16 maio 2014

5. You Make Me Love You - Capítulo 23

Embaçado

Música do capítulo: Give Me Love - Ed Sheeran
Belieber’s POV
    Já passava das sete da noite. Harry havia saído para pegar Louis e a namorada no aeroporto. Um gesto apenas simbólico, pois segundo os mesmos, eles preferiam ficar em um hotel para não atrapalhar a "privacidade do casal"  como se nós soubéssemos o significado de privacidade, tendo papparazzis do lado de fora da nossa casa e Justin Bieber dentro. Era como estar em uma prisão, mas eu fingia não me sentir tão desconfortável, apesar do aspecto claustrofóbico.

    Eu, aliás, estava deitada no chão do meu quarto, rodeada por infinitas almofadas, devorando balas de chocolate e hortelã, enquanto assistia televisão, esperando que Manuela entrasse no cômodo, como tínhamos combinado. Obviamente isso só iria acontecer na manhã seguinte, já que Ryan fizera o favor de ligar para ela bem quando eu estava precisando de companhia. Mas tudo bem, eu não iria bancar a amiga egoísta e possessiva.

    Eu não era tão solitária a esse ponto!

    Em uma forma de me distrair, peguei meu diário sobre a cabeceira da cama e comecei a rabiscar qualquer coisa sobre a última página. Eu sabia que aquilo não seria capaz de reter minha atenção, pois tudo que vinha na minha cabeça resumia-se apenas a um momento bem específico dos últimos dias. Um momento nem tão agradável assim, mas que, por algum motivo, não liberava meus pensamentos para algo mais agradável.

    “Eu não estou querendo parecer intrometido, mas eu acho que você deveria pensar melhor. Talvez adiar um pouco isso, você ainda é tão nova. Por acaso, lembra quantos anos você tem?”

    Sim, Justin, eu me lembro perfeitamente. Lembro tão bem que eu sei que provavelmente você não lembra.

    “Olha, é muito bacana da sua parte se importar, mas tem um problema... Eu não dou a mínima para o que você acha ou deixa de achar sobre o meu casamento ou sobre a minha vida.”

    É o meu casamento, é a minha vida. Eu não vou voltar atrás; eu não quero voltar atrás!

    A caneta em minha mão parecia ir muito bem em seu ofício e algo começava a ganhar forma sobre o papel. Era um desenho meio torto que deveria ser a face de um leão, mas lá para o meio do traço, uma linha desavisada escapou e eu comecei a escrever frases e trechos de músicas no rodapé. Deveriam ser apenas palavras soltas, mas não eram. Elas tinham algo além do usual, mas que chamavam atenção.

    "I even see you in my dreams
     Is it meant to be? Could this be happening to me?"

    "Baby, I hear melodies when your heart beats..."

    "Don't tell me you're my heartbreaker cause my heart is breaking."


   
Uma música mais idiota que a outra. Tenha dó!

    Eu estava prestes a riscar aquela baboseira, quando fiz a genialidade de começar a pensar sobre  sim, eu sou idiota. Era algo tão bobo apenas imaginar que Justin tinha algum efeito sobre mim, mas, no entanto, era o que eu estava supondo. Eu sabia que tinha conseguido ficar anos e anos sem ousar ouvir essas músicas decrépitas dele. Na verdade, eu não sentira sequer essa necessidade de ignorar tudo relacionado a ele, eu ignorava com naturalidade como se ele fosse apenas um capítulo minúsculo do meu livro felizmente enorme.

    Só que, pensando nas suas palavras em relação ao meu casamento – que pareciam se adequar ao pensamento de muitos que observavam o momento de fora , eu não podia simplesmente continuar fingindo que ele não existia. 

    Na verdade, nos últimos dias, a voz dele vem me perseguindo como um serial killer obcecado por sua próxima vítima. Às vezes, chego a pensar que estou desenvolvendo algum tipo sério de esquizofrenia ou algo parecido, porque eu posso escutá-lo a cada pausa da minha respiração, a cada vez que meus olhos piscam, a cada mísero momento em que eu exerço meu direito de existir. É como se ele estivesse entrando em minha casa, meu quarto, minhas coisas, meu corpo, minha mente...

    A porta do quarto se abriu devagar.

     Hã... Oi! Eu bati na porta, mas como você não disse nada, eu achei que sequer estivesse aqui. Desculpe-me! Atrapalho?

    Quem mais poderia ser?

    Eu poderia ser sincera e dizer a verdade, que eu estava, de fato, muito ocupada e, sendo assim, sua presença estaria me atrapalhando, mas era óbvio que eu não faria isso. Eu não era esperta o bastante para afastar pensamentos indesejáveis da minha cabeça ao mesmo tempo em que deveria dar uma resposta decente. Foi por esse motivo que deixei escapar um...

     Não, não atrapalha! Pode entrar, Justin!

    Seguindo as minhas instruções, ele adentrou o quarto, fechando a porta logo atrás de si. Ironicamente senti um arrepio me descer pela espinha. Eu odiava a ideia de ter que ficar sozinha com ele, sem testemunhas, num ambiente fechado onde não dava para ouvir meus gritos. Ah, meu Deus, por que ele sente a necessidade de andar em minha direção? Quero dizer... Nós poderíamos apenas ter uma conversa a distância, a uns dez quilômetros, não?

     Hã... Você pode se sentar, se quiser.  falei, educada, quando Justin finalmente chegou até mim e ficou me encarando de pé.
     Obrigado!

    Ele não pareceu tão confortável assim com a minha boa educação, pois fitou o chão disfarçadamente com uma expressão reprimida de desgosto que mais parecia que eu o tinha convidado a se sentar no corpo de um morto. Talvez Justin estivesse esperando que eu estendesse um tapete vermelho para a sua chegada e lhe desse um trono para se acomodar. Engraçado é que não havia qualquer razão para que ele pensasse dessa maneira, levando em consideração os últimos dias.

     Eu precisava falar com você!  começou ele, acomodando-se sobre uma das almofadas.  Está tudo bem? 
     Na medida do possível, sim. E com você?  tentei ligar o modo automático e apenas ser cordialmente educada, sem precisar pensar muito; eu sempre me enrolava por pensar demais.
     É, eu acho que sim. 

     Justin suspirou e se calou, fitando o chão como se nem fosse ele quem tivesse vindo puxar assunto comigo. Obviamente era uma tentativa de me confundir, como ele costumava fazer. Eu só não entendia o porquê; a única coisa da qual eu tinha certeza era que esse silêncio era cortante, como milhares de pedacinhos de vidro entrando em meu corpo. Era desconfortável e impróprio. Se uma pessoa vai me procurar para ficar calada, então, não me procure. Eu gosto do meu silêncio, mas não gosto de ter que reparti-lo com outra pessoa  uma em especial.

     (Seu nome)...

    Assustei-me quando ele voltou a chamar meu nome com tanta veemência, voltando-se para mim, como se tivesse muita urgência em se livrar de seus pensamentos. Mas, então, quando eu me virei para ele, ainda chocada, o mesmo se calou. Por um instante inteiro, meus olhos se encontraram com os deles e eu senti mais uma vez toda a pressão de ter aqueles olhar estupidamente envolvente sobre mim. Como podia ser tão quente? Como podia fazer com que eu me sentisse tão boba?

    Justin desviou o olhar mais rápido do que eu fora capaz e olhou para as próprias mãos, onde enlaçava os dedos devagar. Esse garoto ainda iria acabar de me deixando louca, porque eu simplesmente não conseguia identificar a intenção por trás de suas ações malucas. Eu só queria, por um período mesmo que curto, ter a certeza de que havia um propósito decente por trás de toda aquela sua estranheza.

      (Seu nome)...  ele retomou a palavra, de forma mais contida  Eu não aguento mais ficar nesse clima ruim com você. A gente só briga e fica irritado um com o outro o tempo todo e, bom, eu estou sobre o teto da sua casa, não deveria ficar cultivando esse tipo de relação. Eu não quero mais te deixar chateada, eu quero que isso, nós dois, dê certo!

    "Nós dois". Devo rir?

     É, eu concordo com você!  as palavras dele me chamaram atenção suficiente para que eu me forçasse a refletir um pouco, antes de me pronunciar sobre  Eu também não gosto de ficar brigando com as pessoas e eu realmente apoio o que você falou, mas isso não me dá garantia de que vai dar certo. O que nós podemos fazer em relação a isso?
     Eu não sei, mas estou aberto a sugestões. Há algo que eu faça que te desagrade de alguma forma?

    Respirar.

     Bom... Para ser sincera com você, há uma coisa, sim.  só uma?  Eu não gosto que você invada a minha privacidade, Justin. Você está aqui e isso é realmente muito legal, você é uma boa pessoa, mas essa ainda é a minha casa, então, eu preciso ter certeza de que eu vou ter o meu espaço!

     Me senti ligeiramente orgulhosa de mim ao reduzir todos os detalhes de Justin que me irritavam a apenas um e, mais ainda, ao conseguir traduzi-lo de forma tão singela e contida, quando a minha real vontade era de berrar para que ele me esquecesse, me deixasse sozinha e sumisse da minha vida.

      Tudo bem, eu peço desculpas se em algum momento eu pareci invasivo, mas...

    "Em algum momento"? Que tal todos?

     Realmente não era a minha intenção, (Seu nome)!  Justin fez um biquinho, parecendo pensativo  A única coisa que eu estou tentando fazer durante esse tempo todo é me aproximar de você. Eu só quero conhecer você de verdade, não dessa forma superficial, será que eu não posso?
     Não, não pode!  o meu lado impulsivo falou mais alto.
     Por que não?  alguns tons de indignação tingiram sua voz.

    Porque você jogou fora todas as chances que eu te dei de me conhecer mais uma vez. Agora eu conheço a mim mesma e isso basta completamente.

    Fechei a cara de frustração, encarando o vazio. Eu odiava saber que não era determinada o bastante para destilar o pouco de veneno que me restava e cutucar aquela ferida. Aliás, era justamente por isso que eu não tinha coragem, porque a ferida era exclusivamente minha. Era algo que havia me machucado, enquanto Justin sequer tinha ciência disso. Então, por que eu deveria humilhar a mim mesma, fazendo parecer que eu me importava?

     Você está chateada?  Justin pareceu receoso ao notar que eu não responderia.
     Não.

    E retornamos ao silêncio.

    Não me dei ao trabalho de virar-me para ele para responder, apenas permaneci com meus pensamentos embaralhados. Era quase como se Justin não estivesse ali, mas estava. As células do meu corpo ainda estavam em estado de alerta, o que, como era usual, denunciava sua presença, sua proximidade.

     Então...  havíamos chegado ao estágio em que ele começava a puxar assuntos aleatoriamente  O que é isso?

    Justin aproximou-se lentamente de mim, esticando o pescoço para visualizar o caderno ainda aberto em meu colo. O caderno todo decorado e rabiscado. Minha pequena bagunça particular.

    Recuei imediatamente, levantando-me e fechando o objeto em minhas mãos em um único segundo. Com passos duros, me afastei de Justin, chegando próxima à mesa de cabeceira, na qual eu sempre guardava o dito caderno. Eu estava me sentindo meio nervosa por ter meu espaço mais íntimo invadida assim  e, mais do que isso, pela pergunta ter sido feita justamente por aquele que tinha algumas quotes rabiscada naquelas páginas  por isso acabei levando um tempo bem mais do que necessário nessas ações.

     Nada. Absolutamente nada!  respondi, áspera.
     É tipo um diário?  insistiu, totalmente alheio ao fato de que ele já me incomodara uma vez, sendo contrário a algo que havíamos acabado de combinar.
     Justin, será que você não consegue entender que isso não é da sua conta?  berrei, já completamente impaciente e alterada  Isso daqui não é nada que possa vir a te interessar, ok?
     Ah, e agora você também vai negar que está irritada?  pressionou, levantando-se com a mesma vivacidade com a que eu fizera.

    Respirei fundo e contei até dez, tentando ignorar toda a explosão de fúria que se expandia dentro de mim, mas, sinceramente, parecia impossível. Eu já quase conseguia sentir a sensação de ter minhas mãos socando seu lindo rosto até que ele ficasse completamente amassado e a boca incapaz de sair por aí, falando asneiras. Embora eu não costumasse ser tão obsessivamente violenta, não havia nada além disso quando se tratava de Justin. Ele era insuportável. Eu já tinha aceitado isso!

     Claro que vou negar, porque eu não estou nem um pouco irritada, ok?  continuei, exaltando-me  Você está vendo alguém irritada aqui, por acaso? Porque, sinto muito, eu não vejo ninguém!
     Realmente, não há ninguém irritada aqui.  constatou, caminhando em minha direção  Você não está irritada, está furiosa, sem causa aparente e, me desculpa, mas só sendo completamente cega para não enxergar isso.
     Eu não estou irritada!  insisti, fazendo uma longa pausa entre cada palavra.
     É claro que você está, (Seu nome).
     Eu não estou.
     Está sim!
     Justin, será que você pode me deixar em paz? Pelo menos um segundo na sua vida, quer parar de fingir que saber de tudo? Porque, olha, você não sabe!  eu estava quase entrando em erupção, mas aquela ainda era a minha forma contida  Você não consegue dizer se as pessoas estão irritadas ou não, chateadas ou não, drogadas ou não. E sabe por quê? Por que não é algo que lhe diz respeito. Então, o universo agradeceria se você parasse de meter esse seu nariz na vida dos outros. Isso sufoca as pessoas!

    Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego que eu havia mandado para o espaço com o meu momento de explosão. Ao fazê-lo, notei que Justin me encarava de uma forma incrédula e quase divertida, como se tudo o que eu havia dito fosse uma enorme piada, o que apenas serviu para me deixar com ainda mais nojo da sua presença naquele cômodo. Porém havia mais. Seus olhos também traziam alguns traços de impaciência, como se minha teimosia não fosse tão fácil de lidar. Quanto a isso, eu só podia lamentar, porque eu não ia mesmo admitir que estava irritada.

    Eu não estava irritada!

    Eu apenas queria aproveitar aquela proximidade absurda em que Justin se encontrava de mim e fazer com que a minha mão estapeasse aquele rosto algumas centenas de milhares de vezes, até que ele saísse correndo até o Canadá e ficasse por lá. Mas isso não é estar irritada!

     Sabe o que sufoca as pessoas, (Seu nome)? Essa sua teimosia ridícula, esse seu jeito infantil de não conseguir admitir nada, de bater o pé e ficar emburrada quando você não está certa!  Justin me assustou um pouco ao parecer se impor finalmente e me confrontar  Eu não sei se você é sonsa ou se você é maluca assim mesmo, mas você mente para todo mundo e acredita na mentira que você está dizendo. (Seu nome), claramente, você está irritada comigo e quer saber? Eu já desisti de entender o porquê. 
    E faz muito bem, considerando que eu não estou irritada.  abaixei o tom de voz, por fim.
    Ah, é? E que tal eu te provar o contrário? 
    Eu adoraria te ver ten... 

    Antes que eu pudesse terminar minha frase intimidadora, Justin me puxou para perto e pôs seus lábios nos meus. Urgentemente, ele me arrancou um beijo e, por mais que os músculos do meu corpo tentassem resistir a isso, essa tentativa não durou mais do que dois segundos, porque foi exatamente esse o tempo necessário para que eu perdesse o controle. Eu podia sentir, distintamente, o sangue correndo por todas as minhas veias mais veloz do que eu achava ser capaz e, ainda assim, não conseguia fazer nada.

    Enquanto as mãos de Justin se apertavam em minha cintura e meus braços permaneciam duros em seu peitoral, aquele beijo meio inesperado ia tomando proporções bem maiores. Era rápido, quente, feroz e, acima de tudo, com vontade, como se nós dois tivéssemos tentando suprir anos sem um mínimo contato físico, como se isso tivesse feito uma falta enorme em nossas vidas.

    Mas não. Eu não sentia saudades disso. Saudades dele. Saudades do passado. Não! Aquilo não me fazia falta...

    Eu estava tentando organizar os pensamentos dentro da minha cabeça para conseguir acabar com aquilo, mas nada era claro; parecia que havia um nó dentro de mim e eu não conseguia desatar, não enquanto estava ali. Porém, felizmente, alguns poucos segundos depois, esse fluxo embaralhado foi desacelerando e eu fiquei feliz por estar assumindo o controle novamente. Só que era só uma ilusão.

     E agora?  Justin se afastara milimetricamente de mim, fazendo com que seus lábios apenas tangenciassem os meus  Já está irritada?

    Pensei em como a sensação de ter seus lábios só próximos aos meus fazia com que meu interior ardesse e como seu hálito quase era capaz de gelar a minha alma. Mas, em contrapartida, pensei também em todas as coisas que eu poderia lhe dizer naquele momento  naquele momento em que eu sequer abrira os olhos para encarar a realidade de estar diante dele  e nenhuma delas seriam boas, apenas ásperas e grossas. Só que, ainda assim, eu não fiz nada. Ou melhor, fiz...

    O beijo que se seguiu, um segundo depois, não foi nem de longe forçado e eu nem poderia fingir que sim.

    Levando minhas mãos até sua nuca e deslizando meus dedos por seu cabelo, eu deixei que Justin suprisse qualquer micro espaço que ainda pudesse existir entre nós e engatasse um beijo ainda melhor que o primeiro – ou, pelo menos, era o que eu esperava. Mas quando seu toque tornou-se suave em meu corpo; quando sua língua estava em perfeita sincronia com a minha; quando sua boca ficou mais doce do que a minha sobremesa preferida; quando seu perfume fez com que eu quisesse ficar em seus braços por um tempo indeterminado, foi quando eu notei que as coisas estavam fugindo do que poderia ser aceitável. Foi o momento em que eu notei em que era bem melhor do que eu pensava.

    E, ao mesmo tempo, pior também.

    Enquanto tudo aquilo ia acontecendo externamente, eu não conseguia ignorar as reações que aconteciam de forma interna. Não conseguia ignorar, mas também não conseguia entender. Não havia motivo para meu coração estar inchando ao mesmo tempo em que algo o massacrava de forma cruel e impiedosa. Era uma mistura de bom e mau, de frio e quente, de claro e escuro. Era uma confusão que doía, mas não que me fazia querer parar.

    Eu estava tentando controlar tudo isso dentro de mim, mas era pedir demais para mim e eu não consegui impedir que extrapolasse um pouco. Tornando o momento mais molhado do que o necessário, uma, duas ou muitas lágrimas começaram a deslizar devagar pelo meu rosto, encerrando e salgando o doce da sensação de beijar aquele homem misturada à consciência de ser tão errado.

    Como dizem, há males que vem para bem!

     (Seu nome)...  foi a primeira palavra dita por ele, após finalmente colocarmos um ponto final naquilo  (Seu nome), o que foi?

    Eu ainda não tinha criado coragem para abrir os olhos e encarar aquela linda criatura, mas, quando o fiz, me arrependi amargamente. Justin me fitava com uma expressão de preocupação tão grande, que eu não consegui  nem mesmo me esforçando ao máximo  sentir raiva dele. Nem por um milésimo de segundo. Nada. Eu apenas senti raiva de mim, por não conseguir sentir nada que fosse possível definir.

     Justin, eu...  minhas palavras eram atropeladas por soluços de um choro que eu já não conseguia conter.

    Meus esforços para terminar uma única sentença inteligível em meio ao meu prato patético foram inúteis, porque, em um instante, minha preocupação tornou-se outra. Desviando sua atenção de mim, Justin gemeu baixinho, levando sua mão até a lateral da testa e correndo para se sentar na cama. Quase me engasguei na tentativa de tentar segurar o choro, mas não importava. Aliás, naquele momento, nada importava, além da reação estranha de Justin a algo que eu não entendia.

     Hã... Está tudo bem?  indaguei, sentando-me próxima demais dele, involuntariamente.
     Não.  ele miou, como uma criança agonizando  Minha cabeça... Está...
     Calma, calma! Eu estou aqui...

    Eu não sabia se estava sofrendo de algum distúrbio emocional sério ou algo do tipo, mas meus sentimentos furiosos de minutos atrás pareciam um enorme vazio na situação em que eu estava. Assim, eu não consegui fazer outra coisa, se não abraçar Justin, fazendo com que ele repousasse a cabeça em meu ombro. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas ele realmente parecia transtornado, o que fez com que eu não hesitasse em deslizar meus dedos por seu cabelo, na tentativa de fazê-lo relaxar.

    A respiração dele estava irregular e ele, talvez sem perceber, apertava fortemente meu braço com uma das mãos. Não tive coragem de reclamar, apenas continuei em silêncio, com a certeza de que se voltasse a abrir a boca, todas as lágrimas voltariam, me fazendo ficar mais uma vez em uma situação embaraçosa. Eu dispensava isso.

    Passaram-se apenas alguns minutos, até as coisas voltarem a ficar estranhas novamente. Eu já estava totalmente distraída apenas reparando que a respiração dele voltara a ficar normal, quando senti Justin inspirar fortemente o meu perfume  embora eu não usasse nenhum  e, antes que eu pudesse dizer algo, ele apenas se afastou de mim. Sua expressão não demonstrava muito clareza, o que me fez hesitar em perguntar.

    Após respirar profundamente, Justin voltou a me fitar com uma expressão incrédula, me fazendo ficar dividida entre achar tudo muito estranho e tentar buscar explicações ou me perguntar internamente porque os olhos dele me faziam ter a sensação de que ele podia ler todos os meus pensamentos com a maior facilidade do mundo.

     É você... Em um vestido vermelho!  sussurrou, quase como se estivesse contando um segredo  Eu sei que sim. Não é só minha imaginação!
     O quê? Do que você está falando?  perguntei, duvidando de suas capacidades mentais.
     Eu me lembro...

    Gelei. Será possível continuar vivendo quando seu coração simplesmente para de bombear sangue para o resto do corpo e o cérebro não consegue comandar nem esta, nem qualquer outra ação teoricamente simples?

     Sobre o quê?
     Eu... Eu não sei bem, mas era Natal. Você estava com um vestido vermelho e... Você estava linda.  ele suspirou, antes de parecer se esforçar ainda mais para captar algo em sua mente  Eu... Acho que te dei alguma coisa, mas eu não... Por que você não me ajuda com o resto? Quero dizer, isso quer dizer alguma coisa, não é?

    “Eu tenho que ser legal e fingir que não sei que você planejou isso?”, perguntei, sorrindo.
    “Eu? Planejar uma coisa dessas? Eu nunca faria isso. É só coincidência que esse visco esteja aqui, sendo que fui que ajudei com a decoração externa. E, coincidentemente, eu fiz você vim até aqui agora...”, disse Justin, dissimulando uma expressão de surpresa. “Bom, você sabe o que deve acontecer agora, não é?”
    “Sei... Mas você sabe que não costumamos fazer muito isso no Brasil, não é?”, argumentei, enquanto me espremia contra a árvore.
    “Nós não estamos no Brasil...”, ele sussurrou.

    Justin mantinha sua mão acariciando meu rosto, enquanto levava a outra até a minha cintura. Eu estava bem mais nervosa do que o normal. O beijo embaixo do visco era uma tradição – acho – e eu não sabia se era durona o suficiente para quebrar tradições.

    “Me avise se quiser que eu pare...”

    Engole o choro, (Seu nome)! Engole o choro, agora!

     Não... Isso não... Não significa nada para mim! Me desculpa, Justin!
     Você tem certeza?  perguntou, cheio de falsas esperanças.
     Claro!  menti, com a cara mais lavada do mundo  E, eu sinto muito, mas eu realmente estou precisando ficar sozinha agora, se você não se importar...

    Eu mal tinha acabado de falar, mas já havia me levantado e puxava delicadamente Justin para que ele fizesse o mesmo. Aproveitando que seu momento de tensão já havia acabado e ele parecia inteiramente contido, tentei me desfazer da minha preocupação, do meu lado cuidadoso e principalmente da culpa que parecia manchar cada milímetro da minha reduzida dignidade, expulsando-o do meu quarto da melhor forma possível.

     Espera! Mas eu...  ele tentou falar, enquanto nos aproximávamos da porta.
     Justin, não!  falei, em um claro tom de súplica  Não é o momento. Está tarde, eu preciso dormir e acho que você também. Nós conversamos amanhã, tudo bem?

    Ele não se opôs ao meu pedido, talvez percebendo que eu realmente não estava mais para ter qualquer tipo de conversa naquela noite. Porém, quando já estava começando a ficar contente por ter conseguido resolver pelo menos essa etapa, Justin parou diante de mim, com a porta já aberta. Ele não precisou dizer muito, mas o modo como seus olhos se fixavam nos meus já falava por si só. Eles imploravam desesperadamente a verdade.

    Mas o que era a verdade? Além disso, àquela altura do campeonato, o que importaria?

     Por favor...  miei, implorando para que ele parasse.

    Justin suspirou, por fim, admitindo que estava encerrando por ora. Assim, ele tocou a maçaneta já se preparando para sair e fechar a porta atrás de si, mas não sem antes repousar seus lábios suavemente sobre minha bochecha, voltando a fazer o meu rosto arder de forma imperceptível. E, então, finalmente, fiquei sozinha.

    E eu esperei.

    Um minuto. Dois. Era mais do que eu podia aguentar.

    Devagar, sentei no chão, encostada a porta e desabei. Mordendo meu próprio braço, tentando permanecer silenciosa, chorei como não fazia há anos e, a cada mísera lágrima, uma dor estonteante se agravava, como se meu coração estivesse desidratando de forma gradativa e insuportável. Eu tentei buscar em meus pensamentos alguma palavra que pudesse traduzir aquilo, mas, nada na minha vida, tivera aquela intensidade até então.

    Pedi internamente mil vezes para que aquilo parasse, para que as lágrimas secassem, para que acabasse as pilhas do meu coração e eu simplesmente não precisasse sentir mais nada, mas foi inútil, porque o cheiro do Justin ainda estava em mim, massacrando qualquer vestígio de sanidade que ainda podia me restar. E, apesar disso, eu só não conseguia entender o motivo daquela auto-tortura, se aquele momento não tinha significado nada...

    Não podia significar mais nada. Não importava o que ele fizesse, não importava o que ele lembrasse, não importava o meu vestido vermelho, o ursinho de pelúcia ou o beijo embaixo do visco. Não mudaria nada!

----------------------------------------------------------------------------------------------------------
-
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Então, é isso, minhas gatas!
Por hoje, é só! Eu não tenho muitas observações a fazer, mas espero que vocês gostem desse capítulo, embora ele pareça meio desleixado, meio desconexo, meio sei lá hahahahaha Muitas críticas, embora eu pretendia que fosse para lacrar. Bom, deixa para uma próxima vez.
Eu não tenho muito tempo agora, lindas, mas eu queria agradecer a todas vocês que não abandonaram o blog, quando eu fiquei meio ausente (realmente, meninas, é muita coisa para eu dar conta!); agradecer aquelas que amavelmente pediam por mais capítulos; e, principalmente, agradecer a todas vocês que acessaram o blog nesse meio tempo, ver o gráfico de visualizações crescendo, apesar de tudo, me incentivou muito mais a correr para cá o mais rápido possível, assim que tivesse tempo. Sério, muito obrigada por tudo!

 Lindas, por hoje, eu fico por aqui, porque, como eu disse, estou apressada. Ao longo da semana, pretendo postar mais regularmente e atualizar vocês sobre o que anda acontecendo comigo ultimamente e o motivo específico por trás da demora. Mas até lá, fique bem!
   Eu amo vocês e espero que gostem! (:

3 comentários:

  1. OMG!!! PERFEITOOO..... Se eu chorei?? chooorei mttt, dale Justeeen!!! Juu eu amei d+, ta mt maravilhosa, continua logo pq to ansiosa, sera que vai ter casamento?? huashahuashuhuash Ta mt bom mesmo Ju parabens..... Entendo seus problemas mas plmds continua, obg.... Beijuuuus <3 <3 <3

    ResponderExcluir
  2. divulga meu blog por favor!!!
    http://imaginebelieberpo.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Aiai, aquele beijo debaixo do visco foi mais que especial... Mas eu estou sem palavras pra falar sobre o de "hoje"! Depois de tanto tempo, senti falta dessa descrição detalhada! Rsrs
    Difícil lidar com tantos sentimentos, mas esse por Justin, em especial, faz eu querer ler mil capítulos de vez!
    Perfeito, como sempre ♥

    ResponderExcluir