas de outras regiões que não me conheciam pensam que sou algo de muito extraordinário e também porque sempre há pessoas de outros estados passando pela nossa cidade. Mas, fora isso, a única diferença é que aquelas pessoas esnobes daí não me veem mais como se eu fosse completamente invisível no mundo superficial delas. Porque, talvez, a mídia me faça parecer superficial também.
    – Ei, você incrível, ok? E não deve se lamentar por muitas pessoas começarem a perceber isso em você! – suas palavras saíram em um tom tão protetor, que eu me acalmei – Agora, você só tem que perceber isso também. Eu já percebi, aliás, há muito tempo, desde o dia que você nasceu, para ser mais exato. O engraçado é que isso não me faz ter muito mais atenção quando você vem para cá, mas o que eu posso fazer, além de permitir que as pessoas te admirem também? Eu supero...

    Definitivamente eu vivia uma relação de amor e ódio com essa mania boba do meu pai de sempre me colocar em um pedestal e me fazer perceber que não importa quanto tempo se passasse, eu sempre seria a princesinha dele. Eu sabia que era incrivelmente espontâneo e sincero, me fazendo sentir extremamente especial. Mas ainda assim, me incomodava pensar que eu nunca conseguiria retribuir tudo isso da maneira que ele realmente merecia, porque eu nunca seria tão amável.

    – Por acaso, eu já disse que te amo? – sussurrei.
    – Acho que sim... – respondeu, parecendo um pouco receoso – Afinal, isso e o seu sorriso, para mim, parecem a mesma coisa, então sim!
    – Quer saber? Você deveria se envergonhar, e muito, por fazer todas as outras pessoas do mundo sentirem inveja por não terem um pai tão maravilhoso quanto você. – acrescentei, rindo. – Você deveria parar para pensar nisso e eu... Bem, eu deveria estar dormindo para falar a verdade.
    – Deixei-me adivinhar... Isso significa que você tem que desligar.
    – Aham! – concordei, cheia de culpa – Eu realmente queria ficar para conversar mais, mas já está tarde e eu tenho que acordar cedo amanhã se quiser resolver todos esses detalhes ridículos que envolvem uma viagem. Além disso, eu ainda tenho que conversar com a Pattie para avisá-la...
    – Tudo bem, então. Eu espero mesmo que você esteja indo dormir e não aprontar por aí, porque se for a segunda opção, você sabe que eu ficarei sabendo logo... – alertou, como se eu ainda fosse uma adolescente em fuga que faria tudo para uma festa com os amigos – Tenha uma boa noite!
    – Durma bem...
    – Te amo, princesinha!
    – Tchau, pai! – miei, antes de desligar.

 
    Um telefonema. Era necessário apenas isso para que eu me sentisse novamente em minha casa – e, com isso, eu quero dizer o lugar onde eu nasci e, não, a mansão enorme que eu comprara nos Estados Unidos – e voltasse a ser tomada por toda uma energia que só o Brasil conseguia me dar. Isso explicara o motivo pelo qual eu sempre ficava meio para baixo após desligar. Era como se eu estivesse feito duas viagens em poucos minutos e eu nunca conseguia decidir se gostara ou não de voltar para onde estava.

   De qualquer modo, no Canadá, eu continuava no meu quarto, na escuridão que só era cortada pela iluminação baixa de um abajur. O único ruído ali era o som da minha barriga roncando, que continuaria comigo durante um longo tempo, já que eu me recusara a levantar e descer escadas até a cozinha. Minha fome não era nada tão urgente assim, não que pudesse sobrepor minha preguiça, pelo menos.

    Ao invés disso, preferi traçar o meu plano de ação para o dia seguinte. Eu sabia que falar com Pattie e Chaz seria fácil, porque ambos apoiariam minhas decisões, sabendo enxergar o que era melhor para mim. Mas ainda não tinha decidido se deveria ou não informar isso ao Justin, afinal, eu não tinha sequer certeza se ele ligaria e, além disso, ainda tinha a Manuela. Ah, Manuela...

    Desde que eu chegara do meu encontro com Cory, transbordando de felicidade, eu não havia pensado em Manuela nem por um segundo, talvez. Mas tomando consciência de que ela ainda permanecia sob o mesmo teto que eu, não tinha outra opção se não considerá-la parte do meu plano de ação do dia seguinte. Só que era difícil, porque passando por tudo o que acontecera nos últimos meses, eu consegui chegar a um ponto em que tudo sumira após um evento feliz, mas ela não. Ela permanecia ali como uma estaca cravada em meu coração. Uma estaca que eu não conseguia remover e nem mesmo sabia se queria, porque ela doía. E doía muito.

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Capítulo 25, nenéns! (:
Eu espero que gostem e tenham um bom resto(?) de final de semana... (Desculpem a falta de mimimi, mas eu tô morrendo de sono. Fui!)
Amo vocês!

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