08 dezembro 2013

4.You Make Me Love You - Capítulo 29


Sem lágrimas
BFF


Música do capítulo: Big Girls Don't Cry - Fergie
Belieber's POV
   Eu havia chegado ao aeroporto fazia poucas horas, mas já tinha sido prontamente atendida da forma mais atenciosa quanto era possível. Infelizmente, isso também significava que eu teria que esperar um pouco mais para embarcar, afinal, "meu avião ainda não estava em condições de servir de transporte para alguém como eu". Sinceramente tentei não encrencar com o termo que se referia a mim como uma princesinha mimada e consegui, apenas por saber que ficar irritada faria com que esse título realmente pudesse me ser atribuído.

    Sem mais outras opções, tentei me distrair comigo mesma e com o que estava a minha volta, o que significava: nada. O aeroporto estava completamente vazio, característica que era muito rara, mas que poderia ser explicada talvez pelo horário tão inconveniente. Definitivamente era cedo demais, eu tinha consciência disso. Mas mesmo assim preferia que fosse dessa forma, pois eu já tinha adiado minha felicidade por tempo demais. Era hora de eu me dar uma chance...

    Peguei o meu celular, com o único intuito de me distrair, e comecei a tirar uma fotos de mim mesma. Sim, eu parecia uma garota completamente louca, sentada em uma das cadeiras acolchoadas, agarrada a um urso gigante e fazendo caras e bocas para uma câmera de celular, mas eu não me importava. Eu só queria dar uma repaginada no meu instagram, agitar meus fãs no twitter e principalmente perturbar Lucas, Chaz e Cory com a imagem da minha cara logo pela manhã.

    Eu estava exagerando em uma careta dramática quando ouvi chamarem meu nome ao longe. Foi nesse momento que eu percebi que pessoas poderiam estar me observando e, sendo assim, já estava mais do que na hora de parar de gracinhas, porque eu poderia facilmente estar sendo taxada de idiota. Não que aquele chamado tivesse me assustado, já que, pelo tom de voz, eu tinha certeza de que havia sido apenas a minha imaginação fértil demais.

    – (Seu nome)... – até que a voz se repetiu, fazendo com que eu congelasse de verdade.

    Eu poderia ter me enganado de novo, dizendo que era alguma alucinação da minha cabeça, cantarolando qualquer coisa para afastar aquela sensação de vazio ou simplesmente batendo a cabeça na parede, mas a voz agora se encontrava ainda mais perto. Perto de mais para que fosse da pessoa em quem eu estava pensando. E era. Eu sabia disso sem sequer precisar me virar, já tinha ouvido o meu nome saindo por entre aquele lábios muitas vezes.

    Ao que me parecia, daquela vez, eu não tinha para onde escapar.

    – Manuela... – murmurei, me virando devagar.

    Aquele tom de voz não era novidade para mim, assim como a pessoa não me representava nenhum tipo de surpresa, mas o modo como ela estava se afastava um pouco do usual. Vestindo um pijama com as mangas puxadas para cima, um short jeans que não combinava com o frio apavorante e a típica pantufa de ursinho, Manuela me fitava com a maior cara de abandono. Personagens dramáticos de quadrinhos perderiam fácil para ela.

    – O que você está fazendo aqui? – Manu indagou, me fazendo duvidar de que, de fato, ela tivesse alguma dúvida.
    – Hã... Isso é um aeroporto. Não é óbvio?
    – É... Sim, eu acho, mas... – a morena engoliu em seco, aparentando certo nervosismo – Você realmente estava pensando em ir embora sem se despedir de mim?

    Pela primeira vez quem estremeceu foi eu. A pergunta dela não deveria ter qualquer efeito sobre mim, mas não foi bem assim que aconteceu. Logo que suas palavras começaram a fazer sentido em minha cabeça, eu soube que o que eu estava fazendo era errado. Ainda assim – por pura ironia do acaso – eu sabia também que não ia parar, nem me arrepender. Eu não podia me dar a esse luxo. Aliás, a culpa daquilo tudo não se retinha somente a mim e eu não iria adquirir o título de desalmada sozinha.

    – Bem, eu pensei que você não quisesse mais ser minha amiga... – respondi, firme.
   
    Um minuto foi o suficiente para que Manuela mudasse seu jeito. Ao chegar, ela parecia tão aflita, tão instantânea, que eu sequer pudera discordar daquele ar ao meu redor e simplesmente lhe virar as costas. Mas, agora, ela não parecia ter toda essa urgência saindo pelos poros, muito pelo contrário. A garota à minha frente tinha um olhar tão triste que me imaginei falando com uma criança carente e, como era de esperar, meu coração amoleceu por dentro.

    – (Seu nome)... – ela riu, sem humor algum, apenas tentando quebrar sua própria tristeza –, você acha mesmo que, se eu não quisesse ser sua amiga, teria quase torturado o Chaz para que ele me dissesse onde te encontrar quando notei seu quarto vazio? Se eu não quisesse ser sua amiga, acha mesmo que a primeira coisa que eu faria ao acordar seria te procurar? E, por fim, se eu realmente não te considerasse uma amiga, acha que eu estaria aqui, no meio do aeroporto, um lugar público, vestindo pijamas e pantufas?

   Eu poderia ter acredito, se – e somente se – eu não conhecesse Manuela há tantos anos e não soubesse de todas as esquisitices que ela fazia por motivos nem tão relevantes assim. Aquela, por exemplo, não era uma rara exceção, mas apenas seu comportamento usual de insana. Na verdade, eu até duvidava internamente que ela faria o mesmo e talvez até mais, caso fosse anunciada uma distribuição de chocolate de última hora, no aeroporto.

   Porém, saber que ela não falava sério, acarretava também ter uma percepção mais ampla do que vinha acontecendo. Em seus olhos, estava estampado um desespero tão profundo que me fazia temer a pergunta, mas eu não podia me contentar com aquela mentira – não mais. Assim, sem pestanejar, consenti a mim mesma o direito de insistir e pressionar, até que eu voltasse a saber o que estava se passando na cabeça da minha ex-melhor amiga.

    – Tudo bem, Manuela. Agora, você pode já pode falar a verdade, por favor... O que está acontecendo?

    Não precisei de muito para perceber que eu estava certa em achar que alguma coisa ali estava sendo ocultada de mim, pois logo após minha pergunta a expressão de Manuela ficou tensa – mais do que eu já tinha visto antes. Felizmente essa reação foi apenas instantânea e passou bem depressa, dando espaço a outra bem pior. Em um único minuto, os olhos da garota diante de mim se encheram de lágrimas, que começaram a transbordar sem dó, quando ela afinal decidiu me relatar a verdade.

    – Eu não consigo, (Seu nome)! Eu sei que eu não vou suportar sem você aqui... – seu tom de voz era um sussurro entrecortado por soluços – É mais fácil fingir que as coisas estão bem comigo com você por perto, porque a sua presença me dá forças, mas... Eu não vo aguentar muito tempo sem você...
    – Manuela... – reunindo toda as forças que permaneciam dentro de mim, eu me obriguei a aparentar um pouco de dignidade, enquanto desmontava por dentro diante daquela cena – Eu te conheço... Até bem demais, na verdade. E eu não acho que você realmente precise da minha presença aqui. Você é mais forte que vinte de mim. Além disso, eu não conheço ninguém no mundo mais determinada que você. Ninguém com essa força para chegar aonde quer... Só você! Eu sei que você sabe que eu vou embora de qualquer jeito, mas eu não quero que você fique desse jeito, porque... Eu acredito em você, não só no que você fala, mas também na sua capacidade de fazer mais do que pensa. Acho que você deveria acreditar mais nisso também!
   
    Enquanto falava, bem pausadamente para não ter que repetir, deixei me levar pela consciência de que tudo aquilo era incrivelmente verdade. Desde o dia em que eu conheci a Manuela, eu soube. Ela tinha um olhar que resumia tudo o que eu havia falado, passando uma mensagem de "ei, eu sou uma vencedora, você quer vir comigo?". Eu sempre admirei isso.
   
    – Mas... Mas...
    – "Mas", nada. Você é Manuela Magalhães, você não diz "mas" e, sim, "tudo bem, eu vou conseguir". É difícil se lembrar disso? – interrompi, exaltada de indignação – Manu, olha para mim. Eu, mais do que ninguém, sei o quanto deve estar sendo complicado para você, mas levantar bandeira branca antes da hora não é a solução. Eu estou fugindo do passado, mas isso não significa que você deva fazer o mesmo. Eu não tenho nada que ainda me prenda aqui, mas você tem e sabe disso. Continue aqui, conserte as coisas, termine com o Justin, mas não o deixe sem apoio nesse momento e... Principalmente não deixe Ryan ir embora para sempre!
   – Eu não acho que tenha alguma forma de consertar isso! – Manuela secou as lágrimas, se referindo especificamente a Ryan.
    – Eu não me importo. Vou fazer acontecer. Talvez eu possa conversar com Ryan, esclarecer as coisas e eu não ligo se ele ficar de birra ou se recusar ao me ouvir. Eu vou fazer o que estiver ao meu alcance para que vocês voltem ao que era antes, mas... – respirei fundo, tentando ainda recuperar as energias, já que o que eu mais queria era terminar aquele papo logo antes que eu não aguentasse mais – Mas eu quero que você me prometa que nunca mais tentará ser um super-homem novamente, ok? Você não pode salvar todo mundo...
    – Não, mas eu posso tentar. Eu tinha que tentar... – os olhos escuros da morena se tornaram duros, de repente – E eu não me arrependo disso, (Seu nome). O meu único arrependimento é não ter sido competente o suficiente para proteger você, exatamente do jeito que você está tentando fazer comigo agora, mesmo depois de tudo.
    – É diferente, Manuela...
    – Ah, é? E como pode ser tão diferente?

    Estremeci internamente. Embora eu soubesse exatamente qual era problema, ser confrontada e praticamente obrigada a falar em voz alta me machucava, exatamente por eu saber que era tão verdade. Eu realmente não desejava que qualquer um passasse por isso, porque mesmo que não fosse o fim do mundo, era dolorido.

    Dolorido demais para aquela garotinha com toque de algodão doce entender...

    – A diferença é que eu estou acostumada, Manu! – miei ao notar que algumas poucas lágrimas já começavam a descer pelo meu rosto – Essa não é a minha primeira decepção com assuntos relacionados ao coração, mas é minha culpa por ainda continuar insistindo nessa besteira de amor. Mas e quanto a você? Quantas vezes você já teve todo o seu interior triturado em milhões de pedacinhos? O mínimo possível... E eu quero que isso continue assim!

    Eu tinha chegado ao meu limite e a única coisa que conseguia fazer era rezar para parar de chorar. Odiava chegar a esse ponto, ainda mais em público. Eu não queria me sentir boba ou ingênua demais, mas aquilo tudo era muito torturante de falar com outra pessoa.

    Eu costumava ter mais facilidade de deixar meu coração falar quando estava com Justin. Era melhor, mais natural, porque cada parte de mim sabia que ele tinha um poder especial de massagear meu emocional até que eu voltasse a entrar nos eixos novamente. Ele não se importava com as minhas crises desmotivadas ou com meu mau humor repentino, pelo contrário... Ele parecia me olhar com ainda mais carinho quando eu era uma péssima companhia. Como eu poderia fingir que não iria sentir falta daquilo?

    – Me desculpa! Eu sinto muito, muito mesmo... – as lágrimas de Manuela haviam voltado, servindo de companhia para as minhas – Tudo o que eu mais queria nesse mundo era fazer tudo voltar ao que era antes, mas por alguma razão eu não consigo. Eu queria colocar um sorriso permanente no seu rosto do jeito que você sabe quem fazia, mas tudo está desmoronando tão depressa e eu sinto tanto. Se eu soubesse que era tão tonta a ponto de não conseguir sequer ajeitar isso, eu não teria começado nada, para falar a verdade. Mas é muito tarde, eu estou perdendo todo mundo por culpa exclusivamente minha. Eu sinto como se eu não pudesse fazer mais nada, além de me arrepender para o resto da vida!
    – Então, esqueça isso! Eu já te disse milhões de vezes que não é tarde demais. Vá em frente, corra atrás do seu erro e supere-o. Não era assim que você costumava fazer?
    – O problema é que é muito fácil eu acreditar nisso enquanto você está aqui. (Seu nome), você pode nunca ter percebido, porque não é uma coisa que fica estampado em minha testa, mas desde que eu sai de casa quase que permanentemente, toda a minha força é você. Aqui, você é o que me dá referência de lar, de alguém que sempre esteve comigo. Mas... Eu sei que estaria pedindo demais ao querer que você continuasse ao meu lado, (Seu nome). Minha atitudes fizeram com que eu perdesse pessoas realmente importantes e eram elas que sempre me motivavam a permanecer firme!
     – Mas... – passei a mão no rosto depressa, disposta a parar de chorar – Eu não estou ao seu lado? Quem te disse que você está me perdendo?
     – Hã... O que... O que você quer dizer?
 
    Imediatamente, Manuela despertou em mim uma série de lembranças que me levavam a responder aquela pergunta. Eu tinha várias formas de expressar o que eu tinha dito, cada uma deixando em evidência um lado meu, mas quando eu pensava dessa forma, tudo soava mentira. A verdade era só uma e ela podia ser resumida em um momento tão ingênuo e feliz das nossas vidas que chegava a deixar meus olhos úmidos novamente ao lembrar...

    Eu estava procurando a tonta da Manuela havia quase vinte minutos e, mesmo já tendo rodado o colégio inteiro, nada daquela garotinha inconveniente aparecer. Bem, eu havia rodado quase o colégio todo, exceto um lugar, o qual eu recusava qualquer aproximação. Ironicamente algo em mim dizia que a minha melhor amiga estaria bem ali, porque o objetivo máximo dela naquele momento era me provocar. Típico...

    Com o coração na mão e arrependimento sendo bombeado para cada milímetro do meu corpo, decidi me dirigir lentamente para o prédio do Ensino Médio do colégio. Mas nem precisei ir muito mais longe do que isso.

    Sentada na escada que dava acesso ao último nível de ensino do colégio, Manuela mexia no seu celular, com uma careta emburrada. Eu não estava perto o suficiente para saber, mas podia pressentir que a baixinha estava quase destruindo o próprio aparelho, ao utilizá-lo com tanta raiva no coração. Era a mesma coisa que eu estava sentindo quando me vi obrigada a me arrastar até aquele canto tão "proibido". Em outras palavras, se alguém fosse destruir alguma coisa ali seria eu. A coisa a ser destruída? A cabeça da minha amiga, que aparentemente já tinha vindo com defeito.

    "Manuela?", chamei, relutante, antes de começar a me aproximar.

    Sua reação foi imediata e ignorante, considerando que a morena apenas levantou um pouco o rosto em minha direção, fez uma careta de desgosto e voltou a fitar o celular, fingindo-se interessada naquele pedaço minúsculo de tela. Ela estava conseguindo ultrapassar os limites da minha paciência - que já não eram muito altos.

    Sem consegui enxergar muitas opções, me arrastei até a escada, lutando contra todos os meus instintos que pediam que eu permanecesse ali. Eu sabia que algo muito embaraçoso iria acontecer caso eu prosseguisse, mas não havia nada mais que eu pudesse fazer. Aliás, entre tentar ajeitar as coisas com a minha melhor amiga e me fingir de perfeita para um garoto que nem sabia da minha existência, acabei pendendo para a alternativa que me parecia mais atingível.

    Ai, Manuela, o que eu não faço por você?

    "Vai me contar o que está acontecendo ou não?", murmurei ao finalmente me sentar ao seu lado.
    "Eu não sei do que você está falando...", Manuela me respondeu de forma tão seca que cheguei a duvidar se ela estava realmente me ouvindo.
     "Manuela Magalhães, se você não largar esse celular agora, eu vou... Vou...", eu estava prestes a dizer uma coisa bem feia, mas minha mãe havia me ensinado bem sobre como mocinhas não devem usar certos termos, então minha frase ficou sem final.
     "Vai o quê?", minha melhor amiga desequilibrada berrou, rejeitando seu aparelho telefônico por alguns minutos. "Vai mandar o Lucas vir aqui, me bater? Ou melhor, vai procurar a sua nova amiguinha, Keyla, para ficar se queixando de mim?"

    Estava tudo explicado, então.
  
    Eu sabia bem que tinha um motivo em especial para a miss drama estar fugindo de mim, para estar sentando com aquela cara zangada no pior lugar do mundo e por fazer aquele típico olhar teatral de "fim do mundo", mas não esperava que fosse algo tão previsível.

    Se havia algo que era claro para todas as pessoas ao redor do mundo era que Manuela era super ciumenta, mas ainda assim não imaginei que esse seu lado seria despertado por algo tão bobo. Talvez pudesse ser insensibilidade da minha parte, mas eu não conseguia ver mal algum em ter chamado a Keyla para o meu time de queimado antes de chamar a Manuela. Afinal, era só um jogo - um jogo que eu não estava participando no momento por ter que ficar procurando a minha amiga.

    "Ah, não, Manuela...", resmunguei. "Você realmente não me fez vir até aqui, correndo o risco de ter que passar pelo Victor, por conta dessa bobeira que você tem com a Keyla... Essa implicância toda ainda é por causa do episódio da bala?
    "Que bala? (Seu nome), você realmente acha que eu iria ficar guardando rancor dessa menina pelo fato de no começo do ano, em abril, acredito, essa duas caras ter oferecido balas para nós duas e no final ter dado só para você, alegando que tinha acabado, sendo que cinco minutos depois, estava dando a mesma bala para o João Pedro? Você acha que eu ia ficar chateada por essa bobona já ter tudo planejado para roubar a minha melhor amiga? Acha mesmo?"

    Acho.


    "E, em segundo lugar, eu nem tinha sequer pensando nesse tal de Victor, ao vir para cá. Para falar a verdade, eu mal sei quem é esse garoto...", completou ela, fingindo-se de boba.

    Ah, claro, porque, como minha melhor amiga, ela nem tinha como saber sobre o garoto que eu vinha falando desde o começo do ano. Nem era para Manuela que eu relatava cada passo do meu Victor, quando o Lucas já estava cansado de me ouvir falar da nossa futura aliança de casamento. Tudo bem que eu ainda não tinha certeza se meus pais iriam aceitar que eu, em pleno quinto ano, casasse com um garoto do primeiro ano do Ensino Médio, mas fé era o primeiro elemento para que desse certo. Além disso, o Victor tinha um charme tão avassalador que até mesmo os meus pais não resistiriam!

    "Manuela, eu deveria te socar até começar a sair sangue pelos seus ouvidos, mas eu sou boa e fraca demais para fazer isso, então vamos resolver logo essa discussão para podermos sair daqui, tudo bem?", propus, meio contrariada.
    "Por mim, já está tudo resolvido!", ela continuou com o seu teatrinho falho, tentando fingir que não estava se remoendo de ciúmes. "Aliás, eu estava perfeitamente bem aqui sozinha, então você pode voltar lá para a sua melhor amiga 'quero agarrar todos os garotos da escola' e ficar se divertindo com ela também..."
   
    Eu estava quase desistindo de tirá-la dali, deixando-me levar pelo medo de ser vista naquela escada, mas pensei um pouquinho melhor. Eu sabia que, caso não fizesse nada e deixasse que o ciúme de Manuela se prolongasse ainda mais, acabaria por me arrepender mais tarde, sentindo toneladas de culpa sobre mim, quando na verdade eu não tinha feito nada. Em outras palavras, eu não tinha outra escolha se não resolver logo aquela questão.

    "Manu, olha para mim...", pedi, puxando seu queixo, enquanto tentava estabelecer minha paciência. "A Keyla nunca vai tomar o seu lugar, tudo bem? Ela é só uma colega de classe que não tem sequer comparação com o que você significa para mim. Era só um jogo e eu achei que fosse bom se eu escolhesse ela para o meu time, só isso!"
    "Ah, claro, porque a miss perfeição deve jogar queimado muito melhor do que eu, não é?"

     E jogava mesmo.


    Respirei fundo, buscando algum outro argumento ao qual eu poderia me apegar. Notei rápido demais que existiam vários...

    "Manuela Magalhães de Oliveira, será que você pode me dizer quem é a única pessoa para quem eu empresto minhas revistas favoritas? Perto de quem eu sento em todas as aulas? Com quem eu não me importo de ficar conversando no telefone, mesmo tendo muita vergonha de usá-lo? Quem é a única pessoa que eu convido para dormir na minha casa às vezes? Para quem eu conto todos os meus segredos? E, principalmente, para quem eu contei primeiro da minha paixão implacável pelo garoto mais lindo do colégio?", soltei tudo de uma vez só a medida que os detalhes vinham até minha mente. "Não foi para a Keyla, foi?"

    Manuela ficou calada durante alguns minutos, sem olhar para o celular, nem para mim. Eu sabia que ela estava pensando em alguma forma de virar o jogo, afinal, era assim que ela gostava de brincar, mas não havia escapatória dessa vez, considerando que eu tinha jogado na sua cara anos e anos de amizade. Assim, ela acabou percebendo o que tudo aquilo significava e, ainda escancarando o chão, murmurou:

    "O que isso quer dizer?"
    "Quer dizer que você é a minha melhor amiga no mundo inteiro...", falei, sorrindo. "E nem mesmo vinte Keylas podem substituir você, boba!"
    "Sério?", os olhos da Manu encheram-se de esperanças.

    "Manuela, eu ficaria presa em um quarto repleto de aranhas por você, sem sequer me importar... Então, acha mesmo que eu não estou falando sério?"

    Eu tinha pavor de aranhas - segundo a internet, algo chamado aracnofobia - e Manuela sabia perfeitamente disso. Por essa mesma razão, a morena me abraçou tão apertado que eu cheguei a pensar que meus órgãos internos seriam esmagados, mas eu estava completamente inteira. E satisfeita, por saber que finalmente tinha conseguido dobrar até mesmo a teimosia da minha melhor amiga e ainda ganhado o bônus de tê-la feito sorrir.

    "Ai, sua chata, sabia que eu te amo, hein?", Manuela falou cheia de mimos, enquanto um sorriso de orelha a orelha se firmava em seu rosto.
    "Sabia, sim!", ri, sem graça. "Mas, se você ama mesmo, vamos sair logo daqui antes que o Victor resolva aparecer e eu precise ser internada em um hospital de tanto nervoso, ok?"
    "Vamos logo, então, porque eu não quero ficar ouvindo você se lamentando para o resto da vida caso a sua paixonite louca passe por nós. Já te imagino como você vai falar que ele nem olhou para você e como a culpa é toda minha por te fazer aparecer por aqui sem estar minimamente apresentável e todo o blá blá blá de sempre...", ela riu, enquanto me puxava pelos degraus.

    "Cala a boca, vai!"

    Saímos correndo dali em direção ao pátio principal, prontas para ignorar o jogo bobo de queimado que acontecia nas quadras e passar um bom tempo conversando, enquanto assistíamos ao jogo de futebol do Lucas. E, quando eu digo "conversando" quero dizer algo como "escutando Manuela rir da minha cara várias vezes por conta do meu namoro secreto com o Victor, antes de ela finalmente me dar dicas que nunca funcionariam".

    Voltando ao presente momento, minha cabeça rodou um pouco com tantos pensamentos, antes de eu conseguir ouvir com clareza o estalar do meu coração. Naquele segundo, tudo parecia tão estupidamente óbvio que me senti envergonhada de algum dia ter jurado ódio eterno àquela garota bem a minha frente. Era uma total enganação – para não dizer uma total perda de tempo – dizer que eu apagaria tudo de uma hora para outra. Querendo ou não, Manuela ainda permaneceria por um tempo incontável em minha vida. E sinceramente eu queria aquilo.

    – Eu estou dizendo, Manuela... Que por você, eu ficaria presa em um quarto cheio de aranhas sem sequer me importar! – miei, por fim, sentindo todas as lágrimas voltarem aos meus olhos.

    No minuto em que ela se calou e me fitou intensamente, eu soube que seu coração estava batendo da mesma forma rápida e dolorida que o meu. Essa consciência foi o suficiente para que eu entendesse o que estava por vir quando Manuela finalmente me abraçou, liberando de uma vez todo o nível de lágrimas que ela estivera tentando segurar por um bom tempo. Por um minuto, me perguntei se aquele abraço tinha feito tanto falta para ela quanto fizera para mim.

    – Eu te amo para sempre! – ela falou, abafando as palavras na minha camisa – E eu te prometo, eu vou fazer o que estiver ao meu alcance para que tudo volte ao normal...
    – Eu te amo também, minha coisa boba! – respirei fundo, tentando conter todas aquelas lágrimas – E eu digo o mesmo para você. Nós fizemos uma promessa e eu nunca vou te deixar, ok?

    Passamos mais um longo tempo abraçadas enquanto tudo o que eu conseguia ouvir e pensar eram as inúmeras coisas que eu tinha realizado com aquela garota ao meu lado. Eu tinha que reconhecer que minha vida seria sem emoção e aventuras, caso eu não tivesse Manuela comigo. De fato, eu nem teria chegado a conhecer o Justin, nessa situação. E mesmo sabendo que eu deveria considerar essa uma boa hipótese, eu não conseguia. Ele era importante demais para eu preferir apagar tudo a sofrer com a falta. Manuela, idem.

    Quando percebi um senhor trajando o uniforme do aeroporto ao nosso lado, porém, realizei que já havia chegado a hora e eu não tinha mais como adiar aquilo. Embora eu estivesse tentando não tratar o momento como um "adeus", era exatamente o que estava acontecendo. Resolvendo mais essa mágoa, eu estava disposta a dizer tchau para todas aquelas coisas que haviam me machucado nos últimos tempos. Eu realmente queria que a dor fosse apenas uma memória e, para isso acontecer, eu tinha que começar de algum lugar.

    – Tem certeza? – perguntou Manuela quando nos afastamos e eu retomei minhas coisas.
    – Totalmente... – suspirei.
    – Então... Te vejo em breve?
    – Me liga, Manu... – orientei – Eu vou estar sempre do outro lado da linha.

    Assim, voltei-me para o senhor ao nosso lado e ele me assegurou que iria me acompanhar para que eu pudesse "fazer meu embarque com a maior segurança e tranquilidade" - típica frase que deve ser decorada por todos. Mas eu já estava segura do que queria e tranquila por finalmente ter conseguido me desprender de algo por mim mesma. Pela primeira na vida, eu estava me sentindo completamente independente.

    Eu só tinha dado alguns poucos passos desde o ponto onde eu estava, quando me lembrei de algo muito importante que eu não poderia ir embora sem. Por conta disso, virei-me exatamente para o lugar em que minha melhor amiga se encontrava.

    – Manu... – chamei e ela ainda estava olhando para mim – Por favor, não saia mais de casa de pijama!

    E então ela sorriu, antes de concordar, me fazendo sentir que eu finalmente tinha terminado meu trabalho por ali. Era com aquele sorriso que estava sumido há dias que eu me despedia do Canadá e de tudo o que me remetia a ele. Era a minha forma de dizer adeus para todos aqueles meses de angústia. E no momento que eu voltei a caminhar para o meu embarque, eu soube que não importava o que pudesse vir à frente, eu iria continuar. Eu queria e iria começar tudo de novo!


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    Então, bbys, finalmente!
Depois de tanto tempo, Julianna ressuscita esse blog hahahahahaa
Desculpa, meus amores! É que eu realmente tive um problema sério em relação a computadores e lugares onde eu pudesse postar (tanto que acabei torrando todas as minhas economias para comprar esse novo, de onde eu escrevo agora, e não deixar os meus pedaços de nuvens sem fic, sem ib e tudo!). Então, eu espero que a demora tenha valido à pena. Mais tarde, tem capítulo 30 (que é bem curtinho na verdade).
Aproveitem (e lembrem-se de votar na enquete ao lado, é muito importante!)

Ah, lembrando que vou dedicar esse capítulo a uma das minhas melhores amigas, Gabriela Chianello (@gabi_portinho), e também a minha bocó mais linda, que era a TeamManu mais fervorosa antes do quarta temporada, Maria Moraes (@takey0uddl). É isso, bbys!

3 comentários:

  1. Ai ai Juli! Nem.sei o que dizer! Depois de quase uma temporada sem ler ymmly regularmente, aqui estou eu, comentando um capitulo no mesmo dia em que ele é postado! ♥
    Nao vou dizer continua logo porque ja sei que nao é simples assim, mas digo qie estou muito ansiosa pro proximo capitulo!
    #teamlucas forever mas... te amo, Manu! hahahaha
    beijinhos Juli! ♡

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  2. Capitulo perfeito. Precisava dele.
    Agora preciso ver o Lucas haha ♥

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  3. Ahh que capitulo perfeito cara! Já tava morrendo de saudades suas moça kk

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